Desde já e para que não fiquem dúvidas, confesso que considero a política uma atividade nobre, daquelas em que uma pessoa se dá aos outros, mas quando é exercida como um serviço em prol do bem da comunidade, pondo sempre o interesse comum acima dos interesses pessoais e até dos partidos. No entanto, sendo a política uma missão tão dura e exigente, quase um verdadeiro sacerdócio, quando observo a corrida muito interessada de tantas pessoas aos cargos políticos, sinceramente, desconfio e não acredito que a maior parte o faça por amor à causa pública e, muito menos, ao serviço do bem comum. Será mesmo caso para perguntar quais os interesses, que incompetências, que privilégios, que vantagens, que compadrios, que benefícios, que benesses, subvenções ou vaidades põe essa gente a correr tanto! Tive a resposta de um homem que já passou pela “jota” de um partido. Disse-me ele, sem papas na língua, que quando estava na faculdade foi assediado no sentido de se filiar num partido e, como não estava para aí virado respondeu negativamente, tendo ouvido o que não esperaria da boca do “angariador”: “Não sejas estúpido e se queres ter o futuro garantido, inscreve-te, pois podes ter a certeza de que terás emprego e ajudas que não terás de outra forma”. Com tal “empurrão”, e como não era estúpido, tornou-se militante da “juventude” desse partido e os resultados que os “angariadores” lhe “venderam”, recebeu-os em dobro. Hoje, afastado da política, confessa ter sido esta o “trampolim” certo para alcançar a excelente posição que tem na vida. E que é ali na faculdade que os partidos procuram “arregimentar” militantes com promessas de acessos privilegiados e uma carreira na política, dita “ao serviço da causa pública” … Hoje os profissionais da política são normalmente oriundos das jotas partidárias, pessoas que abandonaram (ou não conseguiram, sequer, começar a exercer) outras atividades. Raramente chegaram a ter uma profissão em que se realizassem enquanto cidadãos e muitos só têm emprego quando o partido está no poder. Alguns até abandonaram (ou não conseguiram concluir) a formação académica para abraçar a profissão de político. Ao que parece, há mesmo quem não esconda a aversão a qualquer forma de trabalho. Esta realidade gera o chamado “carreirismo político”, uma situação em que o objetivo principal do envolvido é a defesa do seu interesse pessoal de chegar o mais longe e mais alto possível. O que verdadeiramente lhe interessa é a carreira profissional. Mal começa a dar os primeiros passos na “arte”, rápido aprende todas as técnicas de um bom “alpinista da política” e, veja-se, do sucesso: trepar por cima dos outros, intrigas, assaltos ao poder, cotoveladas, jogos de bastidores, traições, conspirações, etc,. Na hora própria, não há amigos ou só os de conveniência. E quando chegam a adultos não sabem fazer mais nada, porque, na verdade, nunca foram nem fizeram outra coisa. Alguns até se gabam de terem começado na escola secundária, como se isso lhes confira algum atributo especial para o seu currículo ou vantagem competitiva. Na prática, muitos são os que nunca aprenderam verdadeiramente a “trabalhar”. Hoje, um dos grandes problemas da vida política portuguesa é o peso que nela têm esses carreiristas, pois secundarizam os interesses da comunidade e dos cidadãos, que dizem representar, em benefício dos próprios interesses e/ou dos partidos onde se abrigaram. Por isso, nas campanhas eleitorais prometem tudo e mais alguma coisa, mas depois de eleitos, depressa esquecem o compromisso com quem os elegeu de tão preocupados que estão a defender os seus interesses, a começar pelo “tacho” que não põem em causa por nada nem sequer por ninguém, e a servir não o povo, mas o partido a quem devem obediência, pois que, caso contrário, não voltarão a ser candidatos (e lá se iria a carreira política por água abaixo). É que o partido está acima da freguesia, do concelho e até do país. E basta olhar para este governo e perceber a quantidade de carreiristas sem competência a quem o país está entregue. A fatura paga-a o povo. Deus nos valha … Todos somos animais políticos e, consequentemente, responsáveis pela condução da coisa pública. E, em democracia, a responsabilidade é ainda maior. Tem razão o Papa Francisco em tudo aquilo que disse sobre isso. Embora se tenha referido só aos cristãos, o conselho serve perfeitamente para toda a gente, a começar pelos “aproveitadores”: “Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão. Enquanto cristãos, não podemos lavar as mãos como Pilatos. Temos obrigação de nos envolver na política, porque a política é uma das formas mais altas da caridade, dado que procura o bem comum. Os leigos cristãos devem trabalhar na política. É certo, a política está muito suja, mas eu pergunto: “Está suja porquê?” Porque os cristãos não se meteram nela com espírito evangélico? É uma pergunta que eu faço. É fácil dizer que a culpa é dos outros… Mas o que é que eu faço? Isto é um dever! Trabalhar para o bem comum é um dever para um cristão.” O conceituado político e diplomata americano Henry Kissinger dizia que “noventa por cento dos políticos dão aos dez por cento restantes uma péssima reputação”. Será que esta afirmação se ajusta à nossa realidade ou peca por defeito ou por excesso? É um facto que a classe política em Portugal não tem feito grande coisa pela sua reputação e o seu bom nome, pois basta-nos tudo o que temos visto e ouvido nos últimos tempos com os inúmeros exemplos de como não deveria ser um político, para perceber e ficar consciente que a sua credibilidade anda “pelas ruas da amargura”, o que os descredibiliza e faz com que as pessoas deixem de acreditar na política partidária e nos políticos. E além disso, por não sofrerem consequências pelos seus atos indignos, o que afasta os melhores para desempenhar cargos de poder e atrai os pilantras e golpistas.
Enfim, estamos num país sem rumo, onde a ética é uma miragem, a corrupção uma instituição, o esquecimento um mal crónico de muitos governantes que nunca se lembram nada de nada, a honestidade uma coisa do passado, em que a competência e mérito são ignorados para dar lugar aos carreiristas da política e aos “boys”, a coladores de cartazes e caciques. Além disso, os partidos políticos, como detentores quase em exclusivo dos acessos ao poder e, consequentemente, aos “tachos”, não se inibem de os usar para premiar a militância dos seus “fregueses”, sem que importe para nada a competência para servir o país e os portugueses.
E o drama é que vivemos acomodados e felizes a contar o pequeno subsídio que os políticos fazem questão de nos fazer crer que é uma cedência pessoal (pois só falta ser entregue em mão para se ter a certeza de quem é o benemérito), sem ver que antes já nos tinham ido ao bolso por via dos impostos, “sacar” muito mais …