Olhar o mundo através da “janela”…

As janelas sempre foram um local privilegiado para se olhar o mundo, especialmente quando esse mundo é circunscrito ao nosso lugar, ao nosso “quintal”. Por essa razão, num e-mail que circulou por aí a propósito de segurança, se apontavam três exemplos. Num deles, citava-se a China como possuindo milhões de câmeras de filmar na via pública, que lhes permite visualizar um acidente ou identificar uma pessoa em curto espaço de tempo. Também era referido o caso de Londres, que dispõe igualmente de um elevado número de “olhos públicos” para garantir a segurança dos cidadãos. Por fim, como não podia deixar de ser, para contrapor o “sistema” que o nosso país tem em alternativa às câmeras de filmar, mostrava-se uma mulher idosa, debruçada à janela a olhar a rua …

Das janelas da minha casa não vejo a rua, muito menos o mundo. Mas da “janela virtual” sobre a qual às vezes me “debruço”, e não convém que seja muito assiduamente porque cansa, vou assistindo ao desfile do mundo a que pertenço e ao qual não me posso furtar, uma parada alegre ou triste, interessante ou absurda, saudável ou louca, que até dou comigo a interrogar-me: “Como é possível”?

Foi por essa “janela” que vi passar o cortejo de figurantes na tentativa frustrada de legalização da eutanásia, com uma “suposta discussão” que nada teve de aberta nem de participativa, muito menos de séria. Como se fosse um assunto que só a eles dizia respeito e sem respeito por cada um de nós. Porque é a cada um de nós que cabe, no seu foro íntimo, uma posição pessoal da qual não pode nem deve abdicar, nem sequer delegar. Mas eles, esses tais figurões, acham que têm poderes que nós não lhe delegamos. Esse, eu não deleguei …

É por esse “retângulo virtual” que me deixo alienar, tornando-me em mais um “mirone” da comédia trágica que se passa numa instituição centenária como o Sporting Clube de Portugal. Fico “futebolizado” e a curiosidade atrai-me para as “cenas dos próximos capítulos”, cada dia mais surpreendentes que no dia anterior, próprias de uma telenovela da Globo ou de um filme policial. Não sei, e julgo que ninguém sabe, como é que este “filme” vai acabar. Mas não augura nada de bom para aquela instituição que devia estar acima de agendas pessoais. Somos um país onde o futebol esteve sempre acima dos governos, regulado por leis próprias porque os responsáveis públicos se demitiram de impor as leis comuns. Basta ver as célebres “claques” que sempre andaram em roda livre, impunes a todo o tipo de crimes, porque são a “guarda pretoriana” de presidentes a quem os governantes tecem loas e de quem se servem nas campanhas eleitorais para angariar votos. Por isso, depois não têm moral para impor a lei. Neste caso em concreto, não há telenovela que o bata, tanto em audiências como nas cenas imprevistas que nunca mais têm fim. Infelizmente, quem pode ter um fim triste é a Instituição …  

Mas, pela minha “janela”, também ouvi o primeiro ministro dizer aos professores que “não há dinheiro”. Coisa espantosa!!! Pensava eu que a austeridade acabou quando este governo começou. Pensava eu que havia dinheiro para todas as suas promessas, incluindo as que foram feitas aos professores apesar do perigo de abrir a “caixa de pandora”, até porque atingimos o maior nível de impostos da era democrática. E, afinal, a austeridade continua e aos professores só resta, para memória futura, mandar “encaixilhar” aquele tempo de serviço que pensavam trazer-lhes mais alguns euros que tanto jeito davam para compensar os sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis. Não ouvi nada do primeiro ministro a propósito do aumento constante da dívida pública. É que, para o cidadão mais distraído, as artimanhas da comunicação de quem nos governa são tão bem feitas e a estratégia da ilusão tão bem pintada, que até dão a entender que tem havido um abatimento naquela “conta calada” que temos para com os credores e que bateu novo record máximo. São 250.000.000.000 em números, que podem ser lidos como duzentos e cinquenta mil milhões de euros ou duzentos e cinquenta triliões de euros ou ainda um quarto de um quatrilião de euros. Presumo que a esperança dos nossos governos, deste e de outros, seja de que um dia as cheias, os temporais ou até um incêndio possam apagar o número no seu todo ou, pelo menos, fazer desaparecer os zeros. Porque, com os 250 euros podíamos nós bem …

Olhando pela “vidraça”, já vi que vamos ter “nova injeção de bola”. Os “rapazes” ainda não tinham voado para a Rússia e já lhes tinha sido dado tempo de antena quanto baste. Que me importa onde estão, o que comem, como dormem, o que fazem e todas aquelas minudências que cada ser humano passa no dia a dia. O que nós queremos é vê-los jogar (bem) a bola e ganhar. O resto, é para nos entreter e dar tempo de emissão barato às televisões, especialmente ao canal um. O que me vale é que tenho um comando que ainda funciona e uma mulher que aguenta mal um jogo de futebol. A ver. Valha-me isso, quando o massacre for em demasia. É que um homem tem limites …

Como já nada me surpreende nesta vida, vi sem espanto o professor marroquino de uma região próspera, que foi consultar um urologista por ter uma lesão semelhante à provocada por varicela. Depois de realizar os exames e análises, o diagnóstico foi perentório: ele foi estéril toda a vida, em resultado de um quisto testicular. Para quem lê isto, não há problema de maior, é natural. Mas não era natural para o professor, porque era pai de nove filhos … ou pensava que era, até saber o resultado dos exames e das análises. E foram nove(s) … fora nada … Vida de enganos? O que se vê e sabe através de uma simples “janela” virada para o mundo …

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