Um ladrão não é só o que rouba, assalta, furta. Não é só uma pessoa desonesta, um tratante ou maganão. É também o rato, o larápio, o abafador, o malandro, o bandido, o rapinante ou o salteador e, no fundo da escala das categorias de ladrões, o “pilha galinhas”. Claro que em todos eles está o patife, o tratante, o maroto, o escroque, o aldrabão, o espertalhão, o vigarista e o trapaceiro.
Nós sabemos que o ladrão vulgar veste “fato-macaco” para conseguir uns míseros trocos e às vezes à custa de muito esforço, enquanto o ladrão de “colarinho branco” ou de fato e gravata, entra pela porta principal e não se contenta com tostões, mas sim com milhões, e que não é tido nem chamado de ladrão, mas por um “gajo inteligente” ou um “tipo esperto”. Há tempos, uma cadeia de supermercados levou a tribunal um “criminoso” por ter roubado um saco de feijão verde no valor de 77 cêntimos, tendo pagado 204 € para ser assistente no processo. E noutro caso, uma idosa teve de se defender em tribunal por levar um creme de 2 € e 79 cêntimos. E então viu-se os supermercados a pôr alarmes numa série de produtos como que a dizer, “aqui ninguém rouba”. No entanto, no ano que acabou, a ASAE detetou nas três maiores cadeias de supermercados em Portugal margens de lucro brutas ilegais entre 43% e 52%, embalagens que diziam ser de um quilo a pesar 800 gramas e casos em que eram cobrados nas caixas preços 70 % superiores aos marcados nas prateleiras, como que a dizer, “neste supermercado só os donos estão autorizados a roubar”.
Tenho de dar a mão à palmatória e reconhecer que já não há ladrões como antigamente. Evoluíram muito no pior sentido pois passaram a associar a violência ao roubo, uma nova forma que está a crescer em Portugal segundo rezam as crónicas. Estamos a copiar outros países conhecidos pela sua violência …
No Departamento de Química da Universidade de Aveiro, os ladrões acionaram o alarme de incêndio e esperaram que alunos, professores e funcionários saíssem do edifício para roubar os computadores. E foi uma “limpeza”. É a evolução na continuidade da arte de roubar. Já em Londres, num supermercado só expõe um bife de cada vez na montra para reduzir ao mínimo a quantidade de carne roubada nesta época de crise económica, sobretudo a partir do “Brexit”, isto é, da saída dos ingleses da União Europeia. O que quer dizer que já nem o bife, bom ou mau, escapa ao apetite devorador dos ladrões.
Hoje há novas categorias de ladrões sofisticados, tecnologicamente evoluídos para nos roubar sem entrarem em nossas casas, sem nos darmos conta de que estamos a ser lesados. Já não se usa pé-de-cabra ou arma branca ou de fogo. Usa-se a vigarice, o prestígio e o crédito que o “estatuto” proporciona e as leis que só protegem os ladrões. Alguns ladrões “reformados” e a viver com o “fruto do seu trabalho”, como têm muito tempo vago, fizeram um rol de recomendações para quem gosta de chegar a casa e ver que nenhum dos seus bens levou sumiço. Dizem eles que, autocolantes com símbolos de empresas de segurança ou placas a dizer ‘Cuidado com o cão’ não servem para nada. Um até confessou que entrou numa casa através da porta para o cão! Acrescentam que as pessoas pensam que os cães maiores são melhores, mas eles evitavam sempre casa com cães mais pequenos, porque nunca se calam. Publicar fotografias em plenas férias ou dizer nas redes sociais que está a gozá-las fora de casa, é como quem diz “a minha casa está livre para ser assaltada”. E o truque de sair e deixar as luzes acesas ou a televisão ligada, já não resulta. Será conveniente arranjar bloqueios para as janelas porque são abertas facilmente com uma chave de fendas. Quanto a ter escadas do lado de fora e à mão, é meio caminho andado para quem quer entrar por uma janela alta. E lembre-se que, se não trancar bem a porta, mais vale deixá-la aberta. Mas o maior cuidado que temos de ter é com os governantes a quem passamos procuração com poderes para tudo, até para nos roubar. O escritor e comediante inglês Peter K. dizia: “Os ladrões são muito menos perigosos do que um governo bem organizado”. E o célebre Françoise Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudónimo de Voltaire, tinha uma definição muito própria de “Ladrão”: “Na vida existem dois tipos de ladrões: – O “ladrão comum”: É aquele que rouba o teu dinheiro, a tua carteira, o teu relógio, o teu cavalo, o teu porco, as tuas galinhas, etc. – O “ladrão político”: É aquele que rouba o teu futuro, os teus sonhos, o teu conhecimento, o teu salário, a tua educação, a tua saúde, as tuas forças, o teu sorriso, etc. A primeira grande diferença entre estes dois tipos de ladrões é que o “ladrão comum” te escolhe a ti para roubar os teus bens, enquanto, no caso do “ladrão político” és tu que o escolhes para ele te roubar. E a outra grande diferença, mas não menos importante, é que o “ladrão comum” é procurado pela polícia, enquanto o tal “ladrão político” é, geralmente, protegido pela polícia”. Depois de explicar a sua definição de “Ladrão”, Voltaire não deixava de dar um conselho: “Pense bem antes de escolher o “seu” ladrão” … Ora, na perspetiva de Voltaire, dentro de pouco mais de dois meses, nós vamos novamente ser chamados a escolher o “ladrão” que queremos para nos “roubar”. Com todo o tipo de “roubos” a que temos assistido em Portugal nestes últimos anos numa vida dita “em democracia” e onde até o roubo foi democratizado entre uma boa parte da classe que nos tem governado, é caso para cada um se trancar em casa e “pensar bem” antes de escolher o “seu ladrão”, pelos sinais, mais ou menos claros, que já deu cada um dos candidatos a tal lugar. Porque a escolha do “seu ladrão” será sempre e só, da sua responsabilidade e ditará a qualidade do seu, e nosso, futuro …