Pen drives, Gigas, USB, Bluethooth …

Os avanços da tecnologia trouxeram com eles numerosos termos novos em inglês que os jovens apreendem cedo e com facilidade, mas que as pessoas da minha geração têm alguma dificuldade em “encaixar” na mona e, sobretudo, a perceberem o seu significado.  A conversa podia ter acontecido comigo ou com qualquer outro “maduro” como eu, para quem o computador pouco mais é que uma máquina de escrever. 

Circula pela internet este texto que um amigo me fez chegar há dias: “Numa loja de material informático o senhor Belmiro tirou um papel do bolso, leu as suas anotações e perguntou ao funcionário: – Por favor, tem uma “pen drive”? E o jovem respondeu prontamente: – Temos sim. – Pode-me dizer o que é uma “pen drive”? É que o meu filho pediu para lhe comprar uma! – Bom, a “pen drive” é um pequeno aparelho onde pode salvar tudo o que tem no computador. – Ah, é como uma disquete? – Não. Com a “pen drive” o senhor pode salvar textos, imagens e filmes. Com a disquete, que já não há, o senhor só salva texto.

– Está bem, já percebi. Quero uma. – Está bem. De quantos gigas? 

– Como? E o funcionário: – De quantos gigas quer a “pen drive”? 

– O que são gigas? diz ele. E o funcionário: – É o tamanho da “pen”. 

– Ah, estou a ver. Quero uma pequena que dê para levar no bolso sem fazer grande volume. E o rapaz – São todas pequenas, senhor. O tamanho é a quantidade de coisas que ela pode arquivar.

– E quantos tamanhos tem? E ele: Dois, quatro, oito, dezasseis …

– Hum, meu filho não disse quantos gigas queria. – Nesse caso, o melhor é levar a maior. Dá para tudo. – Acho que tem razão. Quanto custa? – Bem, o preço varia conforme o tamanho. A sua entrada é USB? – Como? – Para acoplar a “pen” ao computador a entrada tem de ser compatível. E o senhor Belmiro: – USB não é a potência do ar condicionado? – Não, isso é BTU. – Ah, é isso mesmo. Confundi as iniciais. Bom, eu sei lá se a minha entrada é USB! E o rapaz: USB tem dentinhos que encaixam nos buracos do seu computador. O outro tipo é este, o P2, mais tradicional e o senhor só tem que enfiar o pino no buraco redondo. O computador é novo ou velho? Se for novo é USB, se for velho é P2. – Acho que o meu tem uns dois anos. O antigo era com disquete. – Hoje não têm entrada para disquete. Ou é CD ou “pen drive”. – Pois, não sei o que fazer. Acho melhor perguntar ao meu filho. – Pode telefonar-lhe?    – Eu queria, mas o telemóvel é novo e tem tantas coisas que ainda nem sequer sei funcionar com ele.

– Deixe-me ver. Puxa, que Smartphone! Tem Bluetooth, câmara fotográfica, TV digital, enviar e receber e-mail, micro-ondas …

– Blu… Blu… Blutufe? E micro-ondas? Dá para cozinhar com ele?

– Não, não. Funciona no sub-padrão. Por isso é mais rápido. 

– E para que serve esse tal Blutufe? – Para um telemóvel comunicar com outro, sem fios. ­Que maravilha! É uma grande novidade!   – Mas os telemóveis já não se comunicam com os outros sem fio? Nunca precisei de fio para ligar para outro telemóvel. Fio em telemóvel, que eu saiba, é apenas para carregar bateria… -Não, já vi que o senhor não entende nada. Com o Bluetooth o senhor passa os dados do seu telemóvel para outro sem usar fio. A lista de telefones, por exemplo. ­Ah, e antes precisava de fio? – Não, tinha que trocar o chip. ­ Ah, sim, o chip. E hoje não precisa mais de chip… precisa, mas o Bluetooth é bem melhor. ­Interessante o negócio do chip. O meu telemóvel tem chip? Um momento … deixe ver… Sim, tem chip. ­E faço o quê com o chip? – Se o senhor quiser trocar de operadora, a portabilidade, o senhor sabe. ­Sei, sim, portabilidade, não é? Claro que sei. Não ia saber uma coisa dessas, tão simples? – Imagino que para ligar tudo isso no meu telemóvel, depois de fazer um curso de dois meses, só preciso clicar nuns duzentos botões… – Não! É tudo muito simples, o senhor apreende logo. Quer ligar para o seu filho? Anote aqui o número dele. Isso. Agora é só teclar, um momentinho, e apertar no botão verde… pronto, está a chamar.

Osvaldo segura o telemóvel com a ponta dos dedos temendo ser levado pelos ares, para um outro planeta: Olá filho, é o pai. Diz-me filho, a tua pen drive é de quantos… Como é o nome? Ah, obrigado, quantos gigas? Quatro gigas está bom? Ótimo. E tem outra coisa, o que era? A conexão é USB? É? Que loucura.

Filho, comprei a tua pen drive. À noite levo-a para casa.           – Que idade tem o filho? ­Vai fazer dez em Março. – Curioso…

É isso, vou levar uma de quatro gigas, com conexão USB.

– Certo, senhor.

Mais tarde, no escritório, examinou a pen drive, um minúsculo objeto menor do que um isqueiro e capaz de gravar filmes!!! Onde iremos parar? Então olha com receio para o telemóvel sobre a mesa. “Máquina infernal”, pensa. Tudo o que ele quer é um telefone só para fazer e receber chamadas. E tem nas mãos um equipamento sofisticado, tão complexo que só um especialista ou quem tenha menos de quarenta anos saberá compreender.

Em casa ele entrega a pen drive ao filho e pede para ver como funciona. O miúdo insere-a no computador e no monitor abre-se uma janela. Em seguida, com o rato abre uma página da internet em inglês. Seleciona umas palavras e um ‘havy metal’ infernal invade o quarto e os ouvidos de Osvaldo. Um outro clique e, quando a música termina, o garoto diz: – Pronto, pai, baixei a música. Agora levo a pen drive para qualquer lugar e posso ouvir a música onde tiver entrada USB. No telemóvel, por exemplo. ­O teu telemóvel tem entrada USB? – É claro, o teu também tem. ­ É? Quer dizer que eu posso gravar músicas na pen drive e ouvir pelo telemóvel? Se não quiser tirar direto da internet…

Naquela noite, antes de dormir, deu um beijo na Clarinha e disse: ­Sabes que eu tenho Blutufe? – O que é isso? ­ Blutufe. Não me vais dizer que não sabes o que é o Blutufe? – Não me chateies, Osvaldo, deixa-me dormir. ­Meu amor, lembras como era boa a vida quando telefone era telefone, gravador era só gravador, gira-discos tocava discos e só tínhamos carregar num botão para as coisas funcionar? Claro que me lembro, Osvaldo. – Hoje é bem melhor, não? Várias coisas numa só e até Blutufe tem. E conexão USB também. – Que bom, Osvaldo, os meus parabéns. ­ Clarinha, com tanta tecnologia a gente envelhece cada vez mais depressa. Fico doente só de pensar quantas coisas existem por aí que nunca vou usar. – Ai sim? Porquê? ­ Porque aprendi a usar o computador e o telemóvel e tudo o que sei já está ultrapassado. Por falar nisso temos que trocar de televisão.- Como? A nossa avariou? – Não. Mas não tem HD nem tecla SAP, slowmotion e reset. ­Tudo isso?… – Tudo. ­ A nova vai ter blutufe?

Boa noite, Osvaldo, vai dormir que eu não aguento mais” …

Este é o diálogo possível entre duas gerações separadas por um mundo tecnológico que não para de nos surpreender, com uma linguagem própria que os jovens apreendem facilmente, mas que para a minha geração é uma confusão danada …

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