Onde é que a beleza está a mais num jogo de futebol?

Devia estar vaidoso (mas não estou) porque a FIFA, o organismo que superintende o futebol mundial, talvez com base numa das minhas crónicas (isto é presunção a mais …) decidiu proibir a filmagem de mulheres atraentes nas bancadas durante a transmissão dos jogos de futebol no Mundial. E só pode haver uma justificação: “São um perigo para a navegação”. Além de não aparecerem mais na televisão neste Mundial por imposição dos “manda-chuvas da bola”, não me admiro que um dia destes os restantes órgãos do futebol mundial e nacional proíbam também a sua entrada em todos os estádios, precisamente pelo perigo que continuam a representar. Sim, se uma mulher bonita, sensual e com vestido “atrevido” sai à rua e caminha junto à berma do passeio com “aquele andar que os gatos demoram anos a aprender”, é certo e sabido que alguns carros vão chegar a casa com a “lata amolgada”. Só pode. Algum condutor vai estar atento à luz de travagem do carro da frente, quando o seu olhar “está preso” naquela “bomba” sobre a berma do passeio? Claro que não, a não ser que seja cego ou a mulher lhe tenha posto umas palas para não ver os lados da rua. Ora, o que aqueles ditos senhores, que supostamente sabem o que é melhor para o futebol (há quem pense que só sabem o que é melhor para o negócio) viram nas imagens das caras coloridas e lindas que a televisão nos foi mostrando para dar alguma alegria à tristeza de alguns jogos do Mundial, foi somente uma “concorrência desleal” aos pontapés e cabeçadas na bola. Como são quase sempre velhos e chatos que estão nesses lugares, além de já não “tourearem”, provavelmente já nem sequer são “aficionados”. Daí o verem numa jovem loura enrolada na bandeira da Croácia, com a cara pintada com as cores do seu país, uma forte concorrente, que tira o protagonismo aos artistas da bola e vá-se lá saber porquê. E ainda não mostraram aquela morena de minissaia e com camisola da argentina de decote generoso, onde se podia ver tatuado um longo texto em letra miúda, parte do qual ainda ficava escondido por debaixo da camisola no bico do decote. Seria caso para perguntar, como é que um telespectador podia ter acesso à leitura do “texto integral”, para “ajuizar da sua valia”. Caso contrário, seria como ler um livro onde faltam algumas páginas …

A FIFA é uma entidade abstrata, de que só tenho a imagem da careca do presidente atual e a lembrança do custo absurdo da suite onde se encontrava instalado o presidente anterior durante um dos últimos Mundiais, um tal Blatter, que foi despedido sem honra nem glória.

Mas, voltando à proibição da filmagem de mulheres atraentes na bancada, é caso para perguntar: “E se elas estiverem num camarote ou na Tribuna presidencial? E se o presidente de um qualquer país for uma mulher, como é Kolinda, presidente da Croácia, com todos os “atributos” que devem constar no catálogo da “censura”, não pode ser filmada durante o jogo, nem mesmo quando toca o hino nacional do seu país e ela se levanta? Além disso, coloca-se uma questão muito intrigante: Não se podem mostrar mulheres atraentes. OK. Será que é distribuído um catálogo a mostrar quem são as mulheres atraentes e as que estão excluídas da categoria e que não estarão sujeitas ao veto FIFA? E se for uma daquelas que mete medo ao susto, pode aparecer nas filmagens televisivas a “ocupar tempos mortos” enquanto algum jogador finge que também está morto? Ou será que a partir de agora, nessas paragens do jogo vão-nos mostrar só os “cromos da bola” habituais, homens feios e barrigudos, em tronco nu e com a barba por fazer, de olhos esgazeados pelo fanatismo ou com fatiotas exóticas e chifres na cabeça, não sei bem a que título? Que raio de gosto …

É preciso bom senso e, se for caso disso, um grande movimento que faça aquela gente ponderar e ver que não tem pés nem cabeça tal diretiva. O futebol é um espetáculo no seu todo e a beleza faz parte dele. Mais ainda: Num Mundial de futebol, onde se juntam claques de todos os países participantes, dando um colorido e alegria que fazem do evento uma festa e um convívio universal, seria enorme estupidez esconder as imagens dessas claques, porque são parte essencial do espetáculo. Muitas vezes recordo o Euro 2004 e aquilo que vi nas ruas do Porto e no estádio do Dragão com a onda laranja da Holanda. Valeu a pena acompanhá-los na rua e foi excecional assistir ao belo espetáculo que foram dentro do espetáculo do jogo de futebol. E a partir de agora isso não pode ser mostrado porque no meio daquela onda laranja pode haver “curvas de fruta” que a FIFA considera “impróprias para consumo visual”, porque é disso que se trata.

Ao que nós chegamos com este “moralismo bacoco”, que mais não é senão uma deriva absurda do movimento contra o assédio sexual. Se fosse mulher, considerava-me discriminada por não estar em pé de igualdade com qualquer homem, por mais feio que Deus o tenha feito. Porque é que um brutamontes de cara mal pintada e com os dentes arreganhados pode aparecer na televisão no meio de um jogo de futebol, enquanto a uma mulher bonita, por mais puritana que se apresente, não lhe é concedido esse direito? Como diz o povo, “ou há moralidade ou comem todos”.

Resta-me uma consolação: O Mundial acabou e a nossa seleção já estava em casa quando “aquelas cabeças iluminadas pariram ideia tão brilhante”. Daí que, aquele interesse que me fazia estar colado ao televisor para ver o jogo do princípio ao fim, acabou quando acabou a nossa estadia na Rússia. “Perdi o apetite” pelo Mundial, com ou sem o enfeite das caras bonitas, se bem que continue a gostar de ver caras de mulheres atraentes, ou a natureza não estaria a funcionar no seu melhor …

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