Cuidado com o cão …

O primeiro cão que tive cá em casa foi um “Serra da Estrela”, grande e bonito, com um “vozeirão” que metia medo. Foi-me oferecido pela minha cunhada que vive junto à serra que lhe deu o nome a quando do nascimento do meu filho mais velho. Veio como cachorro pequeno e cresceu, cresceu, transformando-se num “canzarrão” peludo de que as visitas tinham medo. Ainda pensei colocar à entrada uma daquelas placas a avisar que tinha um cão, mas a verdade é que o bicho parecia mais um carneiro do que o canino guardador da casa de tão meigo e manso que era, apesar de, ao ouvir um ruído estranho lá ao fundo da rua, correr ao portão e ladrar feito trovão, o que poderia ser muito intimidador para quem ouvisse, mas não conhecesse. Pensando bem, desisti de a colocar porque seria enganar quem chegasse. 

No entanto, não posso deixar de me aperceber das placas colocadas por aí abaixo em paredes e portões de entrada de muitas casas, com o típico aviso: “Cuidado com o cão”. Encontro uma grande variedade de placas que tanto podem ser metálicas como compostas de um ou vários azulejos, mais ou menos artísticos, cravados no muro exterior junto à porteira ou portão, com letras vulgares ou rebuscadas e, quase sempre, tendo a pintura duma cabeça de cão, por norma com ar ameaçador. Sou um curioso deste tipo de avisos e até acho piada nalguns casos em tanto conheço os donos como os cães pois “a cara não bate com a careta”. É que os avisos são excessivos, ameaças falsas. Apesar do ar ameaçador da cabeça do cão utilizado para, de forma explícita, intimidar quem quer que se aproxime com boas ou más intenções, a mensagem pode ser real ou não passar de um enorme “bluff”. Por norma, a intenção é alertar para o facto de se ter um animal perigoso em casa, daqueles que, no mínimo, nos podem “agarrar pelos fundilhos das calças”. No entanto há quem se aproveite do cão e o “intitule” de perigoso para intimidar os intrusos quando, afinal, o cão que lá vive é igual à minha cadela Diana que só ladrava de “alegria”. A existir nessas casas algum “animal perigoso”, terá de ser outro e, para que faça sentido, há quem ache que a frase deve ser trocada por: “Cuidado com o dono do cão”. Recentemente, vi num desses avisos um acrescento pintado à mão, que me fez pensar ter sido escrito por alguém que, provavelmente, já teria sido ali “mordido” e que dizia: “Cuidado com a mulher do dono do cão” …

É verdade que, muitas vezes, quando entramos numa casa com o tal aviso pregado no muro da entrada onde o cão tem um ar ameaçador, acabamos por ser confrontados com um animal que mais parece um carneiro manso ou um gato que passa a vida a ronronar. Se ousarmos perguntar ao dono do bicho porque razão tem aquela placa no muro de entrada, ele vai pedir-nos para não dizermos nada a ninguém para não denunciarmos o embuste e ficar a “ameaça” de um cão perigoso, pois, como diz o ditado, “o medo guarda a vinha”. E basta constar que o animal é perigoso …

Mas há mais razões para se colocar o aviso. Ao entrar numa loja, o homem vê um cartaz pendurado na porta onde se lê: “Cuidado com o cão”. Enquanto faz as compras, olha para um lado e para o outro com receio, tentando precaver-se se o animal aparecer perto de si. Foi já quase a sair da loja que, para sua surpresa, encontrou um cão muito pequeno. Ao vê-lo, aproximou-se da senhora que estava na caixa e perguntou-lhe: “Este é o cachorro com que tenho de ter cuidado”? “Exatamente”, respondeu a empregada. “Mas não me parece que seja perigoso”, quis saber o cliente. “Na realidade, não é”, retorquiu a senhora. “Então, porque é que está ali o cartaz à entrada a dizer para termos cuidado com o cão?”, quis ele saber. E soube: “Porque antes, toda a gente o pisava” …

Os avisos entendem-se como preventivos para quem vai entrar numa propriedade onde o animal anda à solta, mas de nada servem para quem passa na rua, a não ser que, mal veja o cartaz à distância, “dê de frosques” que é como quem diz “se ponha a milhas”. E os que não têm cartaz? Há dias ao fazer a minha caminhada matinal atrás da Becas, ao passar junto de um grupo de vivendas, um cão de porte grande que estava na varanda do primeiro andar de uma das casas pregou-nos um susto ao atirar-se por cima da grade de varanda estatelando-se no passeio, para se levantar, atravessar o jardim e com outro salto passar o muro da rua. Num ápice, atacou e dominou a Becas. Estive tentado em dar-lhe um pontapé, mas acabei por o agarrar na parte de cima do pescoço e arrastar de cima dela, até aparecer um rapaz aflito para o levar. Qual deveria ser o cartaz desta casa?

Também já encontrei alguns em que o dono soube pôr uma pitada de humor para aligeirar o teor da mensagem. Pendurado no portão de ferro da entrada de uma quinta podia ler-se, numa letra irregular, o seguinte: “Cão – Cuidado. É proibida a entrada a doentes do coração, bêbados e cagões”. Naquela propriedade só podiam entrar “homens de barba rija”, que não ficassem com as calças molhadas ao primeiro sinal do cão … 

Se tivesse um desses locais onde se “encharca” gente com álcool, teria um letreiro igual a este: “Aqui não entra bêbedo … só sai. – Bar do Quim Latas”. Se tivesse um degrau perigoso, optaria por colocar um aviso igual àquele a que achei mais graça até hoje: “Cuidado com o degrau. O Joaquim quebrou o pé e o Manel t´á Manco”. Mas, como tenho uma cadela que se chama Becas, a colocar algum aviso no muro junto à entrada, seria assim: “Cuidado, com a Becas. Se ela fugir, você assusta. Deitando-se, coce-a. Se correr e ladrar, está feliz. De qualquer maneira, por favor, não a morda” …

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