Afinal, quem escolhe o nosso destino?

Os fatalistas dizem que “ninguém foge ao seu destino” enquanto os mais realistas afirmam que “cada um constrói o seu próprio destino”. E, na verdade, uns e outros vivem de acordo com as suas convicções e são escravos delas. Diz um desconhecido que “nada adianta querer apressar as coisas, porque tudo vem a seu tempo. O destino vai-se encarregar de o colocar no lugar certo, na hora certa”. Mas já Sarah Westphal afirma: “Não deixe que a saudade o sufoque, que a rotina o acomode, que o medo o impeça de tentar. Desconfie do seu destino e acredite em si. Gaste mais horas a realizar do que a sonhar, a fazer do que a planear e a viver do que a esperar”.

Estas palavras de Sarah ajustam-se perfeitamente à vida de um amigo meu que já nos deixou, um empreendedor nato que não perdia tempo a sonhar e planear pois passava de imediato à ação, à realização e que viveu como se o tempo lhe fugisse. E fugiu cedo demais …

Desde criança que ouço frequentemente mais ou menos as mesmas palavras sempre que acontece alguma coisa a alguém: “Foi o destino”, “ele já tinha o destino marcado” ou algo do gênero. Como se cada um de nós seja uma marionete com a vida toda programada antes de vir a este mundo, do nascimento até à morte, e em que a nossa vontade, desejos e capacidade de escolha não exista. Será mesmo assim? Afinal, nós somos robôs programados que cumprem tarefas pré-definidas sem possibilidade de alterar o que quer que seja ou temos poder e capacidade de decisão sobre as nossas escolhas? E se o nosso destino já estava “escrito”, quem foi que o escreveu?

Para os cristãos, Deus concedeu o livre-arbítrio aos seres humanos, isto é, a liberdade para realizarem tudo aquilo que desejarem, sendo que isso lhes gerará consequências. Daí que, se com essa liberdade alguém resolver fazer o mal, está a cometer pecado. E, além disso, os seres humanos não estarão livres de terem de assumir também as consequências dos seus atos perante a lei nos casos em que esta limite ou condicione as suas ações, como é o caso dos roubos, crimes, etc. Assim, o livre-arbítrio trata-se de uma capacidade que Deus nos deu, cabendo a todos os seres humanos aprender a melhor forma de a usar bem, pois com essa liberdade desenvolvem a consciência sobre tudo o que fazem.

Mas na tradição popular o destino é o “destino” e não há como lhe fugir. É assim que continua a haver muita gente a acreditar piamente que a vida de cada um de nós “está traçada” e por mais que façamos isto ou aquilo, estamos a seguir um “guião” que não foi escrito por nós, em que tudo o que nos vai acontecer acontecerá por força desse chamado destino, embora parecendo ser uma escolha nossa. Porque “ninguém foge ao seu destino”. Para eles, quando alguém faz uma escolha entre duas ou mais hipóteses, já é o “destino” a empurrá-lo para escolher aquela que lhe está reservada. Por isso, escolhendo uma ou outra ou uma terceira, para os defensores desta teoria será sempre tida como uma escolha feita pelo destino.

Os filósofos que se dedicam a esta questão têm uma variedade muito maior de teorias sobre quem é o responsável pelas escolhas que todos nós fazemos constantemente e que determinam aquilo a que chamamos a nossa história de vida, mas não vou por aí. Já S. Tomás de Aquino, frade católico italiano e teólogo, debruçou-se sobre isto afirmando que, quando fazemos uma escolha – seja comprar algo, ir trabalhar, virar à direita ou á esquerda ou brincar com o cão, ela é determinada principalmente pela nossa vontade, mas também tem o auxílio da inteligência e das paixões, seguindo a conceção católica.   Todos nós queremos ser livres e ter pelo menos a possibilidade de fazer algumas escolhas nesta vida. E a verdade é que a maior parte das pessoas acredita que são livres para escolher o que fazem, das coisas simples às mais complicadas como: “Tomo um café com ou sem açúcar”? “Vou para o trabalho de carro ou comboio”? “Vou votar ou não nas próximas eleições e em quem”? “No fim de semana vou ver o futebol ao estádio ou fico em casa a ler”? A questão que se pode colocar muitas vezes é saber quem está encarregue de tomar essas decisões e há que considerar que tomamos decisões a todo o momento! Muitas decisões! Desde as mais simples – como falar de alguma coisa, abrir uma gaveta, fechar a porta, pôr ou não pôr açúcar no café, meter comida à boca e mastigar, fazer a higiene matinal, sorrir a alguém – às mais complexas – como resolver comprar uma casa, abrir um negócio, mudar de residência ou até de país. Como precisamos de agilidade dado o grande número de decisões diárias, a maior parte das vezes decidimos de forma inconsciente, automática, sem refletir, seguindo padrões que se foram estabelecendo no nosso cérebro ao longo da nossa vida para o poupar e libertar para pensar nas coisas complexas. Ora, quer sendo o subconsciente a decidir, quer seja o consciente, somos nós que tomamos as decisões e construímos assim o nosso destino e ninguém é responsável pelo nosso destino a não ser nós mesmos.

Arthur S. dizia que “em geral, chamamos destino às asneiras que cometemos”. 

Tendemos a “acusar” o destino ou fazer dele o bode expiatório quando algo corre mal na nossa vida, muitas vezes para aliviar a consciência das nossas inconsciências e arrependimentos. Apesar de estarmos sujeitos diariamente à manipulação comercial e política diariamente através do marketing e publicidade através dos meios de comunicação e redes sociais, de uma forma consciente ou inconsciente, agindo pela razão ou pela emoção, ainda somos nós que comandamos a nossa vida e temos a responsabilidade de escrever a nossa história de vida! Esse, sim, é o nosso “destino” …