No casamento, a promessa de “até que a morte nos separe” é cada vez mais uma promessa que não vai ser cumprida pelos casais, pois está claro que o número de divórcios em Portugal continua a aumentar de ano para ano ao ponto de ter sido quase igual ao dos casamentos em 2020. Até parece que estão a dar ouvidos a Erasmo de Roterdão por ele um dia ter dito que se “deve respeitar o casamento enquanto é um purgatório e dissolvê-lo quando se tornar um inferno”. Este estado de coisas confirma a opinião de Albert Einstein quando nos dizia que “o casamento é a tentativa malsucedida de extrair algo duradouro de um acidente”. Porém, se alguém quiser ter mais chances de alcançar a felicidade, deve seguir o conselho de F. Nietzsche: “Se os esposos não vivessem juntos, haveria mais matrimónios felizes”.
No casamento enquanto as mulheres procuram uma relação de amor, os homens querem constituir uma família. Elas encaram a separação como consequência do fim do amor, enquanto eles, apesar da relação não ser um mar de rosas, acham que o divórcio não se justifica já que, bem ou mal, têm uma família. E estas diferenças, causa principal dos divórcios, provam que o sexo oposto é isso mesmo – “oposto”. Mudou a relação com os tempos: A fidelidade incondicional virou “enquanto se ama” e o juramento solene a “consciência do provisório”. Os álbuns de fotografias ganharam novos atores: padrastos, madrastas, meios-irmãos e outros que tais. Parte dos lares têm um dos pais ausentes e os avós criam e educam os netos e financiam os filhos. Na intimidade, a sexualidade libertou-se da reprodução graças aos anticoncetivos. A sexologia, antes uma perversão e até anormalidade, virou ciência. O prazer (ou sua promessa) passou a ser grande negócio, o imaginário sexual uma máquina de vendas. A sexualidade tornou-se pública e fez exibir o sexo através das redes sociais e meios de comunicação social. Homens e mulheres, se antes eram malcheirosos e sujos, hoje já são perfumados. No passado, muito castos, agora, nus e exibicionistas.
Será que Leonard da Vinci tinha razão ao dizer que “o casamento é como enfiar a mão num saco de serpentes na esperança de apanhar uma enguia”? Ou Arnaldo Jabor com: “O primeiro ano é o mais difícil. Os restantes, são impossíveis”?
A democratização do divórcio, apesar de caro, tornou o casamento muito mais transitório. É que, ao fim de 3 a 4 anos, um e outro, dão o casamento por garantido: preferem dormir a ter sexo, passam horas a ver futebol ou telenovelas na televisão sem ter tempo para falar ou dizer sequer “amo-te”. Entram no modo “rotina”. Até a porta da casa de banho deixam aberta enquanto a usam. Então aos 5 a 7 anos, como já sabem tudo um sobre o outro e a atração sexual “cai em desgraça”, pensam ter um filho para salvar o matrimónio, se bem que a criança é um ser e não um “dispositivo de resgate”. Já dizia um humorista que “quando um casal de recém-casados sorri, toda a gente sabe porquê. Quando um casal com mais de 10 anos de casamento sorri, toda a gente pergunta porquê”!!!
Os humoristas brasileiros são sarcásticos sobre o casamento. Juca Chaves diz que “quando um homem abre a porta do carro à esposa, podemos estar certos de uma coisa: ou o carro é novo ou é o amante”. Chico Anísio defende que os “solteiros deviam pagar mais impostos. Não é justo que alguns homens sejam mais felizes do que os outros”. Já Tom Jobim: “Quando me casei, descobri a felicidade. Mas aí, já era tarde demais”. Também Nelson Rodrigues disse que “na Antiguidade, os sacrifícios faziam-se no altar. Atualmente, esse costume perdura”!
Mas, o casamento é uma das maiores instituições da Humanidade. E,
apesar do aumento constante do número de divórcios, a maioria das pessoas continua a querer casar-se, ter filhos, uma família e manter uma relação heterossexual, monogâmica, estável e permanente. Ora, isso é tão verdade que, para muita gente, quando o casamento falha tenta de novo acreditando que ainda é possível. Dizia Pablo Neruda: “Casar segunda vez, é o triunfo da esperança sobre a experiência”.
No entanto, hoje tudo conspira contra o casamento, sendo a própria sociedade que o deseja a criar condições antagónicas que “batem de frente” com a vontade de quem quer casar, a começar pela promoção do espírito individualista. Ora, é um “quebra-cabeças” querer fazer estimular o espírito de família quando se exalta o elogio do indivíduo e assim, os apelos à realização pessoal “chocam” com os sacrifícios necessários à vida a dois e criam expectativas incompatíveis entre si. O casamento significa obrigações, renúncia de objetivos pessoais em função da família, filhos, parentes, etc. … E é aí que, às vezes, “a porca torce o rabo”. Por isso compara-se o matrimónio a um submarino: Às vezes consegue flutuar, mas a tendência é afundar …
Mas há mais dificuldades. A tradição fez do sexo algo pecaminoso e impuro, mas isso foi alterado para um liberalismo com o aumento de sexo pré-marital, vida sexual mais livre (em especial nas mulheres), menos preconceitos e maior exigência numa relação satisfatória. Este clima é promovido pelos meios de comunicação social, redes sociais e artes. Hoje não se compra um carro, assiste a telenovela, filme ou até programa de televisão para crianças sem que o apelo sexual esteja presente, tal como está no dia a dia a sensualidade e erotização e se vende a imagem de “festa” ausente de compromissos. É a contradição clara entre o casamento monogâmico indissolúvel e uma atordoante liberdade sexual, que torna difícil cumprir as regras da monogamia. Há também a emancipação feminina que procura igualdade entre homens e mulheres quanto à livre expressão sexual e à diminuição da chamada “dupla moral” que conferia ao homem amplas liberdades e muito poucas à mulher, o que significa uma crescente diminuição na diferença no número de relações extramaritais entre os homens e as mulheres.
Além disso, vivemos na “era do descartável”: roupa, copos, refeições, eletrodomésticos, carros, ritmos de vida e moda, vêm e vão numa sucessão de “compra, usa e deita fora”. Esse conceito não ficou pelas coisas materiais e estendeu-se às relações pessoais. Assim, logo ao primeiro sinal de “defeito”, “todas” elas, indiscriminadamente, são consideradas “sem conserto” e têm de ser trocadas. É assim que a promessa feita diante do altar esbarra na atração para gozar sempre “novas paixões arrebatadoras” e torna-se igual à promessa eleitoral dum político que, quando é eleito, sabe que dificilmente consegue cumpri-la.
É claro que o casamento é uma sociedade muito difícil e exige amor, compreensão, cedências, sacrifícios, paciência e inteligência. Ela não deve pensar que ele é nojento só porque se “peida” e tem de conviver com isso porque vai acontecer muito. Aliás, antes de casar com ele devia ouvi-lo mastigar e, se vir que consegue aguentar esse barulho, vá em frente com o casamento. E ele não a deve considerar patética só porque é obcecada pelas cores da pele, tinta das unhas, manicure, esteticista, cabeleireira, dietas, além de milhentos produtos de beleza que ocupam quase toda a casa de banho. É que, homens e mulheres, são assim mesmo. O resto, é conversa. Quer um conselho? Case e vai ver que “o casamento consegue fazer de duas pessoas uma só. Mas o difícil é determinar qual delas será” …
Por isso, dirigido aos homens vai um conselho do “outro” Sócrates: “Certamente, casa-te. Se conseguires uma boa esposa, serás feliz; se apanhares uma ruim, tornar-te-ás um filósofo”.