Num domingo de manhã eu e o Jaime Moura saímos de Lousada em direção ao Autódromo de Braga para darmos a nossa colaboração nas corridas do fim de semana enquanto credenciados como comissários desportivos pela FPAK. Quando entrei no Lancia com ele ao volante, a chuva caía torrencialmente e fomos diretamente para Paredes onde entramos na autoestrada rumo à A3. A chuva continuava e, a meio da primeira subida, vimo-nos de repente no meio de um mar de água que ia da berma ao centro da autoestrada, que fez com que o carro entrasse em “aquaplaning”, fizesse 3 ou 4 peões e fosse bater no rail central. Mal saímos do carro, surgiu a correr um homem vindo da casa que estava perto da via e, depois de ver que estávamos bem, disse: “Neste sítio, hoje já é o terceiro acidente e quando chove muito aqui há sempre despistes, porque a valeta não é limpa e nem tem capacidade para evitar que a água nestas ocasiões atravesse a estrada como estamos a ver”. E efetivamente, como aquela subida tem cerca de 200 a 300 metros, a água da chuva a descer era muita e a valeta não só não tinha capacidade, como estava coberta de terra e não havia saídas visíveis para fora da autoestrada. O lençol de água que atravessava a via era muito grande, podendo ser fatal para qualquer automóvel, mas mais ainda para o Lancia do Jaime porque estava “calçado com sapatos” muito largos. Pelo que nos disse o vizinho do local fatídico, isso já acontecia há anos, sem que alguém resolvesse o problema. Ora, imprevistos destes podem acontecer sempre, mas o que é condenável é que o problema se tenha arrastado demasiado tempo, no dizer do popular, quando se podiam ter evitado acidentes e os custos inerentes, em que o pior nem sempre é o dinheiro.
Mais tarde o Jaime viria a acionar um processo para ser ressarcido dos prejuízos e, enquanto este decorria, os serviços de manutenção da autoestrada efetuaram vários cortes no pavimento, em diagonal, por forma a drenar a água das chuvas. Seria caso para se perguntar: porque não o fizeram logo após ter ocorrido o primeiro acidente?
Sabe-se que pelo país fora, aqui e ali são detetados pontos críticos onde acontecem sistematicamente acidentes, em alguns casos com sinistralidade grave, sendo conhecidos pela população local, além da imprensa, mas ignorados por quem tem a obrigação legal de corrigir o defeito seja ele qual for, estando sujeitos a ter de indemnizar os lesados sempre que estes reclamem ou recorram para a justiça. E são conhecidas muitas sentenças nesse sentido, pois quase todas as entidades responsáveis tentam “fugir com o rabo à seringa” pelo que os processos acabam na justiça, numa forma de “adiar o pagamento” e “ir empurrando com a barriga para a frente”.
Um exemplo incompreensível, e diria até criminoso, já identificado desde que se fez a A4, é a saída em Penafiel para a estrada nacional que vai para Lousada e Guimarães. Quantas dezenas ou até centenas de acidentes aconteceram nessa saída, com consequências trágicas, graves ou mais ligeiras tanto em vítimas como prejuízos materiais? Quantos deles perderam ali a sua vida e com ela morreram ilusões e sonhos, destruíram-se famílias ao tombar o chefe, caíram crianças e jovens na flor da idade? E toda a gente sabe disso, pois tanto se tem falado ao longo destes anos, com vigílias que de nada valeram, com o absurdo do próprio presidente da câmara local afirmar ter efetuado diligências junto do organismo responsável pela estrada nacional para ali se fazer uma rotunda que resolveria de uma vez por todas o problema, sem ser ouvido pois estão surdos e cegos ao ignorarem as tragédias que têm sido recorrentes naquele local. É incompreensível que não exista neste país ninguém com o poder de obrigar essa gente a salvar vidas que podem ser as nossas e patrimónios que custaram muito. Se calhar estão à espera de quem os obrigue a dar atenção ao problema e faça “olhar e ver” embora isso só vá acontecer quando ali tombar o filho de um “figurão” da nossa praça e o “coro mediático” os atingir em cheio …
Já agora, aqui a cem metros de minha casa há uma situação que se vem arrastando há muito tempo, sem se compreender o porquê de não ser resolvida. Acho mesmo que é um bom local para se montar uma oficina de reparações tal é a quantidade de viaturas que ali são maltratadas e ficam a precisar de uma boa intervenção mecânica. O ponto crítico situa-se na vila de Lousada, mais concretamente no entroncamento da Av. Sá e Melo com a Av. Nª. Sra. Do Loreto. Para organizar o trânsito naquele local existe uma mini rotunda à volta de um poste, que seria mais que suficiente. Mas, além desta, foi colocado ali um pequeno passeio em triângulo para “encarreirar” quem vai na Sá e Melo e quer virar à direita rumo ao Loreto. Ora, ao entardecer de um dia de sol, quando este se inclina para a poente fica perfeitamente alinhado com a Av. Sá e Melo e qualquer condutor que siga nessa via a partir do centro, apanha com o sol em cheio nos olhos deixando de ver por completo o triângulo miniatura. Assim encandeado, quando mal se acorda está com a viatura “a cavalo” no “obstáculo”, o que não teria consequências de monta se não fosse um pequeno ou grande senão: presumo que, para dar visibilidade ao triângulo, montaram um sinal luminoso em cima do bico do triângulo, mas deve ter ficado inteiro durante pouco tempo, pois alguém o cavalgou destruindo a parte aérea. No entanto, cravada no triângulo permanece a base em ferro fundido com seis “dentes” fortíssimos ao alto, espetados acima do passeio, que funcionam como uma garra metálica a rasgar a parte de baixo toda das viaturas que têm o azar de lhe passar por cima. E é assim que a blindagem, cárter, motor e outros órgãos dessas viaturas “vão de vela”, deixando os condutores de cabeça perdida. Por mero acaso, há dias vi ali uma mulher com as mãos na cabeça como se não acreditasse no que lhe aconteceu e, noutro momento, um condutor jovem muito preocupado, sei lá se a querer saber o que dizer ao pai. Alguém que trabalha bem perto diz que já perdeu a conta de quantos acidentes houve e continua a haver nesse local, mas que nada se tem feito para os evitar. E a solução é bem simples: basta eliminar por completo o malfadado triângulo com a perigosa garra de 6 dentes (já são só 5, pois um foi arrancado numa batida mais forte e está caído no seu interior). Mas, com esta ou outra solução, parece ser tempo de se pôr fim à lista de acidentes que têm marcado o local e aos estragos e prejuízos inerentes.
Ou então, ficamos à espera que o familiar de uma figura mediática ou de um político da nossa praça fique encavalitado nesse triângulo maldito, com o motor do carro a verter óleo e o sinistrado a verter lágrimas, para que o problema seja resolvido de pronto …