Há coisas para as quais nós não temos explicação ou, melhor, para as quais se dão milhentas explicações, mas nenhuma satisfatória, como o que aconteceu com dois irmãos gêmeos que, apesar de terem vivido separados, tiveram vidas assustadoramente semelhantes. Como foi possível? “Com quatro anos de idade, Jim Lewis e Jim Springer foram separados e cada um deles teve uma família diferente. Quando anos mais tarde se encontraram, descobriram que os dois tiveram ainda em criança um cachorro chamado Toy, além de terem carros, fumar cigarros e beber cerveja, tudo da mesma marca. Mas a semelhança mais marcante foi a de que ambos foram casados duas vezes, o que até poderia ser normal, se não fosse o caso das primeiras mulheres dos dois se chamarem Linda e as segundas se chamarem Betty”. É mesmo caso para perguntar, como foi possível? Puro acaso? Mas não foram acasos a mais?
Quer seja para o bem ou para o mal, não é tão raro que em alguns momentos o “universo” conspire para que isto ou aquilo aconteça e nos surpreenda, de tal forma que, conscientemente, não sabemos o que pensar da situação ou que resposta ter para o facto. É costume dizer-se que “os astros se alinharam para que tal acontecesse”. Da mesma forma, quantas vezes uma série de factos acontecem todos uns atrás dos outros ou ao mesmo tempo, para fazer que algo se concretize ou para fazer rigorosamente o contrário? Coincidência é a palavra que os dicionários têm para sintetizar tudo isso. Mas será que tudo o que aconteceu com os gêmeos foi uma mera coincidência? Se pensarmos um pouco, não é difícil chegarmos à conclusão de que não podemos atribuir à “coincidência” a responsabilidade destes factos. A verdade é que há sempre uma explicação para tudo o que acontece nas nossas vidas, pois o facto de “nada acontecer por acaso”, mais do que uma simples frase, é uma realidade com a qual temos de conviver por mais que não consigamos entender os motivos. No entanto temos o direito de acreditar em coincidências e em coisas inacreditáveis, mesmo que seja por uma questão de fé.
Há algumas décadas, Albert Einstein chegou a desenvolver estudos na tentativa de explicar cientificamente a coincidência. Porém, não tendo conseguido estabelecer uma regra que justificasse a sua existência, Einstein não se deu por vencido e passou a acreditar e afirmar junto dos seus que “a coincidência era a maneira que Deus tinha encontrado para permanecer no anonimato”. Parece difícil acreditar que um cientista como ele tenha atribuído ao Divino a presença da coincidência nas nossas vidas. Mas, que razões o terão levado a dizer isso diante dos resultados das suas pesquisas? Pouco importa, porque não contribui em nada para acreditarmos ou não em coincidências na nossa vida, pois “o facto de não termos explicação sobre uma coisa, não impede nem ajuda que essa coisa não aconteça”.
Num domingo de manhã, a escritora norte-americana foi passear nas ruas de Paris onde estava a passar férias com o marido. Entrou numa livraria, viu o livro “Jack Frost e Outras Histórias” e comprou-o, pois era um dos seus favoritos em criança. Quando o marido o abriu leu na primeira página o nome da sua mulher e a morada, descobrindo que ela acabara de comprar o livro que lhe pertencia quando era nova. É mais uma coincidência? O matemático Joseph Mazur não acredita que tenha sido coincidência e acredita no que resumiu em probabilidades de acontecer. “Era pouco provável, mas não é incrível ter acontecido” disse ele. “Um amigo telefonar no momento em que íamos telefonar-lhe, encontrar alguém muito parecido connosco, ganhar a lotaria 4 vezes, é mais provável do que parece”, disse ele, chamando-lhe a Lei das Probabilidades e até explica as coincidências mais espetaculares, de que o exemplo desta lei é o Teorema do Macaco: “Se um macaco carregar ao acaso nas teclas de um computador durante muito tempo acabará por escrever um texto de William Shakespeare. Os piratas informáticos usam esta lógica para desvendar a palavra-passe testando milhões de hipóteses com algoritmos e computadores”. É outra forma de ver as coincidências? Dizem que é difícil acreditar em coincidências, mas é ainda mais difícil acreditar em qualquer outra coisa.
E tudo isto me trouxe a algo semelhante à primeira parte do texto desta crónica, com algo um pouco parecido, mas que ocorreu aqui em Lousada: “Há poucos dias a senhora Conceição, com mais de oitenta anos e de boa saúde, sofreu uma queda, foi para o hospital onde lhe foi diagnosticada a morte cerebral e passados 2 dias morreu. Nada de estranho, a não ser que o senhor Antero, seu irmão gêmeo, há cerca de 2 anos, também com boa saúde, sofreu uma queda, foi parar ao hospital onde lhe foi diagnosticada a morte cerebral e passados 2 dias morreu.
Terá sido uma coincidência? Mas o mais curioso é que a senhora Conceição quando andava na escola, um dia ao regressar a casa, caiu e partiu um braço. E o senhor Antero, nesse mesmo dia ao voltar para casa da mesma escola por um outro caminho que não o da irmã, caiu e também partiu um braço. Terão sido só coincidências e nada mais? Terá sido a matemática na famosa Lei das Probabilidades, como defende Joseph Mazur, a explicar todas estas coincidências? Ou, por muito que não se goste, é um daqueles quebra-cabeças que Deus nos deixou para pôr à prova a nossa inteligência e, quem sabe, para chegarmos à conclusão de que “há razões que a razão desconhece”? Mas que são coincidências a mais, são …