“Acasos” agrícolas. E ainda bem…

Não perca mais tempo a procurar as causas do seu problema. Tem um grande “pneu” à volta da cintura? Anda com barriga de grávida sem o prazer de o ser? São simpáticos consigo quando lhe dizem que está “um pouco forte” em vez de dizerem que está gordo? Tem boa solução para tudo isso e nem precisa de fazer dietas, exercício diário ou tomar aqueles comprimidos para emagrecer que lhe fazem mal aos rins. O remédio é bem mais simples: ponha um adesivo na boca. Não coma tanto. É o seu mal … e o meu. Comer demais é o nosso problema. Não resistir quando nos oferecem mais uma fatia de carne, repetir os rojões ou comer outra fatia de bolo quando devia ter parado há muito ou comer o que ainda está na mesa, só para que não sobre. Por isso, tape a boca com um adesivo largo e deixe ficar só o buraquinho para poder beber líquidos e o “caldo” por uma palhinha (sopa, não, não é a mesma coisa…), e vai ver que, em pouco tempo, estará elegante como nunca esteve. Melhor do que se acompanhado por nutricionista consagrado. Esse, vai querer “negociar” consigo sobre o que deve ou não comer, quando, como e em que doses. Mas não está consigo para lhe evitar as tentações … vai dizer-lhe que tem de comer seis refeições por dia e, nas principais, metade do prato deve estar cheia de legumes. “Verduras, pode e deve comer muitas”. No dia em que o médico (e sobrinho) disse ao meu sogro que tinha de comer muitos legumes, ele respondeu-lhe: “Por este andar, qualquer dia tenho de aprender a pastar”.

Numa região da China onde uma grande percentagem de habitantes ultrapassa os cem anos, quiseram conhecer as razões de tão raro fenómeno. Perguntaram a um velho médico local qual era o segredo para tal longevidade e ele respondeu: “Comer pela metade, fazer exercício pelo dobro e rir pelo triplo”. Ora, como eu quero completar um século de vida e comemorar esse aniversário aqui em casa, com toda a família, incluindo a minha mãe, já comecei a treinar com base na teoria do médico chinês. Agora, só como metade nos dias em que não tenho apetite. É meio caminho andado… Também comecei a fazer exercício a dobrar: sempre que caminho, levo a minha cadela comigo (eu e ela, é exercício duplo). Rir a triplicar é o problema maior pois: Não convivo com palhaços, embora conheça alguns (mas não me fazem rir…). Tenho cócegas, mas não entro em programas onde se coçam uns aos outros. E também não consigo fazer como aquele homem que, sempre que viajava no comboio, ia o tempo todo a dar gargalhadas e, às vezes, desfazia-se a rir. Perguntaram-lhe um dia porque se ria assim e ele respondeu que, para se entreter na viagem, contava anedotas a si mesmo. “E quando se ri mais alto?”, quiseram saber. “Ah, isso é naquelas anedotas que eu ainda não conheço”.

Mas, para ajudar a controlar os “quilitos” que tenho a mais, sigo os conselhos de quem nos manda “pastar”. Se no quintal dos meus pais se cultivava a couve galega, couve nabiça, nabiças, cebolas, alhos, alfaces, tomates, nabos e pepinos, na minha pequena horta de vinte a trinta metros quadrados roubados ao pavimento, já tenho novos vegetais, que são “vendidos” como excelentes para a saúde e bons a diminuir o “pneu”. A Ana Maria inovou a minha horta ao trazer um chuchu. É uma trepadeira que se estende por tudo quanto é sítio. Quando começou a produzir, não o valorizei. Cá em casa usaram-no na sopa, substituindo a batata com vantagens. Produziu bastante. Congelou-se e distribuiu-se por amigos e família. Este ano plantaram-se mais dois pés e, como o tempo foi favorável, treparam pelas estacas, passaram à rede e chegaram às árvores. Havia chuchus por todo o lado. Quis saber como o consumir e fiquei surpreendido: excelente vegetal com baixo teor de calorias, rico em água, em fibra dietética, vitaminas, minerais e antioxidantes. Ideal para quem quer perder peso. E eu quero. Usei em diversos pratos e, para além da sopa, está aprovado em todos os assados, substituindo muito bem a batata no todo ou em parte. Vale a pena. E a produção deste ano? Uma loucura. Comemos, congelamos, distribuímos e ainda tenho seis caixas cheias, para além dos que estão por colher. Em tão poucos pés, colhi quase quinhentos quilos… Sem tratamentos, sem cuidados especiais.

Além do chuchu, também a salsa, o espinafre e o “tomate cereja” me tomaram conta de todos os bocados de terreno. Até nos vasos, entre as flores. E, mais ou menos na mesma ocasião, deu-se cá outro acaso. Nasceu no “quintal” uma planta desconhecida, que viria a tornar-se um belo arbusto. Floriu e as flores deram lugar a pequenos “balões” que, ao amadurecerem, pareciam miniaturas de “balões de S. João”. Lá dentro, um pequeno fruto alaranjado, muito semelhante a um tomate. Chama-se “Physalis”, que em português se diz “fisalis”, também conhecido por “tomate de capucho” ou “saco de bode”. Já vira estes “balões” à venda no supermercado, sempre metidos em embalagem de plástico e a preço pouco convidativo, a tal ponto que nunca ganhei coragem para experimentar. É considerado um dos frutos mais completos, sendo muito rico em vitaminas, proteínas e minerais. É ainda considerada uma planta medicinal para diversos fins (interessante para diabéticos). Atrás da primeira planta, muitas outras têm nascido, não requerendo cuidados. Fiquei cliente e recomendo.

Tanto o “chuchu” como o “fisalis” foram dois “acasos” felizes, pois têm contribuído, tanto para a minha sanidade alimentar como até económica. Não dão trabalho, não exigem cuidados especiais, se bem que se tornaram especiais para mim. Com tais “ajudas”, até me sinto obrigado a acabar com o “pneu”.

Como previa o meu sogro, já aprendi a “pastar”. Só me falta pôr o tal adesivo largo na boca, com o buraquinho para a palhinha. E sugar o caldo com chuchu…

Leave a Reply