Embora não pareça, a verdade é que também já fui músico – acho que foi noutra encarnação, tal a distância temporal… Bom, dizer que fui músico é presunção minha pois, na realidade, o facto de ter tocado viola e integrado um “conjunto musical”, aquilo a que hoje vulgarmente chamam “banda”, não me confere o direito de me classificar como tal. Seria uma ofensa para os verdadeiros músicos. Mas aprendi algumas lições nessa minha viagem pelas notas… de música.
Comecei a tocar viola quando estudava em Coimbra e, no dia em que me ensinaram três acordes, estive cinco horas seguidas a tocar. Acabei com as pontas dos dedos da mão esquerda cobertas de bolhas e só pude voltar a pegar na viola uma semana depois.
Primeira lição – “Roma e Pavia não se fizeram num dia”.
Como não tinha dinheiro para comprar uma viola nova, fiz poupanças da pequena verba que os meus pais me davam para o trimestre e comprei uma viola velha a um colega da escola. Poucos dias depois, ao praticar no quarto, toquei com ela ao de leve na cabeceira da cama e fiquei com duas metades na mão quando a frágil caixa se partiu ao meio.
Segunda lição – “O barato sai caro”.
Durante os anos que estive em Coimbra acabei por aprender mais acordes e várias músicas em voga nessa década de sessenta, o suficiente para animar a malta quando em grupo, o que não é muito difícil, especialmente quando há bebida à mistura.
Terceira lição – “Quem canta mal, canta sempre”.
Depois, com as economias do meu estágio em Angola e alguma poupança no salário do primeiro emprego, consegui juntar (e nessa altura era possível juntar algum dinheirito) o suficiente para comprar livros de música e uma guitarra elétrica barata mas sem amplificador. Entretanto, como o meu amigo Nelo regressou da Alemanha onde esteve a trabalhar durante as férias grandes e trouxe duas guitarras e um amplificador, criou as condições mínimas para nos constituirmos como “conjunto musical”, integrando o grupo o meu irmão António e o Zé Melo. E foi numa festa privada em casa da D. Palmira Meireles que fizemos a primeira atuação dos “Moscas”, só por si um feito para a época. Entusiasmados com o arranque, compramos uma bateria nova e mais tarde, através de um familiar que recebera uma prenda vinda dos Estados Unidos para um sobrinho, acabamos por adquirir uma Fender Stratocaster, o top das guitarras e de que só havia meia dúzia em Portugal. A verdade é que nunca tirei dela o devido partido.
Quarta lição – “A viola quer-se na mão do tocador”
Eu era o baixista do conjunto mas, com a ida do meu irmão para o Ultramar, tive de ocupar o seu lugar de solista, entrando um primo para o lugar que deixara.
Quinta lição – “Quem toca muitos instrumentos não toca bem nenhum”.
Todos os conjuntos musicais, desde o 1111 do José Cid ao grupo do Shegundo Galarza, tocavam essencialmente nos grande bailes (os concertos e festivais ainda não eram moda). Ora, era esse também o nosso mercado, embora num âmbito mais regional. Apesar da diferença técnica, “tocávamos limpinho” e sabíamos animar um baile, o que nos levou a atuar em muitos e bons palcos, desde o Grande Hotel da Curia ao Clube Fenianos Portuense, da Assembleia Lousadense a outras da região.
Sexta lição – “Na terra dos cegos, quem tem um olho é rei”.
Acabei por deixar temporariamente o conjunto quando fui cumprir uma comissão de serviço militar em Moçambique, reentrando o meu irmão que entretanto regressara de Angola. Enquanto estive fora o conjunto mudou de nome duas vezes e recebeu novos (e bons) músicos que melhoraram muito a qualidade do grupo. No entanto,
apesar de ter atingido um bom nível, não sobreviveu muito tempo após o meu regresso. Todos acabaram os cursos e entraram na vida profissional. Acabara-se o tempo das ilusões, era o tempo de “cair na real”.
Sétima lição – “Não há bem que sempre dure nem mal que não acabe”.
Os momentos em que toquei no grupo foram únicos, algo que nunca esquecerei. Foi um prazer para o espírito e um consolo para a alma. Alheava-me totalmente do mundo que me rodeava, despia-me de problemas, usufruindo em pleno desse êxtase. Afinal havia Céu…
Oitava lição – “Quem faz o que gosta, nunca vai trabalhar na vida”.
Décadas depois, fico impressionado com a quantidade e qualidade de jovens, esses sim, músicos que me davam dez a zero e souberam aproveitar as oportunidades de hoje que eu não tive. Entre muitas outras, o Conservatório do Vale do Sousa tem sido uma fábrica de sonhos para muitos desses jovens que querem singrar na música, afirmando-se como uma excelente escola com resultados à vista. São disso exemplo todos aqueles que viraram profissionais, um excelente cartaz para o Conservatório, uma honra para professores e dirigentes da ACML e um orgulho para os pais. E isso ficou bem patente no excelente Concerto de Natal que alunos e professores do Conservatório deram recentemente na Casa da Música, no Porto.
No entanto, sendo muito difícil assegurar a sustentabilidade de uma instituição como aquela, é importante que a estrutura diretiva da ACML tenha tranquilidade e paz necessárias para se concentrar no que é essencial e esquecer o que é acessório.
E nesse acessório estão (ainda) os problemas levantados por alguns músicos que deixaram a banda da ACML há alguns anos (mas levaram bens que a esta pertencem) e provocaram um conflito aberto e continuado, já apelidado de “terrorismo psicológico”, só possível pela morosidade da justiça e dos seus absurdos. Por isso, já é tempo de meterem a mão na consciência, repensarem a sua postura e porem um ponto final nessa “guerra” sem sentido. Seria um ponto a seu favor e… muitos mais a favor de todos nós… comunidade.
Embora não pareça, a verdade é que também já fui músico – acho que foi noutra encarnação, tal a distância temporal… Bom, dizer que fui músico é presunção minha pois, na realidade, o facto de ter tocado viola e integrado um “conjunto musical”, aquilo a que hoje vulgarmente chamam “banda”, não me confere o direito de me classificar como tal. Seria uma ofensa para os verdadeiros músicos. Mas aprendi algumas lições nessa minha viagem pelas notas… de música.
Comecei a tocar viola quando estudava em Coimbra e, no dia em que me ensinaram três acordes, estive cinco horas seguidas a tocar. Acabei com as pontas dos dedos da mão esquerda cobertas de bolhas e só pude voltar a pegar na viola uma semana depois.
Primeira lição – “Roma e Pavia não se fizeram num dia”.
Como não tinha dinheiro para comprar uma viola nova, fiz poupanças da pequena verba que os meus pais me davam para o trimestre e comprei uma viola velha a um colega da escola. Poucos dias depois, ao praticar no quarto, toquei com ela ao de leve na cabeceira da cama e fiquei com duas metades na mão quando a frágil caixa se partiu ao meio.
Segunda lição – “O barato sai caro”.
Durante os anos que estive em Coimbra acabei por aprender mais acordes e várias músicas em voga nessa década de sessenta, o suficiente para animar a malta quando em grupo, o que não é muito difícil, especialmente quando há bebida à mistura.
Terceira lição – “Quem canta mal, canta sempre”.
Depois, com as economias do meu estágio em Angola e alguma poupança no salário do primeiro emprego, consegui juntar (e nessa altura era possível juntar algum dinheirito) o suficiente para comprar livros de música e uma guitarra elétrica barata mas sem amplificador. Entretanto, como o meu amigo Nelo regressou da Alemanha onde esteve a trabalhar durante as férias grandes e trouxe duas guitarras e um amplificador, criou as condições mínimas para nos constituirmos como “conjunto musical”, integrando o grupo o meu irmão António e o Zé Melo. E foi numa festa privada em casa da D. Palmira Meireles que fizemos a primeira atuação dos “Moscas”, só por si um feito para a época. Entusiasmados com o arranque, compramos uma bateria nova e mais tarde, através de um familiar que recebera uma prenda vinda dos Estados Unidos para um sobrinho, acabamos por adquirir uma Fender Stratocaster, o top das guitarras e de que só havia meia dúzia em Portugal. A verdade é que nunca tirei dela o devido partido.
Quarta lição – “A viola quer-se na mão do tocador”
Eu era o baixista do conjunto mas, com a ida do meu irmão para o Ultramar, tive de ocupar o seu lugar de solista, entrando um primo para o lugar que deixara.
Quinta lição – “Quem toca muitos instrumentos não toca bem nenhum”.
Todos os conjuntos musicais, desde o 1111 do José Cid ao grupo do Shegundo Galarza, tocavam essencialmente nos grande bailes (os concertos e festivais ainda não eram moda). Ora, era esse também o nosso mercado, embora num âmbito mais regional. Apesar da diferença técnica, “tocávamos limpinho” e sabíamos animar um baile, o que nos levou a atuar em muitos e bons palcos, desde o Grande Hotel da Curia ao Clube Fenianos Portuense, da Assembleia Lousadense a outras da região.
Sexta lição – “Na terra dos cegos, quem tem um olho é rei”.
Acabei por deixar temporariamente o conjunto quando fui cumprir uma comissão de serviço militar em Moçambique, reentrando o meu irmão que entretanto regressara de Angola. Enquanto estive fora o conjunto mudou de nome duas vezes e recebeu novos (e bons) músicos que melhoraram muito a qualidade do grupo. No entanto,
apesar de ter atingido um bom nível, não sobreviveu muito tempo após o meu regresso. Todos acabaram os cursos e entraram na vida profissional. Acabara-se o tempo das ilusões, era o tempo de “cair na real”.
Sétima lição – “Não há bem que sempre dure nem mal que não acabe”.
Os momentos em que toquei no grupo foram únicos, algo que nunca esquecerei. Foi um prazer para o espírito e um consolo para a alma. Alheava-me totalmente do mundo que me rodeava, despia-me de problemas, usufruindo em pleno desse êxtase. Afinal havia Céu…
Oitava lição – “Quem faz o que gosta, nunca vai trabalhar na vida”.
Décadas depois, fico impressionado com a quantidade e qualidade de jovens, esses sim, músicos que me davam dez a zero e souberam aproveitar as oportunidades de hoje que eu não tive. Entre muitas outras, o Conservatório do Vale do Sousa tem sido uma fábrica de sonhos para muitos desses jovens que querem singrar na música, afirmando-se como uma excelente escola com resultados à vista. São disso exemplo todos aqueles que viraram profissionais, um excelente cartaz para o Conservatório, uma honra para professores e dirigentes da ACML e um orgulho para os pais. E isso ficou bem patente no excelente Concerto de Natal que alunos e professores do Conservatório deram recentemente na Casa da Música, no Porto.
No entanto, sendo muito difícil assegurar a sustentabilidade de uma instituição como aquela, é importante que a estrutura diretiva da ACML tenha tranquilidade e paz necessárias para se concentrar no que é essencial e esquecer o que é acessório.
E nesse acessório estão (ainda) os problemas levantados por alguns músicos que deixaram a banda da ACML há alguns anos (mas levaram bens que a esta pertencem) e provocaram um conflito aberto e continuado, já apelidado de “terrorismo psicológico”, só possível pela morosidade da justiça e dos seus absurdos. Por isso, já é tempo de meterem a mão na consciência, repensarem a sua postura e porem um ponto final nessa “guerra” sem sentido. Seria um ponto a seu favor e… muitos mais a favor de todos nós… comunidade.