Pequenas misérias do ser humano…

A Terra é habitada por numerosas espécies de animais. Nós somos mais uma, aquela a quem Desmond Morris chamou “o Macaco Nu”. O protagonista principal, quase sempre pelas piores razões. Mas isso é outra história. Balzac escreveu a “Comédia Humana” sobre grandeza e miséria da condição humana, obra imensa de histórias de costumes onde a aparência é tudo. Mudaram-se os tempos e de que maneira. Mas se Balzac fosse nosso contemporâneo, continuava a ter inúmeras pequenas e grandes misérias para contar sobre o tal “Macaco Nu”, algumas delas trazidas à luz do dia e divulgadas pelas notícias a uma velocidade vertiginosa.

Nos absurdos do nosso mundo, encontra-se o que ocorreu há pouco tempo no Reino Unido. Um milionário saudita foi acusado de violar uma jovem de 18 anos. Na sessão do julgamento, que durou apenas 30 minutos, o réu alegou que “caiu em cima da jovem e penetrou-a acidentalmente”. E isso foi o suficiente (se é que não houve mais nada por fora) para o ilibar e sair absolvido. Ao ler esta notícia, imaginei como seria a cena do “acidente”: o milionário a passear pela sala de “arma em riste”, à cata de um possível “ladrão”. Ao passar entre os móveis, tropeça no tapete, cai direito como uma estátua sobre o sofá, sempre “de arma apontada”, onde estava “acidentalmente” a “vítima descascada e de papo para o ar”. E, “inexplicavelmente”, o “cano da arma” encaixou perfeitamente “na cova do ladrão”, sem necessidade de ajustes. Daí ter sido, como ele disse, uma “penetração acidental”. Presume-se que ele, como cavalheiro respeitoso, terá feito “marcha atrás”. Mas a “cova” era tão agradável, que ele voltou a “entrar”. E ali ficou, indeciso entre o sair e entrar, num vai e vem que só terminou quando já não podia mais. Francamente. Só as pessoas de má índole não acreditam que aquilo foi um “acidente”. E que “acidente” …

Mas os “acidentes” do foro sexual são vulgares, às vezes bizarros e até originais. É que o ser humano tem “necessidades” que o obriga a “pôr-se a jeito” e às vezes é apanhado com “as calças na mão”. Assim,

naquele dia o serviço de urgências do hospital tinha poucos doentes e a maioria das cadeiras na sala de espera estavam vagas. Por isso, o enfermeiro estranhou ver um homem muito irrequieto, andando de um lado para o outro em grande agitação. Quando se aproximou dele e o aconselhou a sentar-se, o homem recusou e continuou a circular pela sala, como se estivesse ligado à corrente. O enfermeiro só viria a perceber a razão da sua “instabilidade” quando ele foi atendido pelo médico e lhe teve de explicar o seu “problema”. Segundo o “doente”, quando estava a “brincar com um vibrador”, este “escapou-se-lhe da mão” e entrou-lhe pelo ânus dentro “sem pedir licença”, penetrando pelo intestino acima “em contramão”, isto é, em sentido contrário ao “trânsito normal” daquela “via de circulação” que, por regra, se dirige sempre para a saída “no fundo das costas”, à procura da “liberdade”.

E, tal como acontece nas autoestradas quando o automobilista entra em contramão e corre perigo de provocar acidente grave, também ali o “aparelho” estava sujeito a ser abalroado por algum “tutano de m.”. Mas o maior problema é que o referido “aparelho” estava ligado e a funcionar no momento da “invasão”, razão pela qual ele não se podia sentar na cadeira quando o enfermeiro, com a melhor das intenções, o aconselhou a fazê-lo. Quem conseguia estar quieto com o vibrador a “tremer-lhe” na tripa?  Não sei se ele informou o médico qual era a marca das pilhas pois, no caso de serem “Duracell”, teria “massagem” assegurada até ao fim dos seus dias, se fizermos fé na publicidade. Sabe-se que o doutor lhe mandou fazer uma radiografia de imediato, demonstrando, “preto no branco”, que o “aparelhozinho” penetrou de forma significativa pelo intestino. Ora, isso era uma prova inequívoca de que o “fugitivo” era de boa qualidade construtiva, pois continuava a funcionar, apesar das “condições adversas” da “via de circulação”. No entanto, revelou ter uma falha técnica de grande importância para facilitar a resolução de situações como esta e que não sei se o médico apontou no relatório: “Faltava-lhe a “marcha atrás”, controlada por um comando à distância”. Se estivesse dotado com esta característica técnica, até o doente resolveria o problema sem se expor, fazendo-o sair “às arrecuas” pelo local por onde entrou, “inadvertidamente”.

Não soube qual foi a forma como o problema foi resolvido e aquele pequeno aparelho recuperado. Entre familiares e amigos, a questão foi abordada e não posso deixar de dizer que várias sugestões foram aventadas. Houve quem sugerisse uma cana de pesca, o que não me pareceu grande ideia por três razões. A primeira, porque obrigaria o doente a colocar-se com o “c. virado para a lua”, numa posição pouco ortodoxa. Em segundo lugar, por não se saber qual o melhor isco para colocar no anzol. E, por último, como é que o “fugitivo” podia morder no anzol se estava a ser pescado por trás? Houve alguém que sugeriu a ingestão de um laxante, que faria acelerar o “trânsito intestinal” e arrastar o inoportuno vibrador para o “buraco” onde se escondeu ao “fugir” da mão do dono. No entanto, tal solução não colheu parecer favorável de nenhum interveniente, por se considerar haver perigo elevado com a possibilidade do aparelho, a trabalhar, aguentar-se até que a acumulação de gases provocasse o seu disparo como um tiro de canhão, de consequências imprevisíveis para a “via de circulação” e a “boca de saída” … Por fim, como “cada cabeça cada sentença”, surgiu a sugestão mais simples: “Com o aparelho ligado permanentemente, bastava a “vítima” abrir a boca e deixá-la aberta, que o instrumento acabaria por sair sozinho, ao continuar o seu caminho “tripa dentro”. Seria só uma questão de tempo, já que os dois “buracos” estão ligados entre si por uma “conduta”, apesar de longa e sinuosa …

Estes dois casos, embora pareçam diferentes têm muito em comum. Ora vejamos. Os dois intervenientes andavam “em pelote”. Também ambos “caíram (in)voluntariamente”. Sendo certo que o saudita “caiu de frente”, presume-se que o português “caiu de cu”, para trás. Se o primeiro sinistrado quando caiu penetrou a jovem que “repousava” no sofá, já o segundo fez o contrário, deixando-se penetrar por um vibrador que, no momento, devia estar de passagem “a saltitar”. Sabe-se que a jovem levou o saudita a tribunal, acusando-o de a ter violado. Que se saiba, o vibrador não apresentou queixa em tribunal, nem pediu indemnização pelo facto de ter sido enfiado num tubo de esgoto. 

Citando Desmond Morris, “se a organização das atividades mais primárias – alimentação, medo, agressão, sexo, cuidados parentais -tivesse sido desenvolvida unicamente através de meios culturais, teríamos certamente agora sobre ela um controle mais eficaz e poderíamos, inclusive, fazer ajustes pontuais. Mas não o fizemos. Curvámo-nos repetidamente diante da nossa natureza animal e admitimos, tacitamente, a existência da complexa besta que se agita dentro de nós”. E da qual não nos conseguimos libertar … 

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