O fascínio pelos “exclusivos”…

Catarina (e não me perguntem se é esse o seu verdadeiro nome) deu entrada na igreja onde se realizava o casamento, confiante no sucesso que o seu vestido novo iria fazer. Era um modelo “exclusivo” que viu numa passagem de moda organizada pela boutique onde costumava comprar a sua roupa. Quando aquela modelo passou junto de si, deu-se o “clique” e viu logo que tinha de ser “aquele vestido” lindo, único exemplar da loja e, por isso, um “exclusivo” que mais ninguém teria. Fez sinal de imediato à dona da loja. O gesto que selava a compra. Só alguns dias mais tarde passou o cheque sem discutir o preço, porque os “exclusivos” não têm discussão no que toca ao valor, já depois de ter estado na loja para os “ajustes” do vestido, por forma a que ele lhe “assentasse como uma luva”. Ao lado do marido, fazia um tremendo esforço para caminhar a direito e olhar em frente com a pose altiva própria de uma rainha, pois a sua vontade pedia-lhe que olhasse de um lado para o outro e gozasse o triunfo espelhado nas expressões e nos olhares das outras, o que não lhe saía do pensamento. O marido deu-lhe passagem para se sentar num banco vazio a meio da igreja, o que fez com pose estudada de “mulher produzida”.

O templo foi-se enchendo com muitos outros convidados e, pouco antes da noiva fazer a sua entrada pela porta do fundo ao som da marcha nupcial, quem surgiu vindo da lateral foi um enorme “pesadelo” para a sua autoestima e uma grande “machadada” na sua vaidade: “Outra convidada com um vestido rigorosamente igual ao seu”. Até os sapatos eram parecidos com os que trazia calçados. Como era possível? O seu vestido “era um exclusivo”, não podia haver outro igual. Fora enganada pela dona da loja de quem era “amiga” há tantos anos? A cara transfigurou-se em poucos segundos. A imodéstia e riso superior deram lugar ao ar de surpresa pelo inesperado, acabando num rosto fechado, revoltado e desejoso de vingança. Precisava de um bode expiatório onde despejar a sua raiva. Quando o marido lhe disse qualquer coisa ao ouvido, fuzilou-o com o olhar. Num instante ele passou de “bengala a vítima”. Mas lá se aguentou até ao final da cerimónia. No entanto, quando saía do seu lugar para se dirigir à entrada da igreja e aguardar a passagem do novo casal, deu de caras com outro vestido igual ao seu “pendurado” no corpo de uma jovem convidada ao fundo da igreja. Mais tarde confessou ter desejado que se abrisse um buraco para desaparecer e fugir daquela situação tão incómoda e constrangedora que nunca lhe acontecera.

E acabou por ser condescendente e até sentir pena das outras duas convidadas, suas “sósias de traje” e “companheiras de desdita”, que deviam ter sentido a mesma humilhação que ela sentiu. Pois é. São histórias da vida dos “exclusivos” …

O ser humano é assim mesmo. Quer estar no “topo da pirâmide”, no lugar único onde todos o invejem. Para isso precisa de ter aquilo que todos desejam, mas mais ninguém tem.  Daí adorar “arrear” modelos de roupa exclusivos e únicos, calçar “ferraduras” com entalhes em ouro que não são acessíveis ao comum dos mortais, conduzir e ser dono daquela “carroça” da Ferrari, modelo F12 TRS de que só foram fabricados dois exemplares, frequentar o “tal” clube de empresários muito exclusivo e de acesso extremamente restrito, ter casa e morar no condomínio residencial só para gente privilegiada, fazer as suas refeições em restaurantes “gourmet” de “Chefe” premiado com duas “estrelas Michelin”, enfim, usufruir de “exclusivos”, se possível algo que mais ninguém possua ou seja de acesso limitado a determinados indivíduos selecionados. Faz parte da natureza humana querer ser único e diferente dos outros.

O caso das roupas é um bom exemplo, esquecendo-se as clientes que os tais “modelos únicos” o são naquela loja, mas não no país todo. Porque, quem os produz, não se limita a fabricar só um exemplar, que teria de ser demasiado caro. Assim, faz uns quantos de que vende um em cada vila ou cidade, batizando-o de “exclusivo”. E é, naquela loja. E é, o único a ser vendido naquela terra. Só que, à procura do vestido ideal para um casamento ou para outra cerimónia qualquer, uma mulher corre “este mundo e o outro” feita detetive e acaba por encontrar um exemplar seja onde for. E depois há “incidentes” como o da Catarina, muitos outros que conheço e muitíssimos mais de que nem faço ideia…

Mas a obsessão pelos exclusivos não é um “exclusivo” das mulheres. O pessoal do sexo masculino também anseia poder usufruir. Quantos homens não querem fazer parte do “tal clube privativo” onde só se entra por convite e condicionado à aprovação dos outros, apesar da “joia” de entrada custar uma fortuna? São clubes de acesso exclusivo, limitado somente a “alguns”, onde “eleitos” só convivem com outros “eleitos”. É algo como estar no Olimpo, onde só os doze Deuses da Mitologia Grega convivem entre si … E como faz bem ao ego ser “algum” dos eleitos, porque não um dos “deuses”!!! Nesse, como em outros, a maioria dos “exclusivos” pelos quais os homens “correm” têm como objetivo o negócio, o estar num outro nível de contactos que dão acesso a maiores interesses comerciais. O “Ego” a pensar no “bolso”. Já as mulheres, perseguem os “exclusivos” pelo exclusivo, esse desejo íntimo de possuírem o que mais nenhuma tem, de ser a “rainha do baile” na “dança da vida”.

Leave a Reply