Estamos a ser colonizados pela língua

A língua portuguesa faz parte dos bens que constituem o património cultural do nosso povo e da nossa nação. É ela que nos permite comunicar os valores, as ideias e até os sentimentos com os outros. Mas, mais ainda, a língua portuguesa é uma identidade cultural dos seus falantes, aquilo que se chama património imaterial e temos a missão de salvaguardar este elemento vital da nossa identidade cultural comum e preservar a essência e alma de um povo. Há um imenso território de vários países comum à língua portuguesa e que nos permite compreender uns aos outros, mas a língua portuguesa que se fala no Brasil é diferente da língua portuguesa que se fala em Portugal e isso revela as nossas peculiaridades e a história de cada povo. E, por mais Acordos Ortográficos que se façam, não há forma de travar a deriva em que o Português Brasileiro e o Português de Portugal entraram, ao ponto de falarmos a mesma língua, mas muitas vezes não nos entendermos, nem sequer compreendermos o que o outro diz. Mas uma coisa é certa: a língua portuguesa é boa para insultar, elogiar, vociferar, gracejar, para escrever belos textos em prosa ou poesia, canções e poemas além das variações nos dialetos e regionalismos que enfeitam o país de norte a sul. É muito bom falar português, escrever em português e de ler, cantar e declamar em português. Fernando Pessoa dizia que “a minha pátria é a língua portuguesa”.

Mas tudo isto vem a propósito de um fenômeno que começou com a chegada do covid-19 e se instalou em Portugal, levando a que os pais de crianças, em especial de tenra idade, por comodidade, desleixo ou falta de atenção, permitam que os seus jovens rebentos comecem por aprender as primeiras palavras, e não só, em Português do Brasil. A verdade é que os pais muitas vezes nem sequer pensam e não se preocupam com isso ou simplesmente não têm tempo e acham que não faz mal colocar nas mãos de uma criança um tablet, computador ou telemóvel com vídeos brasileiros em Português Brasileiro, para os ocupar, para que estejam quietos e calados ou para que não chateiem. 

Em idade tão tenra, as crianças são diamantes em bruto e, tal como uma esponja, absorvem tudo com muita facilidade e intensidade. O “gravador” tem a “fita virgem” e não tem dificuldades em gravar tudo o que ouve. Ora, agarrados aos aparelhos eletrónicos que os pais lhes colocam nas mãos, começam por ver o Ruca, o Panda ou coisas do género, mas rapidamente passam a outros vídeos cuja maioria é de brasileiros, em especial de um tal Lucas Neto, um youtuber com 36 milhões de subscritores. A partir daí, não querem outra coisa, não há forma de os calar seja com o que for que não seja o telemóvel ou o tablet para ver mais do mesmo. E ficam viciados. No princípio, os pais acham piada que as crianças digam palavras ou frases em Português Brasileiro, porque é engraçado, riem-se e assim vão alimentando um problema sem terem consciência de até onde isso os pode levar. E depois, quando acordam para a realidade e querem fazer alguma coisa, já é tarde. Às vezes, são as educadoras de infância ou outros técnicos de educação ou sociais que identificam o problema e dão o alerta, muito preocupadas por as crianças terem o seu discurso todo em “Português Brasileiro” e não dizerem os “r”s nem os “l”s. Dizia a mãe de uma criança pequena, orgulhosa do seu rebento falar tão bem o Português Brasileiro que, por várias vezes, tinha sido abordada por pessoas desconhecidas a querer saber se a família era brasileira, tal era o sotaque da criança. 

Nada tenho contra o Português do Brasil com as particularidades, palavras e expressões que lhe são próprias, como língua corrente lá no Brasil, tal como me parece normal que aqui, em Portugal, se fale, escreva e aprenda o Português cá de Portugal, porque nós somos portugueses e não brasileiros, por quem tenho muito respeito. Mas, como diz o povo, “cada macaco no seu galho”. E nesta questão da língua, temos a obrigação de salvaguardar a nossa e transmiti-la às gerações seguintes, porque faz parte da nossa identidade e da nossa cultura. Mas, o que está a acontecer é que, à conta de muitas horas de exposição a conteúdos realizados por youtubers do Brasil, as crianças aprendem a dizer as primeiras palavras não no português original e com a pronúncia portuguesa, mas com sotaque brasileiro, sendo que muitas delas precisam de “tradução”, caso contrário não vão ser entendidas, como são os casos de chamar “ônibus” a um autocarro, de “grama” à relva, “geladeira” ao frigorífico, “carona” a uma boleia, “bonde” a um elétrico, “listras” às riscas, “van” a uma carrinha, “galera” à malta, já para não falar em “veado”, não ao animal que conhecemos, mas a um homossexual. A uma mãe, só quando o filho no supermercado lhe pediu para comprar “balas” é que o alarme se acendeu e a fez levar o miúdo à terapeuta da fala para ser tratado e a levou a controlar-lhe o acesso aos conteúdos do tablet para que não continuasse a insistir no erro de visualizar vídeos brasileiros. Quando chegam a esta fase, os pais têm de dar mais atenção e tempo à criança e explicar-lhe as razões de tal procedimento e as diferenças.

Se há pais, professores e especialistas que entendem ser um motivo de grande preocupação, pois garantem que existem crianças que mal sabem falar português de Portugal, há quem considere que se trata de uma fase da vida das crianças como aconteceu com as telenovelas brasileiras, ou uma espécie de “colonialismo reverso” para vingar a colonização portuguesa na América. 

O alerta fica para quem se preocupa com os filhos de tenra idade. Como diz a psicóloga Mónica Nogueira, “uma criança que fica muita exposta a conteúdos que não estão na língua que os pais falam, claro que vai aprender o que ouve, seja português do Brasil, seja noutra língua qualquer. Porque os pais usam os conteúdos para ter a criança sossegada, para que coma a sopa ou não incomode a conversa”. E as consequências? Logo se verão …

“Cartas de amor, quem as não tem” …

Agora já só recebemos cartas do banco ou da conta da luz, da água, do gás, da companhia de seguros e outras, mas nenhuma a perguntar como estamos, onde estamos. Já ninguém nos dá muita atenção a não ser o cobrador. Muito menos a atenção de uma carta escrita à mão, de caligrafia exemplar e legível, espaçamento calculado, com as margens delimitadas e um desenho no final. Mas, sobretudo, com mensagens de amor que nos enchiam o coração. Eram as “cartas de amor”. E por isso, as cartas sempre exigiram atenção especial dos designers, pois umas das suas características mais marcantes era o aspeto visual. Ao contrário de um e-mail ou mensagem de texto, uma carta é um objeto físico aguardado, desembrulhado e conservado. 

Num tempo em que a comunicação à distância entre pessoas estava limitada às cartas escritas, por norma à mão, dado que os telefones eram poucos, limitados e caros e os telegramas não eram práticos, as “cartas de amor” eram o recurso para ligar corações. Há 60 anos, uma carta traduzia de forma bem cristalina e clara o estado duma relação e aquilo que outra pessoa representava para nós, se calhar, mais do que mil sms com duas dúzias de caracteres. É que, uma carta de amor expressa os mais puros sentimentos, nutre a paixão e cria memórias que podem durar por toda a vida. As cartas de amor eram sempre portadoras de uma mensagem: Um desejo, uma recordação, um grito, um pedido, de gratidão ou perdão. O artista Francisco Fonseca dizia que “era um tempo em que havia tempo e até se escreviam cartas de amor”. E eram esperadas com uma enorme ansiedade, como dizia o poeta António Nobre numa carta a Cândida Ramos: “Até que enfim. Chegou. Chegou a ambicionada cartinha que era o meu tormento e cuja demora me trazia o espírito doente e o coração sobressaltado. Não imaginas as suposições (…)”. E todos os apaixonados passaram por esse tormento de esperar que o carteiro trouxesse um envelope para si, com aquelas palavras mágicas que os faziam chorar, suspirar e sonhar …

Havia fórmulas clássicas para começar uma carta: «Espero que esta carta te vá encontrar de boa saúde na companhia dos teus (…).» E todas as missivas eram cuidadosamente elaboradas. Carregavam emoções que não conseguiam ser transmitidas por meio de meras palavras faladas, às vezes atadas à timidez do momento, de um face a face. Sonhos, desejos e fraquezas eram rebelados com eloquência. O processo de escolher as palavras com cuidado, construir frases lindas e fluídas e verbalizar emoções, criava uma ligação muito mais forte. Mas a delicadeza de se escrever uma carta de amor acabou.

As cartas de amor guardavam-se no cofre, em caixas arrumadas no sótão, na parte de trás de um armário ou escondidas na gaveta das meias se não fossem muitas, longe dos olhares indiscretos, mas onde se iam buscar para reler, recordar e sonhar. E muitas vezes, em sinal de que a relação acabou, “trocavam-se as cartas” para colocar o ponto final. Há quem as tenha conservado ao longo da vida como se fossem o seu refúgio espiritual, o lugar onde recuperar o ânimo e as forças.

Dizem que devíamos reabilitar as “cartas de amor” como património da Humanidade, admitindo que uma relação amorosa nunca poderá ficar completa enquanto o casal de namorados não trocar entre si algumas dessas missivas. Atualmente temos um conjunto de meios tecnológicos que nos ajudam a comunicar, mas que muitas vezes não nos ajudam a ser mais comunicativos. Mundo estranho e paradoxal este, pois na era da sociedade da comunicação, estamos cada vez mais virados para nós próprios tornando-nos autistas, o que não é um bom presságio quando se trata de estar numa relação amorosa.

A carta deu lugar ao recado digital e por isso, ainda pior que o antigo telegrama, mais descartável. 

Como quase todos os cidadãos que soubessem ler e escrever, escrevi também as minhas cartas de amor. Aliás, não só redigi as minhas como ainda tive de escrever as de algumas pessoas que não o sabiam fazer e eu servia de escriturário, acrescentando aqui e ali alguma frase mais assertiva e romântica que a pessoa não conseguia dizer. E orgulho-me de ter ajudado a unir alguns casais. Aliás, um deles uniu-se de tal maneira que consolidou a sua relação amorosa com relações sexuais antes do tempo, o que nessa altura era coisa “complicada”, sobretudo quando “a barriga começou a crescer”, o que fez antecipar o casamento porque não havia escolha: ou era sim ou sim.

Há muitos anos, Toni de Matos cantava: “Cartas de amor, quem as não tem, cartas de amor, pedaços de dor, sentidas de alguém”. Mas já Fernando Pessoa, em verso, dizia que “todas as cartas de amor são ridículas, porque são cartas de amor”. Será que ele chegou a escrever alguma?

Receber uma carta de amor é um dos grandes prazeres negados às novas gerações que nunca vão saber que essas notas manuscritas, seladas, representam paixões, emoções, um vínculo e podem ser revisitadas. Resta-nos a efemeridade do modo como comunicamos. Venceu o utilitarismo, a informalidade, a realidade nua e crua em vez do charme, do mistério, do talento, da sedução e beleza, da elegância e intemporalidade. Hoje, a alternativa são os e-mails, Whatsapps, Messengers e emojis q.b, mas a informalidade, amistosa para uns, é realmente entediante, para outros. Que romantismo há num “Oi, linda”, “Tudo bem, fofa?”, “Queres curtir?”, “Vamos dar uma queca?” Não são formas primárias, demasiado diretas, despreocupadas e sem espírito de romance ou conquista?  

Graças às cartas de amor que foram guardadas em recantos secretos, filhos, netos e bisnetos vão encontrar respostas para as perguntas que se arrependem de nunca ter feito e os historiadores descobrirão nelas forma de reconstituir o passado e de dar vida a personagens de outros tempos, importantes ou desconhecidas, entendendo melhor como é constante, através dos tempos, a essência da humanidade. E do amor …

Os portugueses vistos pelos portugueses …

Pelo que consta nos anais da história, desde há muito tempo temos o péssimo hábito de dizer mal dos portugueses, isto é, de nós mesmo. Eça de Queirós é o exemplo acabado de como é possível, e de forma muito contundente, arrasar o portuguesinho. Fernando Pessoa dizia que, num grupo de cinco portugueses, o culpado é sempre o sexto. Somos assim, muito bons críticos de nós, mas não aceitamos que os estrangeiros o façam.                                                                              Portugal é o país do deixa andar, do deixa para amanhã o que podes fazer hoje, do desenrasca, do bota-abaixo, dos três efes. É ao mesmo tempo o Quinto Império e “os cafres da Europa”, no dizer do Padre António Vieira. Os portugueses “são excessivamente sentimentais, com horror à disciplina, individualistas, mas sem dar por isso, falhos de espírito de continuidade e de tenacidade na ação” – a descrição é de 1938 e pertence a Salazar.                                                                                 Durante os Descobrimentos os portugueses agruparam-se à volta do Estado e continua a ser assim. Adoram o Estado, à sombra do qual muitos vivem. Submissos e resignados (“O Estado vai tomar conta de nós”). Mas queixam-se de que o Estado paga as suas contas “tarde, mal ou nunca”, que presta maus serviços, é lento, burocrático. É uma relação de “amor-ódio”. E se já era assim há 600 anos, significa que não temos emenda. Não conseguimos mudar! Para mudar a maneira de vivermos é preciso implementar reformas de fundo. Mas se nem com uma maioria absoluta foram capazes de o fazer, quando é que tal vai acontecer? 

E até que ponto nós portugueses queremos mudar a nossa maneira de viver? É que, para sermos ricos como os alemães, suíços, holandeses e nórdicos temos de entrar ao trabalho às oito da manhã, trabalhar até às seis, jantar às sete e estar na cama às nove. É esta a vida que queremos? E é difícil ir para a cama tão cedo com este clima (quando não nos atraiçoa …), que mata tal intenção ou a torna impossível! É verdade que temos grandes qualidades, embora não achemos que sim como dizia o ex-ministro Luís Amado: “Só oiço dizer mal de Portugal em Portugal”, enquanto Boaventura S. Santos fala de uma má consciência por causa da passividade, que todos reconhecem, mas que não conseguem mudar. Raramente dizemos: “A culpa é minha e a responsabilidade é minha.” Por norma atiramos a culpa para o outro.

E temos pouca participação democrática. Temos medo. Medo de falar de frente, de assinar a petição, de dar a cara quando é preciso enfrentar e confrontar. Medo de ser mal vistos, de fazer figura de parvo, de levantar a voz e ser ridicularizados, ser castigados, como se o poder esteja lá em cima e nós estejamos cá em baixo (“é melhor ficar calado, está mal, mas ainda pode ficar pior, recebo pouco, mas é melhor que nada”). É o medo de tentar ir mais além. [Miguel] Torga. Descreve os portugueses assim: Um “pacífico coletivo de pessoas revoltadas”. Mas os portugueses foram para França nos anos 60 e foi precisa coragem de gigante para quem nunca tinha saído de cá e nem falava francês.  Acreditaram e conseguiram.                                                                                                     Mas sabemos que a produtividade em Portugal é um problema, mas ninguém se esforça muito para a mudar. Alguns esforçam-se, têm sucesso, como a Jerónimo Martins. Mas o grosso das empresas, em especial as do Estado, vivem de fazer o suficiente para sobreviver. Assim, como é que podemos queixar-nos? E de quem?                                                                                                    Somos maus a gerir os dinheiros públicos. Vejamos os milhares de milhões de euros que vieram de Bruxelas, de que uma boa parte foi desperdiçada em obras para nada. António Barreto disse que foi um convite ao esbanjamento e à corrupção.                                                                                                           Ainda somos um país de “chico-espertos” que conseguem contornar o sistema. Quem foge aos impostos é o grande herói! O que consegue dar a volta ao Estado e evitar pagar impostos é o campeão. Andar no limite de velocidade nas estradas ou conseguir estacionar sem pagar são pequenas vitórias do dia-a-dia. Além do tráfico de influências e a corrupção, que começa pelo “jeitinho” e nunca se sabe onde acaba.                                                                                               Quando a Coca-cola quis entrar em Portugal, Salazar escreveu-lhes uma carta a recusar, dizendo que Portugal era um sítio pacato, que queria que ficasse assim, que tinha medo do progresso e que não queria que os camiões da Coca-Cola mudassem o ritmo de vida dos portugueses. Alguém dizia: “Percebo Salazar. O que estava a dizer tem a ver com os valores, com a maneira como queremos viver.

” Os portugueses não querem viver como os americanos, gostam da maneira de viver em Portugal. Queixam-se muito, mas gostam. Se os portugueses não gostassem da vida em Portugal, já tinham mudado. Gostam de ir almoçar durante uma hora e meia, duas horas, à sexta-feira, chegar tarde ao trabalho e depois ficar lá mais tempo a falar… E no fim do mês, queixam-se que recebem pouco, que lá fora é melhor!    Mas não são grandes adeptos da mudança. Porque a temem.                                                                          Os portugueses dizem que são invejosos – que o outro é invejoso, mas nunca o próprio, bem entendido. “Se não posso ter, não quero que os outros tenham. Fico com as minhas coisinhas e fico contentinho.” O “inho” vem também de uma frustração na vida, de sentir que não consegue ter. Os portugueses não pensam que se trabalharem muito, se se esforçarem, pouparem, investirem bem, arriscarem, conseguem chegar lá. Olham para a pessoa que tem [com desconfiança]: “Deve ter conseguido o que tem com malandrice ou teve uma cunha.”         Nós dizemos mal de Portugal e mal uns dos outros, mas adoramos Portugal. Como alguém da nossa família que não suportamos, mas que é da nossa família. Porque gostamos mesmo de Portugal. E os que imigraram, se pudessem ficar cá, também ficavam … 

Vidas de enganos e desenganos …

As relações sociais entre homem e mulher continuam sem estar bem resolvidas. Pelo contrário, apesar de se ter evoluído muito sobre os direitos e a igualdade, tudo se torna mais complexo e complicado. O vínculo criado entre duas pessoas normalmente é o casamento, que na legislação portuguesa não é mais do que um contrato, enquanto no Brasil, para além de contrato, também é uma “instituição social” dada a sua importância para a sociedade. Mas essa “sociedade” entre duas pessoas tão diferentes como são o homem e a mulher leva a situações caricatas, muitas vezes cómicas, dramáticas ou ridículas. Somos nós.

No cemitério de Logan, no estado de Utah, nos Estados Unidos, existe o túmulo do senhor Russel J. Larsen, que tem a particularidade de ser o mais visitado lá da terra. Ora, o senhor Russel J. Larsen morreu sem imaginar que um dia o seu túmulo ganharia um eventual concurso como o mais visitado de todo o estado. Mas, afinal, o que é que tem de diferente a sua sepultura? Na verdade, o que atrai a curiosidade dos numerosos visitantes é o epitáfio que chega a ser hilariante por causa das frases inscritas na pedra tumular. 

Na sua lápide, Larsen mandou inscrever cinco regras que considera fundamentais para um homem ter uma vida feliz e que são:

   1 – Para um homem ser feliz é importante ter uma mulher que ajude em casa, cozinhe bem, limpe a casa e tenha um trabalho.

   2 – Para um homem ser feliz é importante ter uma mulher que o faça rir.

   3 – Para um homem ser feliz é importante ter uma mulher em quem possa confiar e não lhe minta.

   4 – Para um homem ser feliz é importante ter uma mulher que seja boa na cama e que goste de estar com ele.

   5 – Para um homem ser feliz é muito importante que essas quatro mulheres não se conheçam, caso contrário, pode terminar morto como eu”.

Com este epitáfio satírico, não é sem razão que o túmulo do senhor Larsen seja tão popular, uma espécie de atração turística, mas mais que isso, uma bem-humorada filosofia de vida para a sua época. E diria mesmo que, apesar da mudança considerável nas relações entre homens e mulheres e de uma certa tolerância à “concorrência”, não sendo caso para atitudes extremas que são raras na nossa cultura, o epitáfio continua a ter uma certa atualidade com os devidos ajustes ao nosso tempo. Até porque, até certo ponto, Larsen tem razão. Era o que confirmava um certo indivíduo quando desabafava com o amigo: “Eu tinha tudo: dinheiro, uma casa bonita, um carro desportivo, o amor de uma linda mulher e, de repente, tudo acabou”. Preocupado, o amigo quis saber: “Então, o que aconteceu”? E ele, com ar triste disse: “A minha mulher descobriu”. 

O humor mantém-se como meio para brincar com as relações entre homens e mulheres e, uns e outros, embora com a predominância masculina, não deixam de explorar o tema como neste “conselho”:

“O facto de traíres a tua mulher não significa que não a ames. É como chamar um Uber quando tens carro em casa. Poupas pneus, gasolina, desgaste do carro e quilómetros. O que faz com que o teu carro dure mais tempo. Envia isto à tua mulher e diz-me em que hospital estás”. Ora, este conselho parece ter aplicação para homens e mulheres …  

Os funerais e o que se segue quando um dos conjugues morre, dão sempre “pano para mangas”, num tema para o qual não há limites: 

“Jacó morreu. Por sua vontade, deixou 40.000 dólares para que lhe fizessem um bom enterro e arranjar uma “Pedra Comemorativa”.

Aconteceu o funeral e, depois de saírem os últimos acompanhantes, Sara, a viúva, aproximou-se da sua mais velha e mais querida amiga e disse-lhe: “Estou certa de que Jacó estará muito contente”. E a amiga respondeu: “Sim, tens razão. Mas já agora, diz-me lá, quanto custou realmente o funeral”? “Quarenta mil euros”, respondeu a viúva. A amiga, surpreendida com o valor do funeral, insistiu: “Estava tudo muito bem, mas, 40.000 dólares?? É muito caro, hein?! … Então, Sara esclareceu tudo: “O funeral custou 1.500 dólares, dei 500 à Sinagoga e para as bebidas e petiscos foram outros 5OO. O resto foi para a “Pedra Comemorativa” … Intrigada, a amiga quis saber: “37.500 dólares para uma pedra? De que tamanho é ela?? E a “pobre” viúva, estendendo a mão apontou para o seu dedo onde, encobrindo por completo o anel de ouro puro, brilhava a “Pedra” de um diamante, afinal, a tal “Pedra Comemorativa” …

Anton Tchekhov disse que “um casamento feliz pode existir apenas entre um marido surdo e uma mulher cega” e Alexandre Dumas, há muitos anos, já achava que “o fardo do casamento é tão pesado que precisa de dois para o carregar – e às vezes três”. Ora, talvez seja essa a razão por que o homem da última história tenha agido assim: Uma mulher acorda durante a noite e constata que o marido não está na cama. Veste o robe e desce para ver onde ele está. Encontra-o na cozinha, sentado, meditativo, diante de uma chávena de café. Parece estar consternado, de olhar fixo na chávena, até porque o vê limpar uma lágrima do canto do olho. “O que é que se passa, querido”? O marido levanta os olhos e pergunta-lhe com ar solene: “Lembras-te, há 20 anos, quando saímos juntos pela primeira vez? Tu tinhas apenas 16 anos”. “Sim, lembro-me como se fosse hoje”, respondeu ela. O marido fez uma pausas. As palavras custavam a sair. “Lembras-te quando o teu pai nos surpreendeu enquanto fazíamos amor no banco de trás do carro”? “Sim, lembro-me perfeitamente”, diz-lhe ela sentando-se ao seu lado. O marido continua: “Lembras-te quando ele apontou uma arma à minha cabeça dizendo: “Ou casas com a minha filha ou mando-te para a cadeia durante 20 anos”. “Lembro, lembro”, responde-lhe ela docemente. Ele limpa mais uma lágrima e diz: “Pois hoje sairia em liberdade”!

Conheça os lugares que não imagina …

No nosso mundo vasto, e surpreendentemente diversificado, existem lugares que parecem arrancados diretamente dum sonho, de alguma pintura ou, talvez, de um conto de fadas. Tantas vezes viajamos pelo mundo fora, de cidade em cidade, de monumento em monumento, de país em país e ignoramos belezas naturais surreais que só depois de vistas as poderemos imaginar. Vale a pena, pelo menos uma vez na vida, embarcar numa dessas viagens extraordinárias, numa jornada aos confins da terra onde o real e o surreal se encontram e desvendar os mistérios dos lugares que não parecem pertencer ao planeta onde vivemos. Se ama a natureza e for capaz de arriscar e incluir ao menos uma vez um desses lugares no seu roteiro de viagem, não hesite e vai ver que não se arrepende. Porque só sabemos o que vivemos …

Comece por se preparar para pousar noutro planeta ou pelo menos é o que parece ao visitar o Salar Uyune, na Bolívia, na América do Sul. Este vasto deserto de sal, o maior do mundo, no período das chuvas transforma-se num espelho gigante refletindo o céu de uma maneira que desafia a lógica e a perspetiva. Aqui, o céu e a terra fundem-se e confundem-se no horizonte, num espetáculo de beleza infinita. Mas há muito mais para ver no maior e mais alto deserto de sal do mundo. Se quiser surpreender-se com a tonalidade vibrante de rosa do lago Hiller, viaje até ao isolado arquipélago da Recherche, na Austrália, onde se encontra essa maravilha que desafia a compreensão humana. É um lago que não é como qualquer outro, pois a sua cor contrasta com o azul do oceano que o rodeia e, embora a ciência sugira que a cor rosa se deve à presença de algas e bactérias que gostam do sal, o lago Hiller permanece um espetáculo para ser visto, uma lembrança da beleza da paleta infinita de cores da natureza, para ser recordada.

Uma colisão de erro humano com a pressão geotérmica natural criou o Fly Geyser, uma maravilha geológica da cor do arco-íris, com uma aparência extraordinária. Situado no deserto do Nevada, nos Estados Unidos, com suas cores vibrantes e jatos de água dançantes, parece mais uma obra de arte alienígena do que um fenómeno geotérmico. As suas cores em vários tons de verde e vermelho, são resultado de minerais e algas termofílicas, pintando um quadro vivo no deserto.

Para quem gosta de se aventurar no frio, pode viajar até ao coração da Sibéria para observar e testemunhar a beleza do Lago Baical no inverno. Este antigo lago de água doce, não só é o mais profundo, como o de águas mais claras do mundo. Mas no inverno as suas águas congelam formando padrões de gelo que parecem joias cintilando ao sol, numa visão que redefinirá a sua compreensão da palavra frio.

A Capadócia, na Turquia, é conhecida pelas inconfundíveis “chaminés de fadas”, altas formações rochosas em forma de cone agrupadas no Vale dos Monges, que mais parecem cenários de um filme de ficção científica. É um convite para explorar histórias de civilizações que moldaram essas paisagens ao longo de milénios, visitar as casas da Idade do Bronze esculpidas nas paredes do vale por trogloditas (habitantes das cavernas) e usadas posteriormente como refúgio pelos primeiros cristãos, além de várias igrejas esculpidas nas rochas. 

Mas uma visita ao chamado “castelo de algodão”, o Pamukkale, na Turquia, é uma experiência arrebatadora. Trata-se de um conjunto de piscinas termais de origem calcária que, com o passar dos séculos, formaram bacias gigantescas de água que descem em cascata colina abaixo. A formação do Pamukkale deve-se a locais térmicos quentes por baixo do monte que provocam o derrame de carbonato de cálcio, que depois solidifica como “mármore travertino”. Muitos dizem que este capricho da natureza é a 8ª. Maravilha do Mundo. As poças são de um branco imaculado que dão a sensação de se estar nas nuvens.

Se tiver de viajar pela Europa, inclua nos seus planos uma passagem pela Polónia para visitar a misteriosa Crooked Forest, a Floresta Torta, um pequeno bosque de pinheiros em Nowe Czarnowo. O local é famoso pelas suas inexplicáveis árvores tortas. Imagine caminhar por uma floresta onde cada árvore, inexplicavelmente, curva-se elegantemente em direção ao norte, como se estivesse a prestar homenagem a um rei esquecido. Cientistas e naturistas têm as suas teorias, mas a verdade permanece um enigma envolto na bruma da imaginação.

Uma visita ao Parque Nacional de Yellowstone já justifica qualquer viagem a esta região dos Estados Unidos. É lá que se pode encontrar metade dos fenômenos geotérmicos do planeta, pois é uma das áreas vulcânicas mais quentes da Terra. Ali também encontra cachoeiras, lagos, rios, geiseres em grande atividade, incluindo o famoso Old Faithful, além de desfiladeiros deslumbrantes, florestas de cortar a respiração e uma vida selvagem extraordinária.

Podia alongar a lista de lugares fabulosos e incluir as cavernas do Waitomo, na Nova Zelândia, as estátuas gigantes na ilha da Páscoa, no Chile, as dunas douradas e cachoeiras no Jalapão, no Brasil, a Calçada do Gigante, no Reino Unido, com as suas 40.000 colunas de basalto, os 17 Lagos Plitvice interligados por um sem número de quedas de água, na Croácia, os Mosteiros de Meteora, na Grécia, construídos sobre enormes pilares de rocha, tal como as falésias do Algarve, cá em Portugal. Tal como guardo extraordinárias imagens das Cataratas de Iguaçu, no Brasil para além das Cataratas do Niagara, na fronteira Canadá/Estados Unidos, das paisagens lunares e numerosas quedas de água da Islândia e de uns quantos lugares mais deste nosso mundo cuja beleza natural nos escapa quase completamente e que parecem tirados duma realidade virtual.

Num mundo onde a rotina muitas vezes ensombra o nosso senso de maravilhamento, esses lugares – e muitos mais que ficaram fora desta pequena lista – lembram-nos a vastidão e a beleza inimaginável que existe por esse mundo além, lugares que não só desafiam a nossa perceção, como nos desafiam a questionar e perceber o que é real e o que é mágico.

Esta foi apenas uma breve viagem a alguns dos recantos tidos por mais surpreendentes do nosso planeta. Mas a verdadeira aventura começa quando decidimos ir lá fora, explorar para lá do horizonte e a conhecer locais que vão muito para além da nossa imaginação …

Mas, porque é que …

No dia a dia encontramos situações e comportamentos estranhos que nos levam a questionar: “Mas porque é que isto acontece? Porque é que fazem isto”? Podemos ter respostas óbvias ou muito rebuscadas e, provavelmente, nunca ficaremos a conhecer a verdadeira causa. Às vezes, se calhar é melhor nem vir a conhecê-la para não apanhar uma surpresa ou uma grande desilusão … 

Hoje é frequente ver mulheres de saia curtíssima (eu confesso ser fã), quer estejam a andar ou sentadas, com uma atitude um tanto bizarra: puxam e voltam a puxar a saia para baixo com uma mão de cada lado, enquanto fazem gingar o corpo para ver se a “coisa” corre melhor, insistentemente, querendo conseguir o impossível: que a saia tape “o que está à vista a mais”. Será que a proprietária daquelas pernas saiu de casa com elas muitíssimo bem tapadas, eventualmente um pouco abaixo do joelho, e a saia encolheu repentinamente, reduzindo o seu comprimento a menos de metade? E ela, coitada, tenta levar a efeito uma “missão impossível” e puxa vezes sem conta, numa tentativa falhada para repor o tamanho original? É ou não é uma luta inglória em que a saia vai sair sempre a ganhar? Ou só descobriu que a saia era curta demais quando já estava na rua e ilude-se, sabendo que lhe vai acontecer o mesmo que ao lençol curto: se o puxar para cima querendo tapar a cabeça, destapam-se os pés e se fizer o contrário é a cabeça que fica descoberta! Se repararmos bem – e tenho a certeza que os homens, se estão sozinhos, fazem questão de reparar muito atentamente, ou fazem-no “à socapa” se tiverem “polícia à perna” e se “a coisa” é digna de ser mirada. Mas há ocasiões em que a dona da saia não deve ter noção que a saia curta afasta os mirones que tenta atrair. Estou convicto que, na maioria dos casos, aquela insistência em puxar a saia para baixo mais não é que “a campainha à frente do compasso para avisar os crentes da sua chegada”, aqui para atrair ainda mais a atenção do sexo oposto e satisfazer a necessidade de ser admirada a partir de baixo …   

A primeira vez que vi uma mulher de óculos escuros com eles bem puxados para cima da cabeça, foi há muitos anos, numa viagem de regresso a casa vindo de Lisboa. Apesar do sol intenso, fiquei muito admirado porque, durante toda a viagem, nunca ela os colocou no nariz, o local adequado a tal acessório, pensava eu. Mas ela manteve-os virados para o céu, mais a fazer de bandolete do que como ajuda para os olhos em dia de sol. E dei comigo a pensar: “Será que tem miopia cerebral”? Ou “esqueceu-se de que tem os óculos na cabeça”? A verdade é que virou moda e hoje é frequente tal situação, o que não me inibe de continuar a fazer a mim próprio as mesmas perguntas de então e mais ainda: “Será que com os óculos nessa posição o cérebro consegue “ver estrelas no céu” num dia de sol intenso”? 

Mas, para não ser acusado de machista ao pensarem que estou a implicar só com as mulheres, não deixo de perguntar: “Porque será que grande parte dos homens quando mete as mãos nos bolsos das calças, ao fim de poucos instantes e, mais ou menos disfarçadamente, mais ou menos conscientemente, empurra as mãos para o fundo dos bolsos e para o meio das pernas, pondo-se a coçar os testículos como quem tivesse sarna nessa zona crítica da anatomia masculina? Será que apanharam uma “camada de chatos” numa casa de banho pública ou numa qualquer “casa de meninas” onde a higiene sanitária não é uma questão de princípio? Ou também eles não têm outra intenção que não seja de chamar a atenção das mulheres para a importância, a qualidade, tamanho e valor das suas “joias de família”, algo de que “um homem que é homem” faz questão de se orgulhar? É verdade que alguns são “useiros e vezeiros” nesta prática que nunca passa despercebida a qualquer mulher – em regra, consideram que é uma coisa de muito mau gosto e que não fica bem a nenhum homem, até àqueles que têm “artigo” mais do que suficiente para atrair “o outro lado” – e há ocasiões que alimentam uma longa conversa sem deixar de “dar brilho às joias” tal é o polimento constante e continuado que lhes vão fazendo enquanto falam. Em abono da verdade, devo dizer que esses homens têm sempre um certo cuidado ao lidar com as tais “joias”, pois fazem questão de fazer do bolso como que uma luva que “calçam” antes de lhes tocar, a não ser nos casos em que os bolsos estejam rotos e por esses eu já não respondo. De qualquer forma, sempre são mais “higiénicos” do que o ex-selecionador da Alemanha, Joachim Low, que não se coibia de enfiar a mão por dentro das calças à frente de milhões de espectadores, coçar as “ditas”, para de seguida levar os dedos “perfumados” ao nariz. Talvez a inspiração para levar os jogadores alemães a ganhar o campeonato do mundo em 2014, no Brasil, tenha vindo desse “estímulo”. Quem sabe … Por isso, fica no ar a pergunta: “Porque é que os homens, quando enfiam as mãos nos bolsos das calças, tendem a coçar os “pendentes”?

“Mas, porque é que …” é uma pergunta que podemos fazer todos os dias sobre as razões de muitos dos nossos comportamentos, umas vezes lógicos, outras vezes sem lógica nenhuma, umas vezes sérios, outras vezes salpicados do humor que devia condimentar todos os dias das nossas vidas. E há tantas perguntas contra a corrente que me apetece fazer … 

Um luxo a que não nos podemos dar

Todos nós temos uma ideia mais ou menos formada do significado de luxo e do que se quer dizer com “luxo asiático”, “viva o luxo” ou “eu posso dar-me ao luxo de …” e outras mais, mas grande parte das vezes não imaginamos os “limites dos excessos” a que o luxo conduz. 

Como dizia Coco Chanel, “o luxo é uma necessidade que começa quando a necessidade finda”. Apesar de ser supérfluo, o luxo é um fenómeno que atravessa toda a história da humanidade. Durante séculos e séculos, a pompa, o parecer, o supérfluo, a ostentação, a grandeza, o requinte e a futilidade não têm parado. As definições de luxo envolvem as noções de sumptuosidade, pompa, ostentação da riqueza, alto preço e raridade, normalmente associados a excesso de riqueza e materialismo. E são acompanhadas por outras noções como vaidade, estilo de vida, códigos, comportamentos e requinte. Hoje em dia procura-se substituir o termo “luxo” pelos de “prestígio” e “alto nível”, sendo aplicados a produtos mais inacessíveis, o que faz com que, sinteticamente, um artigo de luxo seja caracterizado pela sua raridade e preço elevado, apesar de Giles Lipovetsky afirmar que “nem tudo o que é caro é luxo, mas todo o luxo é caro”. 

Ostentação, excesso e desperdício foram as palavras associadas ao luxo durante muito tempo, a necessidade de representação inerente à natureza humana e ao desejo de se tornarem notados, fosse através de objetos, vestes ou plumagens. Se no começo da nossa era o luxo se limitava a produtos já inventados – perfumes, vestuário, acessórios, joias, etc., – mediante o progresso tecnológico, o fenómeno alastrou dos produtos para os serviços e marcas, representando um segmento de mercado que movimenta números astronómicos. E é assim que nos nossos dias se passou de produtos de consumo para as moradias, apartamentos, barcos, aviões, viagens à volta da terra ou aos locais mais exóticos, safaris, tratamentos exclusivos, tudo aquilo que se possa imaginar e mais ainda, com o rótulo de “Luxo”, para que não restem dúvidas sobre o valor da fatura e ao prestígio de quem paga.

A uma conclusão comum parece terem chegado todos os estudiosos do “luxo”: o mundo seria um lugar mais triste e desinteressante se não fossem os magníficos palácios que reis esbanjadores mandaram construir, nem sempre com objetivos confessáveis. E não vale a pena dizer quanta fome terá passado o povo para que isso acontecesse …

Diz-se que o luxo apenas cria apetite para mais luxo e que, como se trata de um desejo que não é natural, é insaciável. E que o melhor será não o alimentar, pois apenas se fará maior e mais exigente. Nos Sermões, o padre António Vieira diz-nos que “todos querem mais do que podem, ninguém se contenta com o necessário, todos aspiram ao supérfluo e isto é o que se chama de luxo”. Será assim? Uma coisa parece certa: “O luxo atrai a inveja e parece nunca atrair o respeito”.

O mercado do luxo é fascinante. Põe a maioria das pessoas a sonhar com algo que, na realidade, desconhece ou a que não pode aceder. E a verdade é que há quem faça de tudo para alcançar o inalcançável que torna o luxo desejável porque está no topo, sejam roupas, móveis, cosméticos, hotéis, carros, joias, eletrónica, vinhos ou o que for. Daí a frase de autor desconhecido: “As pessoas gastam o dinheiro que não têm, para comprar coisas de que não precisam, para impressionar pessoas com quem elas não se importam”. 

É normal que o luxo esteja sempre ligado a uma posição social mais elevada, o que supõe que uma pessoa se deve distinguir dos outros ou mesmo se mostre superior, “só porque tem um nível de consumo maior, o consumo sumptuário, algo que se exibe, algo que se ostenta”. Curiosamente, nos países nórdicos existe uma pequena regra, não escrita, uma espécie de fenômeno cultural da região, segundo a qual “ostentar é feio” e que as pessoas, mesmo as escandalosamente ricas e bem-sucedidas, devem restringir o consumo e o estilo de vida para não se “desenquadrarem” do resto da sociedade. Não sendo nós um país de super-ricos, e os que temos fazem mais questão de o ser lá fora, entre os “bem-remediados” que andam por aí há bastantes e mais que suficientes que não se coíbem de mostrar com ostentação o pouco ou muito que dizem ter, através da “exibição do dinheiro” em coisas que só este compra, ainda que seja a prestações. Porque tudo vale para mostrar que se é mais do que o comum dos cidadãos, ainda que com coisas fúteis, supérfluas e desnecessárias. E recordo-me de alguém que andou muito tempo a poupar para comprar uma certa bolsa da marca Louis Vuitton em segunda mão, como se isso fosse a coisa mais importante da sua vida …                                                                      Ao longo da vida a sociedade fez-nos acreditar que luxo era o raro, o exclusivo, tudo aquilo que nos parecia inalcançável. Porém, agora nos damos conta, sobretudo depois de uma pandemia que vitimou muitos dos que nos rodeavam, que luxo são certas pequenas coisas que não sabíamos valorizar. Foi então que descobrimos que luxo é estar são e de boa saúde. Que luxo é não ter de entrar no hospital como doente. Que luxo é passear junto ao mar e sentir a maresia. Que luxo é poder sair à rua quando se quer e respirar sem máscara. Que luxo é poder reunir-se com a família e os amigos. Que luxo são os olhares e que são os sorrisos. Que luxo são os gritos de alegria dos filhos. Que luxo são os abraços e beijos. Que luxo é desfrutar de cada amanhecer. E que luxo é o privilégio de estar vivo. Afinal, tudo isso é um luxo e, ao que parece, não sabíamos. Aliás, ao que parece, voltamos a esquecer do valor dessas pequenas coisas, um luxo a que não nos devemos dar …

É em casa que se dá “educação” …

Fiquei sempre com a imagem gravada na minha memória de estar “enclausurado” na varanda da casa dos meus pais como castigo por ter faltado às aulas nessa manhã sem a minha mãe saber. Mas ela soube e recebi uma lição para a vida. Porque eram os meus pais que me educavam no que era certo e errado, no bem e no mal, nos valores morais pelos quais se regia a sociedade de que fazia parte. E hoje?

Entre o final do século passado e começo deste, a educação passou a ser confundida com instrução e, se falamos de educação, pensamos sempre no ambiente escolar, imaginando que na escola se ensina educação. Puro engano: educação aprende-se com a família. É dentro de casa que, primordialmente, aprendemos boas maneiras e valores fundamentais para viver em sociedade como seres civilizados. Ora, se a família se demite de educar, de mostrar o que é certo e errado, ético e antiético, quando não é o protótipo do péssimo exemplo, que tipo de sociedade estamos a construir? A escola ensina os conteúdos normais que o currículo tem como prioridade: ler, escrever, fazer contas, etc. Pensar que cabe aos professores educar é um erro grave, pois em muitos casos teriam de começar pelos pais das crianças. E o resultado é que é muito difícil fazer passar na sociedade os conceitos do que é ético, correto e justo. Daí que ser correto hoje no nosso país seja sinónimo de “ser idiota”. 

 Rivaldo Silva, professor numa escola de Brasília, colocou no placard da sala de aulas alguns lembretes dirigidos aos pais manifestando a sua opinião sobre aquilo que as crianças devem aprender em casa e na escola, gerando bastante polémica sobre os deveres dos pais na criação dos filhos. Diziam os cartazes: “Lembramos aos pais que: é em casa que se aprendem as palavras mágicas: bom dia, boa tarde, por favor, com licença, desculpe e muito obrigado”. Noutro, lia-se: “É em casa que também se aprende a ser honesto, a não mentir, a ser correto, ser pontual, não xingar, ser solidário, respeitar os amigos, os mais velhos e os professores”. No seguinte: “Ainda é em casa que se aprende a ser organizado, cuidar das suas próprias coisas e a não mexer nas coisas dos outros”. E um quarto: “Também é em casa que se aprende a ser limpo, não falar com a boca cheia e a não deitar lixo no chão”. Um último terminava com este lembrete: “Aqui na escola, ensinamos matemática, português, história, ciências, geografia, inglês e educação física e, apenas, reforçamos a educação que deve ser adquirida em casa”. Será que hoje lembretes destes não fazem falta nas escolas portuguesas e muito mais falta fazem em muitas casas do país? Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai e tido por ser o mais pobre presidente do mundo, mas de elevada estatura moral, dizia para “não esperarmos que os professores consertem as falhas na educação dos filhos”. Porque a educação deve dar-se em casa …

Educação é mais que ler e escrever. É ser ético com todos, fazer o certo sem autorregulação do outro, ser correto sem vigília. Mas não conseguimos. Nós precisamos ter alguém ou algum órgão para nos regular. E não fazemos nada pelo outro sem ganhar algo em troca. Estamos sempre a pensar no “eu” e depois nos “outros”, querendo levar vantagem em tudo. É hoje a nossa essência, num individualismo exacerbado, um egoísmo além do normal e uma preguiça para o trabalho que chega a ser vergonhosa. E aprendemos tudo isso em casa, com a nossa família. Não culpemos a escola que faz o que pode, o que não pode e mais do que lhe é devido. E ainda é criticada, tendo os pais a dificultar-lhe o seu trabalho. 

A escola precisa de ser pensada como meio de aprendizagem, mas muito mais a família como cerne da educação, onde a criança deve aprender uma formação baseada em princípios morais e virtudes. Adriano Lima diz que “a educação aprende-se em casa, aperfeiçoa-se na escola e aplica-se na vida”. Aos pais, pede-se por favor para não inverter os papeis. Porque quando a família tem bons princípios e os usa entre si ao falar com educação como dar o bom-dia ou boa-noite, a agradecer, pedir licença e por favor, a criança absorve os conceitos e leva-os pela vida fora. Mas se o normal é o uso de palavrões, desde o “és burro”, “porco”, quando não o calão mais ordinário, o que acaba por ficar gravado na sua jovem mente não augura nada de bom. E a culpa é de quem?

É bom lembrar que aquilo que se aprende na infância fica para toda a vida e o que não se aprende em pequeno fica muito mais difícil de ser aprendido depois. É o caso de permitir que crianças de tenra idade façam e digam tudo o que querem e que, quando vão crescendo e os pais querem corrigir, já vão tarde e nem a bater-lhes os conseguem mudar. Se tivessem ensinado boas maneiras desde bem pequeninos isso não aconteceria, nem precisariam de chegar a tal extremo.

Diz-se que “de pequenino se torce o pepino” e tal ditado tem uma excelente aplicação na educação das crianças. Mas é necessário e imperioso que os pais eduquem seus filhos ensinando-lhes as regras básicas de educação, de boas maneiras e de boa convivência desde tenra idade como prioridade sobre tudo o mais, não delegando nos professores nem na escola tal responsabilidade, porque não é essa a sua função. E devem fazê-lo não só pela palavra, mas mais ainda pelo exemplo. É o que somos que ensina às crianças os valores e condutas que privilegiamos em sociedade. Como pode um aluno demonstrar respeito pelo seu professor se os pais fizerem rigorosamente o contrário? E o respeito, como outros valores, aprende-se em casa em primeiro lugar …

“Quando eu tiver tempo …”

Andei cerca de um ano ou mais dizendo a mim mesmo: “Quando eu tiver tempo vou contactar o Zé e o Rui para almoçarmos e recordar alguns dos momentos que vivemos juntos na ACML e, mais tarde, no Clube Automóvel de Lousada”. Até que um dia decidi que era tempo de ter tempo para lhes telefonar – sim, porque quando queremos mesmo, nós “temos tempo”. Telefonei primeiro ao Rui que concordou de imediato, mas perguntou-me se já falara com o Zé porque ouvira dizer que ele estava adoentado. Depois, liguei ao Zé, que não atendeu a chamada, mas devolveu-ma logo no minuto seguinte. Quando o informei da razão do telefonema, respondeu-me que gostava muito de se encontrar connosco, mas nesse momento estava no IPO no Porto à espera dos resultados de uns exames que lhe fizeram e, logo que soubesse, telefonava-me para combinar o dia do encontro. Menos de duas semanas depois foi a enterrar, sem “termos tempo” para um simples almoço e de pôr a conversa em dia. Porque andei demasiado tempo a dizer “quando eu tiver tempo” …

É verdade que todos nós dizemos muitas vezes um “quando eu tiver tempo”, como condição à promessa de que vou cuidar de mim, vou fazer exercício, vou lavar sempre os dentes após cada refeição ou vou comer peixe, quinoa, papaia e beber chá verde por questões de dieta. Também continua a ser uma condição indispensável para fazer todos os exames atrasados que o médico prescreveu, a tal peregrinação a Santiago de Compostela sonhada há muitos anos, levar os filhos à Disneylândia ou ao Jardim Zoológico de Lisboa ou fazer uma simples visita à tia Miquinhas que está no Lar há alguns anos. “No dia em que eu tiver tempo” ficarei em casa com os meus pais, irmãos, sobrinhos, cunhados e a minha mulher, em vez de marcar reuniões de trabalho num café da vila, que de trabalho pouco tem, e divertimo-nos a ver as fotografias da última viagem enquanto comemos piza. No dia em que eu tiver tempo, não comprarei presentes à pressa nem vou escolher garrafas de vinho para oferecer das que tenho na minha garrafeira e escreverei longos cartões nos aniversários dos familiares e amigos a dizer tudo aquilo que sinto. E “quando eu tiver tempo”, vou escrever um diário para o meu filho descrevendo a emoção de todos aqueles momentos marcantes do seu crescimento, de quando disse “papá” pela primeira vez, gatinhou ou se pôs de pé, de cada uma das noites que passei com ele ao colo quando estava doente, que lhe entregarei quando fizer 18 anos. No dia em que eu tiver tempo vou dar o tempo aos meus filhos, porque devem ser a minha prioridade …

“Quando eu tiver tempo eu farei …” é uma das frases que mais se ouve e, como há um fascínio inegável pelo tempo, já foi transformado em verso, prosa e até cantado. Muitos gostariam de segurar o tempo com as mãos, mas ele escorre por entre os dedos, como a água. Os felizes, gostavam de o poder congelar, os que sofrem rezam para que passe depressa e os apaixonados adorariam eternizá-lo. Ora, o tempo é a desculpa perfeita para as nossas irresponsabilidades pois “não tive tempo”. É fácil. Basta dizer que estamos sem tempo para nada. São os estudantes a dizerem que não tiveram tempo para estudar, os trabalhadores que não chegou para fazer uma tarefa, os professores que não tiveram tempo de dar a matéria toda. E até eu me desculpo nalgumas ocasiões com a falta de tempo para escrever a crónica da semana. E será que me faltou o tempo ou não soube geri-lo da melhor forma? 

“Quando eu tiver tempo” é a expressão que usamos frequentemente para mentir a nós próprios, para nos desculparmos por não fazer o que é preciso fazer e para aliviar o peso de consciência pela nossa incapacidade de organizar, agir e fazer o que nos é devido. Ao dizer que não temos tempo, confessamos que somos negligentes com o tempo que nos é dado, não o gerindo com prudência para não haver tempo perdido. Porque o tempo é escolha de prioridades e tanta vez fazemos escolhas erradas. “Quando eu tiver tempo vou visitar a Tia Carolina que está doente”, mas, entretanto, passo horas em frente da televisão a ver programas estúpidos e sem ter tempo para a visitar? O que está errado é dar prioridade à televisão e não ao que importa! Já Pitágoras terá dito: “Com organização e tempo, acha-se o segredo de fazer tudo e bem feito”.

Nunca os humanos tiveram tanto tempo como aqueles que vivem neste nosso tempo e, por estranho que pareça, nunca tiveram tanta falta dele como agora. “Bem queria, mas ando sem tempo para isso”. “Agora não dá. Quando eu tiver tempo eu faço”. “Precisava que o meu dia tivesse mais algumas horitas”. “Não dá tempo para fazer tudo hoje”. Nunca vivemos tão angustiados pela falta de tempo, quando temos muitos milhares de horas mais que os nossos antepassados, mas mesmo assim o tempo não chega. Temos meios de transporte e de comunicação mais rápidos do que nunca e andamos sempre com pressa, mas atrasados. O que está errado com tudo isto? Será que se os dias tivessem mais umas horitas resolvíamos todos os problemas? Terminavam os assuntos pendentes? Compensavam-se os atrasos? E serviam para acabar com o “quando eu tiver tempo …”? Se calhar não, pois tendemos a ser “procrastinadores”, um palavrão que serve para identificar os que deixam sempre as coisas para depois, para amanhã. E, confesso, também sou um “procrastinador”, talvez à espera que o tempo resolva algumas coisas. E não é que às vezes resolve mesmo? Mas, pensando bem, até um relógio parado consegue estar certo duas vezes ao dia …

Os animais incríveis deste planeta …

O nosso mundo está cheio de animais incríveis. Inteligentes, velozes, furiosos, extraordinários, belos e com uma série de qualidades que deixa qualquer um espantado. Ao pé deles, nós que nos consideramos a espécie “dona disto tudo”, afinal “estamos a milhas de distância” e sem hipóteses de nos podermos comparar. Mas agimos quase sempre como se fossem nossos inimigos e não parte integrante do mundo em que vivemos, nós e eles, com o mesmo direito de existir. Basta pensar que somos o único animal que mata “por prazer, por desporto ou até porque sim”. Todos os outros matam para comer, para se imporem como líderes da manada ou como final do ato sexual de reprodução.

Se fosse por uma questão de tamanho, estamos longe do urso polar com os seus 700 quilos e 2,60 metros de altura, para não lembrar o elefante marinho nos seus 3,50 m e 5 toneladas e a muitas milhas da baleia azul e dos seus 30 metros de comprimento e 160 toneladas de peso, apesar de se alimentar só com uma “dieta light” de peixinhos e pequenos crustáceos – nada de doces. É obra. Se for pelo olfato, nós não conseguimos apercebermo-nos se temos água a 2 ou mesmo a 1 metro de distância, enquanto os elefantes são capazes de a farejar a 20 quilómetros. E sabe-se que as mariposas detetam fêmeas virgens a 11 Kms. Como é possível?

Usain Bolt foi o homem mais rápido do mundo durante apenas 100 metros de distância, que correu à velocidade de pouco mais de 37 quilómetros por hora. Mas a chita (guepardo) alcança os 115 Km por hora e é capaz de atingir os 100 km/h em apenas 3 segundos, feito comparável aos carros mais potentes do mundo. E se pensarmos que o falcão peregrino chega a alcançar em voo picado velocidade de até 330 kms/hora, nem queremos acreditar. Já os albatrozes conseguem percorrer 300 Kms por dia em voo planado aproveitando a energia do vento e sem necessidade de bater as asas. Preguiçosos espertos …

Nós, seres humanos, temos de usar protetor solar quando expostos ao sol, para evitar queimaduras. E compramos toneladas de produtos para nossa proteção. No entanto os hipopótamos apesar de também precisarem de proteger a pele, fazem-no segregando o seu próprio filtro solar, o que é mais prático e económico. Não devíamos ter a mesma capacidade? 

Se um cachorro molhado consegue sacudir 70% da água do seu pelo, porque será que eu, por mais que me abane depois do banho, só tiro 10% ou menos? Já as girafas segregam um odor corporal potente, que melhora a sua vida social ou seja: quanto mais o macho fede, mais saudável e atraente parece ao outro sexo. É a atração pela negativa. Mas o Diabo-da tasmânia fede mais que qualquer outro animal, capaz de espantar qualquer inimigo. Afinal, o “chulé” tem alguma utilidade.

O basilisco é uma espécie de lagarto que vive perto de rios e lagos e 

a sua característica mais famosa é a habilidade de correr sobre a água sem se afundar, coisa que nenhum homem é capaz de fazer. Já o besouro-hércules é considerado o ser vivo mais forte do mundo, pois consegue carregar até 850 vezes o seu peso. Para me comparar a ele, teria de ser capaz de aguentar cargas de mais de 62 toneladas. Ao pensar nisso, sinto-me “esmagado”. As baratas têm a reputação de ser a espécie com mais probabilidade de sobreviver ao apocalipse. Por mais incrível que pareça, conseguem resistir à decapitação e viver semanas sem cabeça. O mais próximo que estamos é quando nos perguntam “onde é que tinhas a cabeça quando fizeste isto”? 

O record do salto em altura pertence ao cubano Javier Sotomayor há mais de 30 anos, quando alcançou a proeza de saltar 2,45 m, mas que é cerca de metade da capacidade que o puma, conhecido no Brasil como onça-parda, atinge ao chegar a 5 metros, fruto do impulso das suas longas patas traseiras. Mas há uma cigarra que salta 400 vezes o seu tamanho. Imagina um atleta a saltar 200 metros de altura? Ora, o camaleão não salta, mas destaca-se pela capacidade de se camuflar ao mudar de cor para se confundir com o ambiente onde se encontra e pode mover um olho para cada lado de forma independente. A arte de camuflagem já muitos seres humanos têm, fazendo-se passar pelo que não são, mas a outra bem necessária nos seria nalgumas alturas para “ter um olho no burro e outro no cigano”. 

Estamos muito distantes de ter a visão das águias e dos gaviões, de ter a beleza de muitas aves e até do leão branco com os seus olhos azuis. Conseguimos até gritar, mas não tão alto como o bugio da América Central que se faz ouvir a 5 quilómetros de distância. Não temos a capacidade de ecolocalização que permite aos morcegos orientarem-se no escuro, nem a de algumas rãs que podem ser congeladas e depois de descongeladas continuarem vivas, tal como as de muitos outros animais que habitam este planeta, onde o mosquito, esse inseto minúsculo, é tido como recordista de mais mortífero da Terra pois chega a matar mais de um milhão de pessoas por ano, não diretamente, mas através dos vírus e outras doenças que transporta e transmite aos seres humanos. Mas, todos nós sabemos que existe um animal muito mais perigoso: O ser humano. Apesar da inteligência, humanidade, sensibilidade, solidariedade e tantas qualidades que temos enquanto seres, causamos o declínio, a destruição e até a extinção de muito mais espécies que qualquer outra forma de vida. Reduzimos o rinoceronte de Java a um dos mais raros mamíferos da Terra, pois já só existem menos de 60. Colocamos à beira da extinção o coala, a onça pintada, a baleia-azul, o gorila da montanha, o pinguim africano, o urso polar e tantas outras espécies com a nossa febre de caçadores insaciáveis. Talvez agora esteja na altura de estabelecer um novo record: O de sermos capazes de salvar da extinção o maior número de espécies, para garantir que no futuro continuaremos a desfrutar do convívio dessa infinidade de animais incríveis, não só nós, mas as gerações que se seguirão através dos tempos …