A importância do canal “aberto”…

Como dizem que devo ser “politicamente correto” e dado que existem alguns preconceitos em falar sobre o mais importante orifício natural do ser humano, até mesmo algum pudor, pedi ao diretor do jornal para colocar um C vermelho no canto desta crónica (com o intuito de se diferenciar da rodinha na televisão) para alertar espíritos mais sensíveis. Mas, mesmo assim, vou designá-lo só por C com um ponto à frente, se bem que todos os leitores vão logo perceber que me estou a referir ao CU. Mas a culpa já não será minha…

Estava a sacudir o pó das calças quando um miúdo passou por mim a correr e, atrás dele sem o conseguir agarrar, a mãe berrou: “Anda cá, meu filho da p… Quando o teu pai chegar, levas um chuto no C. que vais parar ao C. de Judas”. Parei e ri, pelo ridículo, pelo absurdo. Que rico apelido a mãe estava a pôr a si própria… Mas, o que me chamou a atenção foi o facto dela tratar tão mal esse “buraco ao fundo das costas” com “um chuto no C.” e o vais “parar ao C. de Judas”. E não é justo.

O C. é o parente pobre duma parceria com as nádegas, conhecida por traseiro, “rabo” ou “padaria”, aquilo que os brasileiros elegeram como a coisa mais importante na mulher: A “bunda”. Nesse “casamento”, não tem lugar de destaque nem é figura de primeiro plano. A publicidade mostra imagens de “bundas” famosas e sensuais mas nunca de um C. que, pura e simplesmente, ignoram de forma miserável, se bem que ainda ninguém viu uma “bunda” sem ele. A sua imagem jamais foi capa de revista… Aliás, tem razões de sobra para ter complexos de inferioridade já que todos nós nos preocupamos em “mirar” a cara, o cabelo e outras partes do corpo, mas quem é que já espreitou o C. ao espelho? Até seria a forma de fazer exercício físico, contorcionismo até, mas, nem assim… Bom, exceto o homem que deu entrada nas urgências de um hospital público com uma lâmpada dentro do intestino. Alegou que estava a brincar com a lâmpada diante do C. e esta “sumiu” da mão e “caiu fundo”, semelhante ao que nos acontece quando nos pomos na borda de um poço a espreitar e o boné nos escapa da cabeça e cai lá em baixo. Coisa normal… Nada de estranho… Só gostava de saber, quando ele estava “olhos no olho” com a lâmpada a “alumiar”, qual era a posição? Sim, em que posição estava ele? Simples curiosidade…

Os humoristas aproveitam o ”desgraçado” de forma depreciativa, para criarem piadas porcas e picantes, enquanto os adeptos de futebol, usam e abusam do seu nome nas palavras que arremessam ao árbitro, jogadores e dirigentes, como “vai apanhar no C.”, “meu cara de C. à paisana” ou ”vais levar um pontapé no C.”. Mas há ainda aqueles que dizem que tem um “olho”. Se tem, só pode ser cego ou analfabeto porque, antes de haver papel higiénico, usava folhas de jornal e nunca me leu uma só palavra quanto mais uma notícia completa…

Devíamos ter em consideração a sua extraordinária importância pelas coisas que dele saem (se bem que alguns também o valorizam pelas que entram…). Mas não, temos vergonha dos seus “produtos e aromas” e, talvez por isso, é tido como a “porta do fundo” do nosso corpo.

Diz a poeta Hilda Hilst que “o snobismo e a vaidade humana só se sustentam porque o homem não pensa que é proprietário de um esgoto fétido que o acompanha para onde quer que vá, inclusive nos restaurantes mais luxuosos e nas reuniões mais célebres”. Mas é normal que o ignore e esqueça porque lhe é prejudicial à imagem e à vaidade, tal como o são os parentes pobres…

Verdade, verdade, sem o C. não há solução. Nem se compreende que, numa sociedade “aberta” um tema destes seja tão “fechado” quando todos precisamos que se abra todos os dias… É que, se ele “entope”, o “caldo está entornado”. Para o “trânsito” retomar a marcha normal, às vezes “faz-se entrar” um “facilitador”, como é o caso do “clister”. Há dias na televisão uma senhora explicava isso mesmo, mostrando como introduzir um litro de água morna para fazer uma limpeza ao “trânsito”. Ora, como a senhora era muito boa (apresentadora, claro), fiquei especado à espera que ela fizesse a demonstração pública em si, mas esperei em vão…

Pessoalmente trato o meu com todo o cuidado, como de um funcionário zeloso se tratasse, retribuindo-lhe com justiça social o seu excelente desempenho. Com isso, tenho conseguido uma relação de patrão/empregado muito “produtiva”, sendo que nunca deixa de cumprir diariamente as suas funções e até me brinda frequentemente e sem ser obrigado, com algumas notas musicais de gosto duvidoso, “fora de tom”, quase sempre acompanhadas de odor intenso… O meu maior receio é que um dia, para reivindicar alguma regalia “laboral”, resolva fazer greve e “feche” o canal. Nem me quero imaginar com o “trânsito entupido”…

Diz o povo que, enquanto nós “caímos de C.”, há para aí uns quantos que a justiça quer julgar porque “encheram o C. à nossa conta” embora eles, para nos atirarem “areia para o olho”, argumentam que “nasceram com o C. virado para a Lua” que é como quem diz, cheios de sorte. Ora, “sem querer fugir com o C. à seringa”, acho que a esses, deveríamos mandá-los para bem longe, isto é, “para o C. de Judas”, ficando assim a saber que isto aqui “não é o C. da mãe Joana”. Só assim sabiam o que é ter medo ou seja, “ficavam com o C. na mão” porque, “quem tem C. tem medo”.

Bom, se comecei esta conversa a falar de calças, é caso para perguntarem: “ Mas o que tem a ver o CU com as calças”?

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