Eles sabiam que tinham direitos… Só nós é que não…

Até que enfim!!! Finalmente a lei pôs preto no branco um facto que era uma evidência, mas que muitos teimavam em negar: “Os animais de estimação não são coisas”. E, o curioso, é que os animais já o sabiam. Desde sempre… Só que muitos de nós, não. Ora, a lei veio reconhecer aos animais de estimação ou companhia, direitos relativamente à saúde, bem estar e não só. Até nos divórcios, os animais passam a ter o direito da “guarda partilhada”, isto é, de passar uns dias ora com um, ora com outro elemento do casal, como se de um filho se tratasse. Mas também há multas e até pena de prisão para quem os maltratar. Quero acreditar que agora é a sério… Apesar de termos evoluído na forma como tratamos os nossos animais de companhia, há ainda muito caminho a percorrer. Não falta por aí quem faça dos animais de estimação, especialmente dos cães, o saco de boxe onde se despeja a raiva e a frustração, a cobardia e o medo, através de pontapés, socos, pauladas e outras formas de agressão. E já nem falo na ausência de cuidados básicos como saúde e alimentação. E, quando já não servem para o fim pretendido (caça incluída), dá-se-lhe um tiro, amarra-se a um pinheiro no meio do nada, afoga-se ou abandona-se, com toda a descontração e estupidez natural. Toda a gente conhece exemplos deste tipo de barbaridades, como se ainda estivéssemos na idade da pedra…

Apesar disso, e independentemente da forma como cada um trata os animais, eles não se importam do lugar onde moram, se é palácio ou barraca, se o dono é rico ou pobre, gordo ou magro, nem a religião ou partido a que pertence. Ao contrário dos humanos. E são sempre uma companhia que não falha.

De entre os animais de estimação, dou primazia ao cão. É mais fiel, mais leal, mais companheiro. Alguns homens afirmam até que existem mais vantagens em ter um cão do que em ter uma… mulher. E fazem questão de as sublinhar.

Para começar, “se chegarmos tarde, atrasados ou pela noite dentro, alegres e com um grão na asa, vamos encontrá-lo sempre feliz por nos ver”… Por outro lado, “já alguma vez esperamos por um cão? Nunca. Está sempre pronto a sair connosco, a qualquer hora, em qualquer dia e em qualquer lugar”… E é sabido que “o cão ouve e respeita o dono, ainda que este lhe levante a voz ou grite”… “Se distraidamente e por engano o chamarmos por outro nome que não o dele, nunca se chateia, nem nos dá cabo da mona”… “Que se saiba, nenhum dono foi acordado a meio da noite pelo seu cão para lhe perguntar: Se eu morrer, vais arranjar outro cão”? De uma coisa podes estar tranquilo em casa: “Os pais do cão nunca te irão visitar, nem ficar para jantar ou dormir”… Também não te preocupes com o dinheiro nem com os teus bens porque, “nenhum cão te vai pedir emprestado o carro nem o cartão de crédito”. Ah, e “se chegares a casa a cheirar a outro cachorro, vai-te cheirar, cheirar, e continua a abanar o rabo de contentamento”… Por fim, e não menos importante: “Se por uma razão qualquer, ainda que remota, o teu cão te abandonar, não tenhas medo: Ele não leva nem exige metade dos teus bens”… Que mulher faria isto?

Quanto mais histórias da dedicação de cães pelo seu dono conheço, mais os seres humanos saem diminuídos da comparação com eles. E há tantas… Relembro uma: Mozart é considerado um dos músicos mais famosos e geniais de todos os tempos. Aos sete anos, na idade em que qualquer criança quase só pensa em brincar, já ele tocava, compunha e publicava obras musicais. Teve anos de honra e glória, sendo reconhecido por reis e rainhas de toda a Europa. Mas nunca soube lidar com dinheiro e, da sua bondade e genialidade musical, aproveitaram-se muitos oportunistas sem escrúpulos. Por essas e outras razões, já depois de casado, a sua vida desmoronou-se, acabando por ser abandonado pela mulher. Quando a mãe adoeceu gravemente, como não tinha dinheiro, vendia as suas composições musicais ao desbarato a troco de remédios. Depois da sua morte, triste e desiludido, adoeceu também e o único amigo fiel que nunca o abandonou foi o seu cão Pimperi. Ficou sempre a seu lado até à hora da morte, aos trinta e cinco anos de idade. Sem meios nem amigos, seria enterrado como anónimo numa vala comum. Quando a mulher soube da sua morte estava em Paris. Partiu logo para Viena, com o intuito de visitar a sua campa. Ao procurar no cemitério, ficou desesperada por não haver uma placa sequer que identificasse o túmulo onde Mozart fora sepultado. Apesar do inverno rigoroso, vasculhou o cemitério à procura de uma pista ou de um sinal. E ao procurar entre os túmulos, encontrou um pequeno corpo congelado pelo frio, em cima da terra batida. Foi então que reconheceu o cão de Mozart e assim identificou a campa onde ele estava enterrado. Hoje, quem visitar Viena pode ver o grande mausoléu onde está sepultado Mozart e o seu fiel cão.

A dedicação, lealdade e gratidão que os cães têm por quem a eles se dedica, não tem limites. É o caso do cão de Mozart. Indiferente à tempestade que desabava sobre Viena, foi atrás do carro onde seguia o caixão até ao cemitério. Mozart produziu obras memoráveis como “A Flauta Mágica”, “As Bodas de Fígaro” e “Don Giovanni” e muitos foram os que o admiraram, idolatraram ou dele se aproveitaram. No entanto, o amigo que lhe restou na hora da “partida”, foi o seu fiel cachorro que, indiferente à miséria, à chuva, ao frio e à tempestade, acompanhou o dono até à sua última morada e aí… morreu de amor e saudade.

E ainda há quem pense que os cães são “coisas”…

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