Fui ao bruxo, para conhecer o futuro

Há dias acordei ansioso, querendo conhecer o que nos está reservado para o futuro. Não para conhecer antecipadamente os números do euromilhões, algo em que “ninguém está interessado”, mas somente aquelas coisas que são parte da nossa vida comum, como saber onde guardar o dinheiro (se é que ainda existe dinheiro e algum local seguro…), quem vai ser o campeão nacional (e não importa de quê) ou até onde vai a seleção portuguesa no próximo mundial, agora que carrega o “fardo” de ser campeã da Europa. Mas, a adivinhação tem muito que se lhe diga e só está acessível a cartomantes, astrólogos e bruxos. Ora, como não sou nem uma coisa nem outra (tanto quanto sei…), como “não tenho morada aberta” nem quaisquer “ligações ao além”, apesar de tentar fazer algumas previsões, “ainda não dei uma para a caixa”, nem sequer numa rifa foleira.

Tendo sido criado num tempo em que, desses três “dotados” com tais “dons”, só havia bruxos, achei por bem recorrer aos serviços de um, até porque segui o velho dito popular de que “não acredito em bruxas mas, que as há, há”. Confrontei-me logo com um problema: Como nunca fui um “utilizador” deste tipo de “ajudas”, tive de perguntar a pessoas que recorrem a elas com certa regularidade, gente essa bem “informada”.

Outrora, ouvia falar no “bruxo de Figueiras” e no “bruxo de Fafe”, mas não sei sequer se ainda “veem” o futuro ou se estão na reforma e já são coisa do “passado”. Daí o meu pedido de informação aos “clientes habituais”, com cartão de assiduidade e direito a pontos, como nos supermercados. Ora, isto não é tão fácil como eu pensava. Para me darem a informação correta, quiseram saber o que é que eu verdadeiramente pretendia. Perguntaram-me se andava à procura de “amor”. Se fosse o caso, tinham uma “receita caseira”, um método simples de bruxaria sem ter de ir ao bruxo (tal como os remédios que prescrevemos uns aos outros, como se fossemos médicos…), que implicava incenso de rosas, pétalas de rosas a decorar um altar, uma fita cor de rosa, a imagem de Vénus, papel e caneta. “Não, não é nada disso”, disse em tom firme. Então, o que eu pretendia era “rogar uma praga” ou fazer “um mau olhado” a alguém? Para não arranjar mais confusões, tive de os informar que somente queria saber “umas coisas” sobre o futuro.

Foi assim que acabaram por me “recomendar” um bruxo que vive isolado e muito longe, suficientemente longe para me dissuadir de ir lá apresentar qualquer reclamação no caso das suas previsões “saírem furadas”, inclusive de pedir a devolução do valor cobrado. Marcaram-me “consulta” e lá fui eu satisfazer esta necessidade que sentia em mim, acabando por sair satisfeito com o “serviço” que me prestou, apesar de se fazer pagar antes e bem.

Esta coisa de “ir ao bruxo”, apesar de já não ser o que era, é algo que se faz, mas que não se confessa. Não faltava mais nada. Olha se o povo soubesse que aquele fulano vai ao bruxo? Seria motivo de cochichos e conversas de esquina. Mas, na verdade, há muito mais gente do que pensamos a recorrer aos seus serviços. É que, diz-se, quem precisa recorre a tudo. Na doença, começa-se pelo médico, depois o endireita (agora medicinas alternativas), além da “mulher com morada aberta” e, esgotadas as opções sem que o mal esteja resolvido, alguém sugere a cartomante, o astrólogo e o bruxo, para não falar no espiritismo. E, por fim, o exorcista. E não se diga que quem lá vai não tem formação cultural nem condição económica. Puro engano. Vão lá de todas as condições sociais, unidos por um fator comum: Todos carregam um problema para resolver. Dinheiro, negócio, saúde física e psíquica, amor, conflitos com alguém, são os motivos mais comuns para quem procura o bruxo (e eu nem sou bruxo).

Ora, como as “previsões” da minha ida virtual ao bruxo podem ser do interesse dos leitores, não quero deixar de as partilhar neste jornal, para os manter a par de informações de tão doutos visionários. Recomendo que a sua leitura deve ser feita na companhia de outras pessoas porque as revelações poderão “chocar” os espíritos mais sensíveis. Vá lá, chame a vizinha e deem a mão, mas não se aproveite para “apertar” com ela. Assim, vamos às previsões:

“Tanto o Tondela como o Arouca, não serão campeões esta época”. Ora, uma previsão deste tipo é realmente chocante para os habitantes das duas cidades.

“Não há corrupção em Portugal”. O homem vai acertar na “mucha”… Todos os processos contra cidadãos que, por acaso, e só mesmo por acaso, passaram a ter uma vida muito boa de repente, vão cair de maduros. Isto só vem provar o que eles afirmam: São inocentes e até vítimas do zelo da polícia e de juízes invejosos, que gostariam de ganhar tanto como eles, sem ter de se esfalfar a julgar montanhas de processos. Não têm culpa de ganhar tanta “massa” com facilidade. Saibamos “aprender” com eles, pois são “autênticos profissionais” …

“Neste mês de Dezembro, há Natal”. Não conseguiu prever com exatidão o dia pois, no momento em que o ia fazer, deu um espirro monumental e fiquei sem saber se foi provocado pelo frio ou por alguma alergia ao pó que se acumulava em cima da mesa…

“Os portugueses vão ter um futuro mais amargo”. Que visão. Será que foi por isso (previsão) que o governo “azedou” os impostos sobre o açúcar e produtos açucarados?

“Quem gastar mais do que ganha, tem de ir às poupanças ou fica a dever”. Ora, nesta é que eu não acredito, nem nenhum português. Porque, o que nos andaram a dizer nas últimas quatro décadas, foi precisamente o contrário: “Gastem, como se não houvesse amanhã”.   

Quando contei a um amigo que tinha ido ao bruxo, a sua primeira reação foi: “E ele acertou”? Respondi instintivamente: “Se acertou… Foi mesmo em cheio!!! Antes de fazer as previsões, disse-me: -Passe-me cento e cinco euros da consulta. Ora, como é que ele sabia que era precisamente o dinheiro que eu tinha no bolso”???

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