Regresso. Os peludos estão de volta…

Para o bem e para o mal, somos animais peludos. Muito peludos. Uns mais que outros, mas todos cobertos de pelo, embora não tanto como os ursos, os burros e os macacos. Mas fazemos figuras de urso quanto baste, somos chamados de “burros” tantas vezes que até há quem chegue a pensar que é mesmo “burro” e fazemos muitas macacadas, o que só reforça a teoria de podermos ser “primos” deles. Por tudo isso, há quem já não questione se é verdade ou mentira essa questão das afinidades familiares … Em épocas passadas, um homem que se dissesse ser homem, tinha de ser peludo. Bem peludo. Porque se o não fosse, corria o risco de ser chamado de “maricas”. Mas, como esta vida é feita de mudança, ainda que seja para pior, já há muito homem a eliminar tudo o que é pelo nalgumas zonas do corpo. Modas. Sinais dos tempos …

A ciência provou que somos tão peludos como os chimpanzés, pois temos sensivelmente o mesmo número de pelos em cada centímetro quadrado. Só que o nosso é mais fino e curto. E ao pensar em nós como seres peludos, há uma coisa que me intriga: Se os pelos que temos na cabeça se chamam “cabelos”, porque é que os pelos dos braços não são “bracelos” e os das pernas “pernelos”? Já nem falo dos “peitelos”, dos “cuelos” e outros mais, conforme a zona do corpo onde floresçam …

Alguns pelos não dão trabalho. Em geral crescem pouco e quase nos esquecemos deles, apesar de nos cobrirem o corpo. Mas, todos os que estão do pescoço para cima, são motivo de preocupação constante tanto de homens como de mulheres. Se para nós os pelos da cara são os “que nos dão água pela barba”, rapando, aparando ou tratando, já para elas são os pelos da cabeça a sua maior preocupação e que as obriga a lavar, frisar, pintar, ondular, alisar, fazer madeixas e sei lá bem que mais, regularmente, porque são o fator essencial do visual que não pode ser desleixado nem sequer deixado ao acaso. Cabelos, são o remate que pode fazer toda a diferença nessa “montra” que é a cabeça das mulheres. São motivo para atrair ou afastar o sexo oposto (a presa), de inveja ou satisfação das outras (a concorrência), além de ser fator de autoconfiança ou insegurança. Se na mulher os cabelos são tidos como uma boa preocupação porque podem dar excelente contributo ao visual, todos os outros pelos com o decorrer dos anos e das modas passaram a “inimigo”, pelo que têm de ser exterminados, tal e qual as ervas daninhas nas culturas.

Daí as mulheres (e não só) se sujeitarem a depilações regulares e totais, muito sofridas quando através da cera quente (tecnicamente designadas por epilações) ou bastante menos dolorosas com os novos métodos a laser. Mas, umas ou outras, estão sempre entre as preocupações femininas, muito especialmente com o aproximar do verão pois não podem existir pelos a “espreitar” nas franjas dos biquínis, debaixo dos braços ou noutras partes do corpo que não na cabeça. Já lá vai o tempo das “mulheres de bigode”, havendo até algumas que chegavam a ser exibidas no circo como atração.

E os homens, que tinham no rapar da cara um trabalho diário, estão a seguir modas pouco ortodoxas ao deixar crescer a barba tipo “jihadista” e fazer cortes mais ou menos regulares do cabelo, agora com moda à “Kim Jong Um”. Um “modelo” estranho para ser copiado … mas gostos são gostos.

Ora, alguns homens, para copiarem figuras mediáticas que gostam de ser diferentes – e, como todo o mundo quer ser diferente como eles, acabam por ficar totalmente uniformizados – também começaram a eliminar os pelos, copiando o sexo feminino. Assim apareceram os “metrossexuais” que, pouco a pouco, foram passando a “mensagem” e “convertendo” o povo meio cá, meio lá e até machões, quase sempre por influência da parceira a quem convinha agradar, para estar na moda. “O Ronaldo também se depila e fica giro. Que peitorais”. Só que o namorado não faz exercício nenhum e tem os peitorais descaídos, mostrando um corpo que nada tem de escultura grega …

Mas as modas chegam cá sempre mais tarde e às vezes demoram a ser aceites. Ora, a depilação masculina, especialmente a íntima, ainda provoca caretas nelas e vergonha neles. E, entretanto, a oportunidade passa e a moda “já está noutra”. Foi assim que um conceituado jornal americano anunciou em título: “Coloquem as lâminas e a cera na prateleira. Depois da moda do metrossexual, do lumbersexual, das barbas e do rabo de cavalo, os homens querem-se peludos. Homem que é homem tem pelos no peito”. Algures, pelo caminho, a “pele de bebé” substituiu os pelos e os homens começaram a fazer a depilação para agradar às mulheres, mostrar o corpo, seguir a moda. Mas isso mudou e os pelos no peito estão de volta e recomendam-se, por mais que isso desagrade aos gigantes do mercado das laminas e máquinas depilatórias e às indústrias de cosmética. É essa a razão pela qual voltaram os modelos masculinos de camisa aberta e pelos no peito.

Curiosamente, o regresso dos pelos é o resultado de influência da cultura gay, dum grupo chamado “Bear”, que celebram os pelos no corpo masculino. E ainda das mulheres que gostam de homem e não de um “boneco de plástico”. Além de que os pelos retomam a sua função de proteger as zonas onde aparecem, especialmente as axilas e zona púbica, pois a sua eliminação traz alguns problemas de pele. Mas é bom lembrar que, quando se fala de manter os pelos, também estão em causa outros, só que aparados e cortados por forma a não saírem em tufos enormes do nariz, com ranhetas à mistura, ou das orelhas, embrulhados em cera …

Com a “cambalhota” da moda que exige o regresso dos pelos ao corpo dos homens, há uma vantagem: já ficam preparados para mudanças futuras da moda. É que nunca ninguém sabe se ela, de repente, exige que se façam “tranças” nos pelos das axilas ou doutra parte qualquer. Há que esperar tudo das vedetas, para serem diferentes …

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