Somos tão estranhos.Nós e o mundo…

Ser estranho é sinónimo de invulgar, excêntrico, fora do comum. Às vezes, insólito. E há coisas realmente muito estranhas. Só que, de tão absorvidos nas nossas vidinhas, nem damos conta do quanto o são. Nalgumas ocasiões, paro, observo o absurdo e chego mesmo a rir-me sozinho pelo insólito. É o caso do Cemitério dos Prazeres. Que raio de nome para um local de onde o “prazer” foi banido. Fica lá para a capital e, ao que dizem, dá “abrigo” a muitas das figuras e figurões mediáticos que vão desde políticos a artistas. Será por ali estarem enterrados alguns dos que eram ouvidos e vistos com prazer? Ou pelo prazer de saber que, afinal, esses também “vão de vela” e estão ali sepultados? Afinal, é tudo uma questão de “prazer” ou melhor, “prazeres”. Também se sabe que naquele cemitério foram a enterrar muitas pessoas da chamada classe alta lisboeta, que usufruíram bem dos prazeres da vida. A ser assim, também pode ser mais uma das razões para a atribuição do nome, sinal de que os “prazeres” da vida foram a enterrar. Mas, até por isso, o nome não está bem adaptado àquela “quinta das tabuletas” pois, tratando-se de um lugar de recolhimento e oração associado à dor da perda, não deveria ser confundido com os risos de alegria do prazer, mesmo com gritos à mistura…

No entanto, as coisas estranhas não se ficam pelo cemitério e chegam às nossas aldeias. Em Castro Daire existe uma chamada “Chiqueiro”. Será que se pode dizer que os seus habitantes são… porcos? É que, que eu saiba, são eles que costumam viver no chiqueiro… Também em Oliveira de Azeméis existe a aldeia dos “Traseiros”. Julgo ser inquestionável que, em todas as aldeias de Portugal onde ainda há população… há “traseiros”. E são tantos quantas as pessoas, pois nunca soube existir por cá alguém com dois ou mais…

Não deixa de ser curioso como duas aldeias, que ficam a distância considerável entre si, têm nomes que sugerem ser uma útil à outra: Enquanto na Lousã uma delas tem o nome de “Terra da Gaja”, a outra, que é pertencente ao concelho de Vila Franca de Xira, dá pelo nome de “Cama Porca”…

Agora sei que há uma terra onde se vende um certo “instrumento”. É em Pedrógão Grande e chama-se “Venda da Gaita”… Já mais a sul, em zona de planície pertencente a Viana do Alentejo, encontra-se o “Vale da Rata”. Não faço comentários, para não ser mal interpretado. Caso contrário, ainda me mandam para Mafra, à “Venda das Pulgas”.

Como será que se chamam os habitantes de uma aldeia de Santo Tirso chamada… Cabrões? Serão mesmo “cabrões”? Presumo que não devem andar por aí a dizer que o são ou… vão ser motivo de grande gozo.

Por esse mundo fora são inúmeros os sinais de que somos estranhos. Mas, não precisamos de ir longe. Basta vermo-nos ao espelho:

Somos incapazes de andar cem metros a pé para levar o filho à escola ou carregar as compras do supermercado, mas depois fazemos caminhadas de quilómetros e levantamos pesos no ginásio, para fazer exercício. Não há aqui uma grande dose de estupidez e contradição? Passamos a vida a cortar árvores para o fabrico de papel e depois usamos o papel para fazer campanha contra o abate das árvores.

Um nosso concidadão comprou no cemitério local onze campas, sem que o motivo fosse por estarem em saldo. Não estavam. Esgotou o “stock” de disponíveis. Não é para fazer negócio enquanto está vivo, porque é proibido, não é para fazer negócio quando estiver morto, pois “está impedido”. Talvez queira espaço para fazer “caminhadas” quando estiver “do lado de lá” ou para receber os amigos. Como será um encontro de ossos? Com tanta “propriedade”, o difícil é escolher…

Até o Dai Lai Lama tem opinião formada sobre o quanto estranho é o ser humano. Diz ele: “O que mais me surpreende na vida, é o homem, pois perde a saúde para ganhar dinheiro e depois perde o dinheiro para recuperar a saúde. Vive pensando ansiosamente o futuro, de tal forma que acaba por não viver o presente, nem o futuro. Vive como se não fosse morrer e morre como se não tivesse vivido”.

Mas somos mesmo estranhos. Se um pobre diabo rouba um pão, todo o mundo o chama de “ladrão”. Mas, se um gestor ou político rouba, ou melhor, “desvia” um ou muitos milhões, então já se diz: “Aquele é que foi fino”. É por isso que o Isaltino Morais não se cansa de apregoar: “Digam o que quiserem. Eu sou a prova viva de que a reinserção social funciona em Portugal!!!”

O próprio papa Francisco, apesar da sua grande tolerância e bondade com os homens, não deixa de pensar também que o ser humano é estranho, porque:

  • “Briga com os vivos, mas leva flores para os mortos;
  • Lança os vivos na sargeta e pede um bom lugar para os mortos;
  • Afasta-se dos vivos e agarra-se desesperado quando estes morrem;
  • Fica anos sem conversar com um vivo, mas tem o dia todo para ir ao velório do morto;
  • Critica, fala mal e ofende o vivo, mas santifica-o quando este morre;
  • Não liga, não abraça, não se importa com os vivos, mas se autoflagela quando estes morrem;
  • Aos olhos cegos do homem, o valor do ser humano está na sua morte e não na sua vida…

É bom pensarmos nisto, enquanto estamos vivos”…

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