Rituais de acasalamento…

Há dias fiquei parado diante da televisão a ver um programa sobre a natureza e o mundo animal, que passava imagens de aves no período de acasalamento e me deixaram impressionado pela beleza, excentricidade e colorido mas, sobretudo, por a maioria das exibicionistas serem… machos.

Os rituais de acasalamento de muitas aves são impressionantes, a começar pelas “aves do paraíso”, com os machos numa autêntica explosão de plumas douradas, danças estilizadas e leques em cores reluzentes de rara beleza, tendo esse comportamento como único objetivo atrair a atenção da fêmea. Até o “tangará”, pequena ave conhecida como “o dançador”, é visto todo o ano a saltar e a dançar com o intuito de atrair a fêmea ao seu “redil” para acasalar. Depois da consumação do ato, vê-a partir e volta à sua condição de “solteiro”, retomando as danças para conquistar outras fêmeas.

A escolha de parceiros entre as aves implica rituais que não são mais do que estratégias de sedução de um sexo para atrair o sexo oposto. Nessa escolha, procuram-se sinais evidentes de “bons genes” para transmitir aos filhotes daí que, machos e fêmeas, fazem “autopromoção” das suas qualidades, “vendendo imagem”. Nesses rituais, o macho é o mais exibicionista, no brilho, na multiplicidade de cores, na exibição de danças e cantos elaborados para além dos combates físicos pela “sua dama”, como “propaganda genética” indicadora das qualidades do potencial parceiro. As cores, a sumptuosidade das caudas e das penas são, aos olhos das fêmeas, uma “vantagem reprodutiva”, tal como acontece com o pavão em que o preferido é sempre o que tem penas maiores, mais coloridas e mais bonitas. É por isso que ele se “arma”…

Mas, se nas aves são importantes as características referidas para a “conquista”, já nos insetos é o vibrar das asas, nas rãs o coaxar e nos mamíferos dominantes, como o leão, o macho é escolhido pela força, pela capacidade de proteção que pode dar à prole. Muito curioso, é o facto de algumas aves oferecerem presentes à “fêmea amada” para aumentarem as suas chances de acasalar, nomeadamente alimentos e objetos coloridos, para além de outras manifestações “amorosas” que vão desde as exibição de habilidades, paradas de beleza, todo o tipo de vocalizações, exibições de asas e voos.

Ao ver o programa sobre estes comportamentos, pensei que estava a assistir aos “espetáculos” que nós, seres humanos, fazemos, noutras formas, noutras cores, noutros exibicionismos, mas com o mesmo objetivo: Acasalar.

Desde jovem, o homem cuida da sua aparência, toma banho, perfuma-se e veste-se bem, por forma a ficar mais ”atrativo” e chamar a si a atenção das jovens “fêmeas”, em “luta” com outros “machos”, num dos múltiplos rituais de acasalamento que praticamos, a maioria dos quais nem nos apercebemos que o são, sempre com o objetivo de acasalar. Na adolescência, algumas exibições de “macho” são positivas como, ser giro, alto, forte, atlético, exuberante, alegre, educado, galante e respeitoso mas, também se podem revelar pela negativa, com manifestações de rebeldia, violência ou grosseria. Muito do querer ser o melhor jogador, o modelo brilhante ou o artista do momento, para além dos objetivos financeiros, são rituais com o objetivo de fazer com que elas, os “alvos”, caiam nos braços do herói, que é como quem diz, na sua cama. Por alguma razão, à volta dos grandes artistas, das grandes vedetas, dos grandes atletas, “voam” numerosas “fêmeas histéricas”, com as “fortificações” totalmente rendidas e à disposição total do “conquistador”, a quem se entregam sem condições.

Enquanto o pavão exibe a beleza e o comprimento das suas penas para conquistar a fêmea, o homem “macho” exibe a roupa de marca, o relógio de ouro ou o último modelo de carro desportivo, quando não a casa mais espetacular… Enquanto o tangará se destaca por ser um grande “dançador”, o homem “macho” exibe os seus “atributos” no “pop” ou no “rock” (quando não na bebedeira ou pior…), fazendo o roteiro das “discotecas na berra” para mostrar que é o “rei da noite”. Se o leão usa a força para se impor aos outros machos, submetendo as fêmeas com a segurança que lhes dá, o homem ”macho” revela a sua “importância” pelo lugar que desempenha na empresa, pelo poder que tem na política ou numa organização qualquer, oferecendo “segurança” à(s) fêmea(s) ao exibir condição económica para lhes “botar casa” e garantir uma vida de “bem bom”. Enquanto algumas aves e outros animais presenteiam as fêmeas com alimentos ou objetos coloridos para que lhes “abram a porta” do acasalamento”, o homem “macho” oferece flores, anéis e joias diversas, perfumes e todo o tipo de prendas, para ser mais persuasivo e chegar ao mesmo objetivo.

E elas? Têm também os seus rituais de sedução (e não são poucos) pela via da beleza, das toiletes, dos penteados, da maquilhagem, dos gestos estudados, dos “pedaços de mau caminho” mais ou menos mostrados ou insinuados, das danças sensuais, dos olhares, dos “risinhos”, do roçar do corpo no corpo, das palavras sussurradas, do bambolear das ancas, do cruzar das pernas, enfim, uma infinidade de meios para que o “macho” escolhido lhe caia na “rede”, às vezes sem saber como nem porquê.

Em suma, por mais inteligentes ou superiores que nos consideremos em relação aos outros animais, temos também os nossos próprios rituais de acasalamento, com uma “pequena” diferença: Se nalguns desses rituais conseguimos “fazer gala” daquilo que nos distingue deles, noutros, revelamos o pior que há em nós e que nos torna no animal mais ordinário, remetendo-nos, como diz o povo, para o lugar “abaixo de cão”, sem querer ofender amigo tão fiel…

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