A fuga dos porcos

Um canal televisivo nacional noticiou que informadores jornalísticos disfarçados de sobreiros na planície alentejana observaram milhares de porcos a atravessar a fronteira, longe do controle do pessoal do SEF (Serviço de Emigração e Fronteiras) que estava a dormir nos postos de controle (como é habitual), fugindo para Espanha pela calada da noite.

Os informadores não conseguiram saber a razão de tal fuga porque os porcos seguiam de boca fechada mas, um agente infiltrado, seguiu um porco cansado e sequioso da longa viagem “à pata” até este, para matar a sede, emborcar algumas “pias” de suco de bolota, ficando de tal maneira grogue que saiu a correr em direção ao escuro da noite e, não se apercebendo do obstáculo, bateu com o focinho num “chaparro”, estatelando-se no chão zonzo e a grunhir.

Só assim, tonto e desbocado, é que o jornalista lhe arrancou a informação de que a debandada dos porcos para o estrangeiro era para salvar as suas vidas, devido à aproximação das eleições autárquicas de Setembro e das inevitáveis campanhas eleitorais. “Mas porque é que fogem se vocês nem sequer são do governo” quis saber o jornalista?

O porco, ainda com a cabeça a andar à roda da “focinhada”, revelou que a maioria dos candidatos autárquicos a estas eleições se tinham reunido em plenário e decidido substituir as promessas habituais (em que o povo já não acreditaria devido à crise) por festas/comício, onde irão oferecer ao povo (com o dinheiro deste) grandes patuscadas de “porco assado no espeto” regado a tinto carrascão.

Como a partir de agora abriu a “caça ao voto do Zé Povinho” em que todos os meios são válidos para atingir o fim, eles (porcos), antes que comecem as patuscadas prometidas, resolveram “dar à sola” que é como quem diz “dar à pata”, antes que o lume lhes chegue ao rabo. Mesmo zonzo, ainda lhe disse que o sindicato dos porcos, para evitar este massacre da espécie, andou em negociações com representantes dos candidatos, mediadas pelos ministérios da agricultura e da administração interna, propondo que os putativos autarcas continuassem a prometer novas estradas, pavilhões, rotundas e fontes luminosas, bem como empregos nas próprias autarquias (de lado ficou a oferta de televisões, máquinas de lavar, frigoríficos, secadores e outros artigos por serem importados), uma solução bem menos carniceira mas não aceite pelos negociadores. “Ora, ora, são boatos e vocês porcos ficaram logo à rasca” diz-lhe ele. “Pois não, será que você gostaria que lhe enfiassem um pau pelo rabo a cima até sair pela boca, e o pendurassem ao lume ?” perguntou-lhe o porco. “Não responde? Se calhar até gosta…”

Informações posteriores dizem que quase todos levavam consigo as ninhadas para evitar que, na falta de porco para as patuscadas, os candidatos alterassem a ementa para “leitão à Bairrada”.

Em nenhum ponto do país foram vistos porcos pretos em fuga, mas isso foi justificado pelo seu elevado valor nos mercados, que lhes confere o privilégio de ocuparem grandes herdades no Alentejo e de serem tratados com um estatuto especial.

Observadores estranharam a presença de grande número de burros, quase todos de óculos escuros e bem amanhados, tentando passar despercebidos entre os porcos. Mas um agente astuto, deu dois zurros a uma burra tão bem dados que esta lhe confessou que estavam a fugir porque, se ficassem no país, seriam agarrados para ministros ou outros lugares de responsabilidade.

Todos os porcos iam carregados de bolota que levavam escondida nos alforges, com medo dos assaltos. Sabe-se que, durante a fuga dos porcos através das matas, sempre que eram obrigados a atravessar alguma estrada nacional, tinham muita dificuldade em fazê-lo sem serem vistos, por esbarrarem com frequência com comboios de todo o tipo de viaturas, carregadas de artistas e cantores “Pimba” que regressavam a Portugal para as festas/comício. Nisto de festas/comício, os cantores mais requisitados são aqueles que estão no palco rodeados de bailarinas, rebolando tudo o que há para rebolar, fazendo com que os potenciais votantes parem de dar a dentada na febra do porco manco que não conseguiu fugir, de olhos esbugalhados e baba a sair pelos cantos da boca, não pela febra que estão a comer mas por aquela “franga” em cima do palco que “gostariam de comer”.

Patuscadas e promessas à parte, espero que nas próximas eleições os candidatos tenham noção clara do momento que o país atravessa, que não prometam o que não têm para dar e façam campanha pela positiva, evitando o “bota abaixo” e a guerra de acusações e de comunicados.

Que os munícipes não sejam vistos como patetas com um voto na mão que é preciso agarrar, mas como pessoas com rosto, com problemas para resolver. E se está lançado o debate nacional sobre as funções do estado, seria bom que pensássemos nas funções das autarquias e no peso da sua estrutura, se devem ser as sonhadas, com os custos inerentes, ou as possíveis, em função da nossa realidade económica. Porque, no final, com taxas, multas ou impostos diretos e indiretos, são os munícipes que as pagam. E a estes, mesmo sem lhe enfiarem um pau no rabo, para não morrerem “tesos como um carapau”, já só lhes resta fazer como os porcos: FUGIR. Entretanto chegaram “novas” das Terras de Castela” que nos dizem que muitos porcos só lá ficam transitoriamente, dado que a todo o momento também ali pode abrir a “caça ao voto”, que é como quem diz, a “corrida ao porco no espeto”, pelo que preferem instalar-se em países onde não haja eleições ou sejam ao “faz de conta” com um só candidato que não precisa de prometer nada nem de encher a pança de porco aos votantes para conseguir o seu voto.

Enquanto esperam por essa mudança de país, carregam as sacas de bolota que conseguiram levar na sua fuga de Portugal até ao jardim e enterram-nas no banco, isto é, sob o banco do jardim, por ser considerado um local de referência, como que à guarda deste, correndo o risco de um qualquer porco local ali se sentar, dar com as bolotas e meter o focinho abrindo-lhe um rombo enorme se ali ficarem por muito tempo, fazendo com que o banco se quebre ou afunde quando alguém de peso ali se sentar sem saber que está sobre um enorme buraco.

É por isso que outros mais precavidos preferem carregar a maior parte das suas bolotas para lugares que são autênticos paraísos, onde não se sabe quem tem bolota nem quanto bolota tem.

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