Para burro velho, erva tenra…

O homem chegou num “bruto” Mercedes descapotável (poderia dizer que era um “descapotável” dentro de outro) e saiu do carro agarrado à bengala para amparar os mais de oitenta anos de vida, entregando as chaves do carro a um dos porteiros. Pela outra porta da “bomba” saiu outra “bomba”, uma jovem com pouco mais de vinte anos, um regalo para a vista dos homens que ali estavam (e eu era um deles) e a inveja das outras mulheres, ficando sem saber qual o grau de parentesco entre os dois. Depois, de braço dado, entraram portas adentro como se fossem os donos do casino. Mais tarde, ao longo da noite, viria a perceber bem qual o tipo de “parentesco” que os unia… Pode-se dizer que os casinos são o local certo para se encontrar com alguma frequência estes casais… Ali é vulgar observarem-se, em jantares mais ou menos românticos, avô e… “neta”. Não vou dizer que fazem uma parceria contra natura, porque o não são. Homem e mulher adultos fazem um par natural e longe de mim pensar o contrário, mesmo se a diferença de idades for maior que a “Guerra dos cem anos”. Até acho que são uma ousadia, talvez mesmo a expressão do desejo que muito homem idoso tem recalcado, porque o seu sonho é fazer o mesmo, dando crédito total ao adágio popular: “Para burro velho, erva tenra”. E se a “erva” puder ter vinte a trinta centímetros de altura, que é como quem diz, vinte a trinta anos de idade, será a altura (idade) ideal para a “colher”. Porquê? Porque é a altura (idade) de ter tudo no sítio, pele macia e brilhante plena de jovialidade e inocência (falsa ou não, mas sem que isso incomode o interessado). É verdade, o homem é como é e muitas vezes procura eternizar a sua juventude e o seu vigor de macho. Recusa o desgaste da idade e nega as evidências, escamoteando a realidade até aos amigos. Masculinidade é eterna, até à cova!!!… Ora, para provar aos outros (e enganar-se a si próprio), nada melhor que uma mulher nova, boa (boa presença, claro), que provoque inveja e o ajude a levantar o ânimo (e, se possível, outra coisa…). Para tal, compra carro descapotável, bebe whisky velho, leva a menina a restaurantes caros, a boutiques de marca com prendas de luxo e mostra-lhe a moradia na praia… Às vezes, até lhe “bota” casa… Investe em garotas mais novas para estimular a sua sexualidade, embora alguns argumentem que procuram mulheres novas pelo romance, por pensarem que elas ainda acreditam no amor, no conto de fadas, no sonho do amor para sempre. Porém, os mais diretos, dizem que só há uma razão: Sexo. (Costumava brincar com um velho amigo sobre isso, duvidando do seu desempenho, mas ele respondia-me: “Sabes, já não toureio, mas ainda sou aficionado…). E elas? Dizem que sonham ser adoradas, tratadas como senhoras da alta sociedade. A ideia de encontrar o príncipe encantado capaz de lhes satisfazer todos os caprichos e dar segurança, faz parte do imaginário feminino. Ora, um homem velho e com “pasta” personifica esse ideal de segurança, estabilidade e conforto. E, claro, dinheiro conta… É uma atração forte para quem nunca o teve… Dizem até que, em regra, o interesse não está no namorar. Importam muito mais outros interesses como prestígio social, influência política, poder e… dinheiro, pudera. Há jovens que veem nos velhos uma porta para esse mundo fechado do dinheiro. Daí que, muitos deles acabam por ser presas fáceis, vítimas da sua “energia viagreira”, numa inocência quase infantil. Por isso, são muitas as mulheres livres tentando “dar o golpe do baú”, caçando velhos carentes com conta bancária valente.

Quando acontece, a coscuvilhice da vizinhança e dos conhecidos fala à boca cheia: “Vejam o disparate da relação”, “o estúpido do velho não vê que ela só quer apanhar-lhe a massa?”, “ela está com ele pelo dinheiro”. Para os familiares, “o velho está a pôr em causa os bens da família”, “meteu-se com aquela sirigaita acabada de desmamar”, “é preciso declará-lo incapaz”, “uma golpista interesseira que o vai deixar na miséria”.

Já os amigos, permanecem divididos entre aceitar a sua relação ou serem francos e abertos com ele. Conheci um caso em que, na despedida de solteiro em vésperas do casamento, lhe foram dizendo: “Meu amigo, a idade não perdoa e já estás no ponto em que, a única coisa que cresce, são… os pelos e as peles…”,“não te metas naquilo de que não podes dar conta”, “tu tens cabedal para aguentar as necessidades dela”? “E se um garanhão novo te assalta a casa e a mulher”? E um outro, menos subtil, disse-lhe de caras: “Achas que não vais ser corno”? Para surpresa de todos e com o maior descaramento, o “jovem noivo” (de setenta e nove anos), respondeu: “Pelo sim pelo não, é melhor comer “bife de primeira” embora tenha de o dividir com “sócio”, do que comer só “sopa de cebola”, ainda que a “tigela” seja toda para mim”… Com tal argumentação, a malta calou-se, informada daquilo com que ele estava a contar…

“Faz algum sentido um homem velho escolher mulher velha? De jeito nenhum”, dizem os defensores do “remoçar”. Só se for para grandes discussões intelectuais, encontros de antigos colegas de curso, bailes de saudade, viagens em pacotes para seniores e outras coisas que tais. Velho com velha dá velhos ao quadrado. Falam alto em diálogo de surdos, esquecidos dos óculos, do telemóvel, do que fizeram ontem, do que almoçaram hoje, do que são e até de quem são. Por isso, porreiro, porreiro, é arranjar uma “gaja nova” que “dê vida a um morto” ainda que, para ter “capacidade de resposta” seja preciso “enfardar” carradas daqueles pequenos comprimidos azuis e esperar o “milagre da ressurreição”… A ilusão de prolongar a força da juventude… E se, a meio do “esforço”, a máquina não aguenta a “pressão” e estoira? É o risco que corre uma velha locomotiva a vapor, de tubos gastos pelo uso e pela idade, tentando subir a encosta com a pressão no máximo. Quando menos se espera… PUM!!! Vai-se abaixo das canetas…

Como diz a Bíblia, “não se põe vinho novo em odres velhos; de outro modo, arrebentam os odres, derrama-se o vinho e estragam-se os odres”…

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