Gosto muito de viajar e tenho de dar graças a Deus por todas aquelas viagens que me permitiu fazer e de que guardo boas recordações, muitas delas com a família toda ou só com os filhos quando a Luísa não estava disposta a fazer-nos companhia. Também fiz numerosas viagens com amigos, muitas por via da minha ligação ao desporto automóvel e à sua vertente internacional e, noutras, levado quase à força por amigos que me querem bem. Mas ficaram tantas outras por realizar e que gostaria muito de fazer? Claro que sim, pois a partir do momento em que a Luísa adoeceu, fiquei condicionado como bem se compreende. Mas não me lamento por isso pois, como costumo dizer, “tenho de dar graças a Deus pelo que tenho em vez de me lamentar pelo que não tenho”. Na vida, nunca teremos, nem devemos, ter tudo o que desejamos, até por uma questão de nos fazer descer à terra, dar valor a tudo o que dela recebemos e nos tornar mais humildes.
Para mim, viajar é conhecer e confrontarmo-nos com outras culturas, outros saberes, paisagens, gentes e realidades diferentes, que nos faz alargar horizontes, valorizar o muito que temos e de que estamos (quase) sempre a reclamar e poder ver e aprender outras coisas que são melhores do que aquilo que temos. A minha preferência vai para as viagens sem programa, sem horários, muito mais ao encontro e à descoberta da natureza do que propriamente a visitar monumentos ou grandes cidades só porque sim, com destino que poderá mudar ao longo da estrada embora na maior parte das viagens em família tive de me “sujeitar” à decisão de quem tinha “a última palavra a dizer”, por questões de mais comodidade e menos risco.
E lembrei-me desta coisa de “andar com a mochila às costas” porque, por acaso, dei comigo a rever as fotografias de uma viagem ao Brasil há seis anos atrás, num autêntico “mergulho” ao que aquele país tem de melhor para se visitar: a natureza. “Assediados” por uma família de brasileiros de quem somos amigos e que insistiam para irmos até lá, juntei-me à Teresa e ao Agostinho para viajar ao seu encontro em Maringá e com eles continuar a viagem à descoberta do Brasil. E o sô Marcílio, a esposa, a Luciana e o Daniel lá estavam para nos receber de braços abertos e fazer sentir que estávamos em casa.
No dia seguinte rumamos ao Pantanal, que só é a maior área alagada do planeta, em pleno Mato Grosso, para ficar alojados no Refúgio da Ilha, que não é propriamente uma pousada, mas uma fazenda que recebe pessoas de todo o mundo. Situado no delta do Salobra, é um lugar para curtir a natureza, relaxar e valorizar cada minuto. O local onde fica o Refúgio é perfeito. Uma ilha circundada por um rio de água cristalina onde se pode mergulhar. A diversidade das espécies é enorme. A fauna e flora dessa região pantanosa, é protegida, cuidada e celebrada pela família Copetti com uma visão ecológica perfeita. Um lugar magnífico onde tudo foi pensado ao pormenor, pelos homens e pela natureza. Como que a receber-nos, um papa-formigas especial surgiu no mato. Por ali andavam capivaras, jaguatiricas, tamanderás, ariranhas, araras de todos os tipos, papagaios e outras espécies. Os jacarés são imensos na região e nas lagoas junto ao Refúgio, até onde rastejam. E há a onça que fotografamos de perto dentro do rio à caça de jacarés. Uma experiência incrível num lugar e numa região a não perder. Efetivamente aquele refúgio é um local paradisíaco, uma maravilha para os amantes da natureza, uma terapia para desligar deste mundo agitado pela tranquilidade e paz que transmite.
Depois de nos despedirmos a contragosto do Pantanal, rumamos a sul para visitar a enorme Central Hidroelétrica de Itaipu junto do ponto onde confluem as fronteiras do Brasil, Argentina e Paraguai, tendo observado o fenómeno dos “sem terra” acampados junto à berma das estradas em preparação para invadir fazendas, conquistar terreno, roubar gado para comer. E fomos até à Foz do Iguaçu onde nos hospedamos, para visitar no dia seguinte as famosas Cataratas do Iguaçu, divididas entre a Argentina e o Brasil e integradas em dois parques enormes, um em cada país. Estas Cataratas são uma das maiores cachoeiras do mundo, com uma extensão de 2,7 quilómetros de comprimento, mais de 80 m de altura e com um conjunto de 275 quedas de água. A partir da entrada do parque, essa espantosa mancha verde de floresta subtropical considerada Património da humanidade, fomos transportados de autocarro até ao início das Cataratas. Seguiu-se uma longa caminhada pelo Trilho das Cataratas através da mata atlântica, à descoberta de cada queda de água, tendo sido confrontados com uma sucessão enorme que nos deixou cada vez mais encantados com o espetáculo maravilhoso das quedas e a sua dimensão impressionante, até à passarela em frente da Garganta do Diabo, a queda com maior fluxo destas Cataratas. Nesse trajeto, bordejando as Cataratas, existem uns quantos mirantes de onde se podem colher imagens espetaculares pois todas as quedas são muito fotogénicas. O passeio de bote Macuco Safari é o complemento ideal para os visitantes mais radicais, numa viagem pelo leito do rio Iguaçu até bem perto das quedas dos Três Mosqueteiros, dando para optar entre “com banho” ou “sem banho” e o mesmo é dizer com ou sem emoção.
Como complemento da visita às Cataratas, também pudemos usufruir do enorme Parque das Aves, uma visita obrigatória para quem gosta destas coisas. É um parque temático com cerca de 1500 animais de 140 espécies diferentes entre aves, repteis e mamíferos. Está focado na conservação das aves lindas e exuberantes da Mata Atlântica. Um parque excelente, com muita vegetação e viveiros enormes onde se pode entrar, fotografar e conviver de muito perto com uma enorme variedade de aves exóticas, coloridas, bem-adaptadas e até mesmo à solta.
Para mim que nasci e cresci a conviver com outras, foi mais uma excelente experiência até pela beleza irreal de algumas delas como os tucanos, araras, papagaios, periquitos e flamingos, para além de muitas outras de que nem sequer sei o nome, mas são parte desse mosaico multicolor. Tivemos ainda tempo para ir jantar à Argentina e visitar um centro comercial numa pequena cidade da Bolívia, além de comer uma piza portuguesa com bacalhau na Foz do Iguaçu.
Desta viagem ao Brasil, para além da excelente disposição do grupo de amigos de que fiz parte, ficou-me o enorme “banho de natureza” preservada no seu melhor, de uma beleza tal que nos enche a alma. E ficou-me a vontade de um dia poder repetir essa jornada …