Pré-aviso: se é sensível a gases mal cheirosos, que é o mesmo que falar de flatulência, pare de ler e mude de página. É que este é um artigo de m. (para quem ainda não sabe, o m. é a forma recatada de dizer merda). Vire para as páginas da política ou do futebol, embora não seja garantido que o cheiro seja melhor …
Gosto de caminhar e faço-o por prazer, sem me sentir obrigado pelos benefícios que traz à saúde física e mental. E hoje, ao fazer o caminho do costume, dei comigo a observar-me e a sentir um alívio da pressão intestinal pela saída de gases através do “tubo de escape”, ao mexer o corpo à medida que caminhava. É que, como cada um de nós, carrego dia e noite uma “fossa séptica e uma rede de esgotos” de que não me consigo separar, nem a dormir. Assim, todos os homens ou mulheres, ricos ou pobres, feios e bonitos, pretos e brancos, altos e baixos, não conseguem fugir e cada um transporta a sua fossa para todo o lado, onde processa os alimentos que come, com muito ar à mistura, além de produzir outros gases através do metabolismo bacteriano desses alimentos no intestino. É por essa razão que temos necessidade de “largar umas farpas” diariamente, para aliviar a “pressão na tripa”. Faz parte da natureza humana e do animal que não deixamos de ser. Os “puns”, popularmente chamados de “peidos”, “farpas”, “traques”, “ameixas”, “bombas”, “tiros” e outros nomes mais ou menos ousados, são a “manifestação pública” do estado do nosso corpo. E, embora não sejam tidos por convenientes, são normais e necessários, um sinal do bom funcionamento do nosso organismo.
Consideram os entendidos que cada pessoa dá em média vinte “disparos” por dia. Por isso, não se sinta mal e “dispare” também. É natural. Sabemos que é um tabu e a sociedade reprime aqueles que “soltam o escape” e deixam sair livremente os gases. Não é bonito e as mais elementares regras de educação mandam conter o “aperto” e fazer com que se dissipe no interior do intestino ou sorrateiramente se escape sem ruido e, se possível, sem odor. Por isso, na caminhada estamos à vontade para soltar o “foguetório” livremente, sem ter de olhar para o lado. Somos livres para nos vermos livres do “ar a mais”.
No Malawi, o parlamento criminalizou as manifestações públicas de flatulência através do “traque”, com o argumento de que “o governo tem a obrigação de garantir a decência pública e introduzir ordem no país”, tendo “as pessoas de controlar a natureza. Foi um hábito que só apareceu com a democracia, quando sentiram que podiam libertar gases em qualquer lugar”. Será que noutro regime não se podiam “peidar”? Assim, a flatulência virou ilegalidade e passou a ser crime. Só se pratica na “clandestinidade” … Vá lá. Aqui ainda não é crime!!!
Para quem é mais velho e tem algumas complicações, a produção de gases é maior e a dificuldade de “contenção” um problema acrescido. Um homem que sofria de flatulência e tinha de a “descarregar” com frequência, teve de fazer uma viagem de comboio. Para se precaver, escolheu uma carruagem vazia. No entanto, já com o comboio em andamento, entrou outro passageiro, que o deixou preocupado. Foi a medo que, quando lhe chegou a vontade, deixou escapar um “traque” silencioso e depois um outro em “tom baixo”. Como o tal passageiro não reagiu, ele apercebeu-se que devia ser surdo. Assim, à vontade, foi dando liberdade aos gases, contendo-se na intensidade sonora sem que o companheiro de viagem reagisse. Às tantas, o “traque” saiu qual “tiro de canhão”. O passageiro estremeceu e perguntou: “O que foi isto”? O autor do “morteiro” levantou-se de imediato, foi até à janela para disfarçar e respondeu: “Há trovoada. Foi um raio”. Muito intrigado, o passageiro levantou a cabeça, fez sinal de quem estava a cheirar o ar e retorquiu: “Então, deve ter caído em m. …
Se alguma universidade fizesse um estudo sobre os “peidos”, dividia-os em várias categorias e classes, a começar pelos “p. silenciosos” e os “p. sonoros”. Nos “p. silenciosos” consideram-se os “p. clandestinos”, de que ninguém se apercebe por saírem “à socapa” e sem qualquer odor para dizer “estou aqui” e os “p. anónimos”, também largados sub-repticiamente, sem aviso prévio, mas que descobrimos estarem à nossa volta pelo cheiro que nos invade o nariz. Nos “p. sonoros” há uma variedade maior. Começando pelos “p. musicais” que, conforme o maior ou menor aperto da “boca de saída” e do grau de intensidade na pressão interior do ar, podem ser mais agudos – daí os toques a “flauta” ou “clarinete” – ou mais graves, podendo ir do “saxofone”, ao “trombone” e à “tuba”, aquele som profundo que faz tremer a sala. Seguem-se depois os “p. militares”, que não passam de uma imitação barata do disparo de armas. O mais simples é o “p. tiro”, uma cópia do disparo de uma arma. Outro, é o “p. canhão”, fácil de reconhecer pelo estrondo. Além do “Bum” do “p. morteiro”, há o “p. metralhadora”, uma reprodução perfeita da rajada desta arma. Há ainda outros como os “motorizados”, pois o ruído que fazem quando “saem à rua” mais parece o de uma “moto” potente ou uma “motorizada” de 50cc …
Há ainda outros sem categoria definida, começando por aquele som que mais parece o “rasgar de calças”. Aliás, é a desculpa comum de quem deixa fugir um destes e é apanhado em flagrante. Agarra as calças pelo traseiro e, fingindo que se rasgaram, sai a correr da sala. Temos também o “p. fole”, aquele som que se assemelha ao soprar da forja e o “p. às prestações”, porque vai saindo aos bocados. Entre os “sentimentais” quero dar grande realce aos “sofredores”. Ao ouvi-los, sentimos o sofrimento e a dor, como quem está a parir … um “peido” doloroso. As lágrimas até ameaçam chegar-lhe aos olhos, se bem que os gases se escapam por outro “olho” …
Na disputa entre homens e mulheres para ver quem “fabrica” mais “gases”, ninguém pode dizer que ganha. Há um “empate técnico”. Uns e outros produzem o mesmo, embora as mulheres têm mais recato quando toca a pô-los cá fora. Aqui, devo fazer um ponto de ordem e recomendar que tenham cuidado com a utilização de qualquer chama quando está para se soltar um “traque”. É que, na sua composição há metano, esse gás poluente com elevado efeito de estufa e que é muito inflamável. Se a chama estiver na “saída do tubo de escape”, funciona como “lança chamas”, podendo o traseiro acabar tostado.
Lembro-me do Tónio acender um fósforo quando quis espreitar para dentro de uma fossa séptica. Tirou a tampa e ao meter o fósforo aceso dentro, incendiou o metano e deu-se uma explosão. Com o cabelo queimado, além da cara e pescoço, parecia saído da guerra. É o mesmo gás que a “fossa séptica” individual de cada um de nós produz …
Segundo o estudo de uma universidade inglesa, cheirar o sulfureto de hidrogénio, o gás que dá o cheiro a ovos podres nos “puns”, tem um efeito benéfico na nossa saúde, especialmente na prevenção de AVCs, artrite, doenças cardíacas e outras. A ser assim, em breve deveremos ver milhares de cabines espalhadas pelo país, alimentadas por gases de pessoas idosas. Ao comerem feijoada e dose reforçada de cebola, produzem gás suficiente para “inundar” as cabines onde o povo vai com regularidade cheirar os seus “puns”, em quinze sessões de vinte minutos, como quem vai à fisioterapia. E podem ir descansados para casa, porque não haverá AVC que lhes pegue. É um negócio de futuro … Será que a moda pega e vamos todos passar a cheirar os “traques” uns dos outros? Será que podem ser coloridos?