Segundo reza a história no ano 270 o imperador romano Cláudio II, achando que os homens solteiros lutavam melhor do que os casados (e vá-se lá saber porquê …), proibiu que os jovens se casassem. São Valentim, bispo da Igreja Católica, costumava realizar os casamentos e, discordando dessa decisão, desrespeitou a ordem do imperador e continuou a casar os jovens às escondidas. A solidariedade com esses casais viria a custar-lhe a vida, tendo sido decapitado no dia 14 de Fevereiro, motivo pelo qual essa data ficou para o futuro como Dia de São Valentim em sua homenagem e, por analogia, também como Dia dos Namorados por quem ele deu a vida. Ora, com o aproximar do dia doze, importante para os casais mais e menos novos, o frenesim já começou há algum tempo. Era necessário fazer planos e reservas quer fosse para o jantar romântico, dançar ou ficar instalados fora de casa (em casa basta no dia a dia), além de conseguirem as prendas desejadas. Claro que as ofertas de presentes específicos ou não para este dia são mais que muitas, desde as flores às joias, dos perfumes e cremes a roupas, de chocolates a jantares românticos e estadias por uma noite. As montras são profusamente engalanadas com corações de papel colorido, exibindo uma variedade grande de prendas para oferecer. É o isco para atrair clientes porque já está aí à porta aquele que é conhecido (ou tido) por ser o dia mais romântico do ano – O Dia dos Namorados.
E ninguém quer ficar em casa, especialmente as mulheres. Claro que os homens têm de ir na onda quer queiram quer não, embora tantas vezes sem vontade nenhuma. E mais: coitado daquele que se atreva a esquecer esse dia tão especial: “Está feito ao bife”. É que elas exigem do seu par, namorado, marido ou conhecido de ocasião (ou mesmo que nunca se tenham visto uma única vez) que o Dia dos Namorados seja comemorado “à maneira”, uma ocasião para os casais trocarem mensagens, presentes, votos e fazerem as mais diversas surpresas, uma forma de comemorar o amor, o desejo de o alcançar ou de o usar como motivo para uma noite divertida. Vendo bem, é a altura certa para o homem sair com a namorada, ainda que a sua mulher tenha de ficar em casa e vá jantar com as amigas. É que não pode haver lugar a confusões pois uma coisa é “entretenimento” e a outra é “trabalho” e, como diz o ditado, “trabalho é trabalho e conhaque é conhaque” …
Duas mulheres ainda jovens estavam paradas diante duma montra decorada com artigos alusivos a esse Dia. Enquanto uma delas se deleitava a ver a gama de perfumes e peças diversas de joalharia, a outra, muito mais realista, criticava o aproveitamento comercial e o facto de ser mais um motivo para o negócio, criando “tradições de oferta”, artigos especiais do Dia, como se fossem uma necessidade imperiosa. Dizia mesmo que tanto para ela como para o namorado, aquele era um dia normal e recusavam-se a aderir a essa tradição consumista. “Onde é que tu e o Afonso vão no Dia dos Namorados”, perguntava a mais realista? E a outra, de sorriso aberto respondeu-lhe: “Ele ainda não me disse, mas eu já sei que vamos jantar e passar a noite num hotel no Porto. Para ele não se esquecer deste dia eu pedi a uma amiga comum que lhe “avivasse a memória” a tempo das reservas e foi na hora certa”.
Para vermos como é importante para muitas mulheres comemorar ou aproveitar este dia (ou noite) para uma boa farra, devo referir o caso da senhora Ana Catarina. Não tendo companheiro, namorado, marido ou um simples conhecido disponível para servir de ama seca, publicou um anúncio no “facebook”, muito explícito e revelador das suas “necessidades” urgentes e imperiosas para o 12/2, o único dia do ano em que nenhuma mulher pode ficar só e em casa. Dizia o seu anúncio: “PROCURA-SE NAMORADO PARA DIA DE SÃO VALENTIM”. E até “postou” que o seu estado de espírito é de “divertida”. Presumo bem que sim, até porque Ana Catarina só tem um pouquinho mais de sessenta anos de idade, mas conserva todas as suas “necessidades” românticas, fisiológicas, de sociabilização, intercâmbio ou o que quer que se lhes chame, inteiramente intactas … Os potenciais candidatos e leitores da sua publicação foram-na avisando: “Põe-te a pau que vão fazer fila” e “não te vão faltar pretendentes”. Ainda a aconselharam a concorrer ao “carro do amor”, se bem que alguém lhe sugeriu que se o “carro do amor” não resultasse, podia tentar no “OLX” …
Enquanto em casa me contavam a história da publicação da senhora Ana no “facebook” e as reações que obteve, a Luísa parecia não estar a escutar. Mas, às tantas, saiu do silêncio e disse uma das suas: “Para apagar o fogo, o melhor é ela ir aos bombeiros” …
Enquanto em Portugal o presente mais oferecido às namoradas é um ramo de rosas vermelhas, na Alemanha a tradição manda oferecer um … porco! Sim, o “porco da sorte”. Já os brasileiros comemoram o Dia dos Namorados em Junho, véspera de S. João. E passaram a fazê-lo nesse dia porque um publicitário apercebendo-se que esse mês era muito fraco para o comércio, propôs aos responsáveis locais mudar o Dia dos Namorados para o mês de Junho, sendo o objetivo comercial conseguido. Do publicitário ficou célebre a sua frase promocional da comemoração: “Não é com beijos que se prova o amor”, além de uma outra com o mesmo sentido: “Não se esqueçam, amor com amor se paga”. Afinal uma intenção comercial que está sempre bem presente nestes “dias” de festa e que nos leva a consumir, consumir, consumir.
Pensando bem, acho que os governantes podiam aproveitar a ideia e replicar o Dia dos Namorados por forma a que se comemorasse de quinze em quinze dias, pois seriam muitas as vantagens: Promovia-se a restauração e o alojamento dando um forte contributo ao turismo interno para compensar a falta de turistas estrangeiros; fomentava-se os relacionamentos numa altura em que o número de casamentos cai de ano para ano; e à “boleia”, talvez um bom número de casais no “entusiasmo” do momento e com os calores do álcool, pudesse vir a “fabricar” alguma criança, intencionalmente, “por acidente” ou até “por tropeção”, o que seria um contributo importante para aumentar a natalidade que tem andado pelas ruas da amargura. E uma ajudinha destas vinha a calhar, para compensar a falta de mão de obra …