Créditos e vida mais longa…

Um amigo costumava dizer-me com ar sério que, “qualquer homem que consiga aturar a mulher durante cinco anos, tem o direito ao céu”. Então, eu pensava cá para mim: “Aos anos que aturas a tua, já tens direito a oito… Mas, como quando fores desta para melhor só vais precisar de um, deveria ser-te concedido um crédito de sete céus sem que isso te retire o lugar que já tens assegurado (?) num recanto feliz do Além”… E eu imaginava o direito a esse crédito ao lembrar-me do livro “A Maravilhosa Aventura” do escritor italiano Dino Segre, mais conhecido por Pitigrilli. Ali se conta a história de um homem que foi condenado injustamente por um crime que não cometeu e foi parar à prisão. Só quando anos mais tarde o verdadeiro culpado confessou ter sido o autor do crime, é que veio a ser reconhecida a sua inocência e libertado. Então, para ser ressarcido dos anos que lá passou, pediu ao juiz que lhe concedesse um crédito desse tempo por forma a que, sempre que viesse a cometer um delito qualquer de que resultasse prisão, em vez de cumprir a pena esta lhe fosse descontada na conta. O juiz concordou com a pretensão. A partir daí, sempre que cometia uma infração e as autoridades o prendiam, ia ao juiz e era imediatamente libertado, sendo o tempo da pena descontado nos anos que tinha a haver. Isso fez com que, a partir de certa altura, as autoridades locais já cansadas de o prender e ter de libertar de imediato, passaram a “fazer vista grossa” às infrações, tornando-se o crédito uma espécie de salvo conduto para cometer ilegalidades e infrações sem que daí viessem consequências. E o mesmo seria devido ao meu amigo pois, com sete céus a haver, podia “m. fora do penico” por conta do crédito que possuía…

Os créditos fazem-me lembrar as novas regras das cartas de condução. Sem termos feito nada por isso, nem de bom nem de mau, foram-nos concedidos doze pontos. Também aqui podemos fazer alguns desvarios e cometer ilegalidades, que as penalidades aplicadas serão abatidas à nossa “conta” pessoal. Tudo bem, é provavelmente a única forma de travar a tendência para prevaricar, para ultrapassar os limites de velocidade e o teor de álcool no sangue. Só acho que os condutores exemplares deveriam ser premiados todos os anos com alguns pontos de crédito por bom desempenho. Seria justo. De outra forma, como o único crédito possível são uns míseros três pontos ao fim de três anos, a lei praticamente não beneficia o cumpridor.

Esta conversa veio à “baila” porque assisti recentemente a um colóquio sobre a evolução da população portuguesa e duas ideias se confirmaram. A primeira, é que estamos com um grave problema de envelhecimento. Há cinquenta anos as crianças eram o maior grupo etário em Portugal e, há medida que se subia na idade o número de pessoas ia diminuindo, fazendo com que a escala etária fosse uma pirâmide perfeita. Hoje, a base da pirâmide onde estão representadas as crianças encolheu de forma muito significativa pela redução da natalidade enquanto lá em cima, aumentaram os idosos como eu e o topo tem-se vindo a alargar. Isto quer dizer que daqui a vinte ou trinta anos a pirâmide demográfica estará invertida com poucas crianças e muitos velhos. Sem dúvida, vamos ser um país de velhos… a não ser que os casais jovens acordem e alterem este filme. Como? Fazendo filhos. Menos entretenimento e mais trabalho caso contrário, não vão ter netos, não vão ter reformas, nem vão ter quem tome conta de si. Dediquem-se já à função…

A segunda ideia é unânime, de que as mulheres vivem em média mais seis anos do que os homens. Sempre foi assim. Ainda esta semana uma senhora me dizia que só no lugar onde mora há mais de uma dúzia de viúvas de meia idade. O facto das mulheres durarem mais tempo do que nós tem merecido os mais diversos estudos e explicações, tanto de cientistas como de cidadãos comuns e até de imbecis. Ora, há quem atribua essa maior durabilidade às “pilhas. Serão Duracell? Outros, dizem que tal se deve à “ruindade das mulheres”, confirmando-se assim a sabedoria popular que “prato ruim não cai abaixo do louceiro”. Explicam até que “os bons (e falamos dos homens) morrem mais cedo, antes que se ponham maus, enquanto os maus (claro, as mulheres) ficam por cá mais tempo para ver se passam a bons… Ao falar nestas coisas, uma das Teresas cá de casa disse-me com um sorriso que “os homens são como os perus: Custam a vingar”…

Muita gente acredita que os homens morrem mais cedo por… terem de aturar as mulheres. A ser assim, tem razão o meu amigo ao dizer que nós temos direito ao céu ao fim de cinco anos de “sacrifício”… Ora, se o motivo principal de vivermos menos seis anos do que elas for esse, tenho uma solução para os homens que queiram viver tanto como as mulheres:… “Casem com outro homem”. Mas, atenção, é um mero conselho baseado no ditado popular “olhem para o que eu digo e não olhem para o que eu faço”. Aliás, devo acrescentar que se esta for a única solução para vivermos mais tempo, tenho uma certeza absoluta: Vou morrer mais cedo…

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