Como pôr a “massa” no seguro…

Quando liguei a televisão, a pergunta estava ali “escarrapachada”: “Podem os portugueses confiar nos bancos”? A meio do programa a votação era absolutamente clara: Oitenta e cinco por cento tinham escolhido o NÃO o que, presumo, não é surpresa para ninguém. Depois de nos últimos anos nos “limparem” milhares de milhões de euros, de serem protagonistas de alguns dos maiores golpes do nosso tempo e de estarem no centro dos grandes escândalos financeiros a que assistimos, a imagem que tínhamos dos bancos alterou-se radicalmente, passando de instituições confiáveis, respeitáveis e sérias a “casas de assalto organizadas”, controladas por “ladrões de cartola e gravata” com ar muito respeitável, mas que de respeitável nada têm. É por isso que, de “cofre” das nossas economias que eram, já só o são para aqueles que consideram não haver alternativa para guardar o “graveto”. Vai daí, anda toda a gente com “as calças na mão” pois já não sabe onde o guardar. Afinal, onde é que ele está seguro?

Ter dinheiro é agradável, dá tranquilidade e proporciona conforto. Tanto mais conforto quanto maior for o “monte”. No entanto, apesar de ser bom, também passou a ser um problema, cujo volume de preocupações é diretamente proporcional à quantidade de “papel” que se tem, pois as notícias sobre os bancos com porta aberta em Portugal são cada vez mais preocupantes. Aliás, estamos cada dia mais convencidos que aquilo que se sabe é só a “ponta do icebergue”. E a prová-lo, estão os últimos acontecimentos sobre o Montepio e a Caixa. Sempre a Caixa onde “já não dão uma para a Caixa”. Não há dúvida que tais instituições foram de confiança… noutros tempos, com outra gente. Hoje, deviam ser obrigadas a ter à porta um letreiro a avisar: “SE QUER SER ASSALTADO, ENTRE”.

Mesmo com falta de alternativas seguras, há milhões de portugueses que já tiraram a “massa” dos bancos, no todo ou em parte. E foram muitos milhares de milhões de euros. Aqueles que têm “nota até dar c’um pau”, já a “puseram ao fresco”, que é como quem diz, abrigada num dos muitos paraísos fiscais deste mundo (e que são motivo de inveja para quem não tem nada para lá pôr). Ora, para os outros que já o sacaram do banco e têm “abafado” em casa, existem muitos conselhos sobre onde e como se deve guardar. E o primeiro é de que nunca o devem colocar num cofre, pois é demasiado óbvio e será o primeiro local onde qualquer “aprendiz de ladrão” vai procurar. Por isso, esqueçam o cofre, deixem-no trancado mas só com papéis inúteis e veneno para os ratos. Alternativas? Noutros tempos, guardava-se no colchão entre o “folhelho” ou num dos muitos buracos das paredes de casa, mas já não há “folhelho” nem buracos nas paredes. É melhor escondê-lo no fundo de um dos vasos de flores que tenham aí em casa ou debaixo de um objeto pesado como uma mesa de bilhar – os ladrões são preguiçosos e pouco dados a grandes esforços físicos. Também se sugere guardá-lo numa tomada elétrica desativada (se o “pacote” for grande, têm de escavar a parede o suficiente para lá caber tudo), no aparelho de ar condicionado ou colocá-lo no congelador do frigorífico misturado com a carne e o peixe – cuidado para depois não meteram a “massa” na panela, por que não é suficientemente boa para fazer sopa… Mas nada disto é inovador pois vem nos “livros” e a internet ensina tudo, tanto aos que o querem guardar como aos que o andam a “gamar” (e não me refiro aos bancos…).

Também se pode emprestá-lo, algo que não se tem revelado ser boa política. Se lhe passar pela cabeça de ceder à tentação de emprestá-lo a um “amigo do peito” que lhe anda a fazer o choradinho, peça à sua mulher que o tranque a si na dispensa, a sete chaves, sem telemóvel nem outro meio de comunicação, até que essa febre lhe passe. É que, se levar essa patetice por diante, seguramente perde o dinheiro e o amigo, vai chatear-se com a mulher porque “bem o avisou” (e vai dar-lhe na cabeça durante os próximos cem anos…) e você fica com um grande “melão” e a chamar-se de burro até voltar a fazer o mesmo com outro “amigo”. Porque nunca se aprende…

Pode ainda emprestá-lo ao estado, o que não deixa de ser tentador. Até paga juros excelentes, como foi o caso do empréstimo à Caixa Geral de Depósitos. Mas, e há sempre um mas, há uns “maduros da política” que defendem a teoria de que os mercados devem perdoar metade da dívida, para já, e depois se verá em relação ao resto (e há partidos que até já puseram cá fora um estudo a propor formas de tramar os credores…). Ora, se emprestarmos ao estado, fazemos parte dos “mercados” como os outros e também podemos estar sujeitos às consequências de uma dessas “ideias peregrinas”. E a gente que lá tem a massa é que fica a “arder”…

Pensando ajuizadamente, se quer emprestar o cacau que juntou durante anos de sacrifício, empreste-o a… si. Isso mesmo, a si e a mais ninguém. Empreste já algum a si e vá dar a volta ao mundo. Vá ver o pôr do sol no polo norte, a desova dos salmões no Canadá ou a grande migração dos animais selvagens em África vista de balão. Vá onde a sua viagem de sonho o levar, porque só a pode concretizar enquanto andar por cá… Vai ver que, se o fizer, será o dinheiro mais bem aplicado, mais bem guardado, que nunca perderá. Será sempre um bom investimento… E você precisa de investir em si, enquanto é tempo. Até porque, será o único “capital” que vai levar consigo na última viagem…

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