Quem quer cuidar de mim?

“Olá, eu sou a Shakira, jovem, bonita e meiga, muito meiga. Ainda não completei a adolescência e procuro quem queira cuidar de mim. Prometo que serei sempre agradecida, fiel e uma boa companhia. Não trairei quem me acolhe nem serei ingrata. Nunca. E serei com certeza a alegria da casa onde me acolherem, alguém com quem podem desabafar, uma companheira para passear, para os bons e maus momentos da vida, espalhando felicidade e ajudando a aliviar a tristeza. Então, quem quer cuidar de mim?

Minha humilde mãe foi abandonada por aqueles a quem cabia cuidar dela muito antes de eu nascer. Somos seis irmãs e um irmão e passamos fome, muita fome. E até sede. Desde que nasci valeu-nos a Sílvia fazendo-nos chegar comida e bebida através de uma janela, pois morávamos na zona abandonada de um estaleiro ao qual não tinha acesso e de onde nunca saíamos. Só a minha mãe conseguia ir a casa da Sílvia de vez em quando, para lhe agradecer o que fazia por nós. E estamos-lhe muito gratas por ter sido o nosso anjo da guarda. Sem ela, não teria sobrevivido. Nenhum de nós. Foi ela que nos alimentou, que nos matou a sede, que nos deu atenção, que falava connosco, que nos deu amor e nos fez acreditar que ainda há gente boa. Gente responsável para cuidar de nós: CÂES. Umas senhoras da Associação levaram cinco dos meus irmãos para entregar a famílias de adoção. Só fiquei eu e uma irmã, por nos termos escondido entre o silvado. Tivemos medo, não sabíamos o que nos iam fazer. Porém, algum tempo depois, uns homens levaram-nos à força para o canil municipal. Nem sequer tivemos tempo para nos despedirmos da nossa protetora, a Sílvia, que deve ter ficado preocupada com o nosso desaparecimento. E o que pode esperar um cão preso no canil se no espaço de poucos dias não aparecer alguém para o adoptar? O mesmo que podiam esperar os judeus nos campos de concentração nazis. Vieram buscar à cela do lado dois cães que já lá estavam quando chegamos… e não voltaram. Por isso, percebemos bem o que nos espera…”

Naquele dia, quando a Sílvia chegou a casa, a mãe disse-lhe logo: “As cadelitas desapareceram”. Correu à janela e chamou-as, mas nem sinal delas. Ficou preocupada. Estava-lhes muito afeiçoada. Dormiu mal, melhor, não dormiu. Ao outro dia mal se levantou, foi à janela espreitar para o terreno do estaleiro e nada. Só apareceu a mãe da ninhada. Quatro dias depois continuava sem notícias. Foi ao estaleiro perguntar aos trabalhadores e disseram-lhe: “Foram recolhidas por gente da Associação”. Não acreditou e foi falar com a Teresa. Rapidamente chegaram à conclusão de que deviam ter sido levadas para o canil municipal. A confirmar-se, tinham de andar depressa se as queriam salvar. E, ao outro dia, quarta-feira, veio a confirmação: As duas cadelitas estavam no canil e seriam abatidas na sexta-feira. . Sem mais, como todos os animais que lá vão parar e não têm a sorte de ser adotados… em poucos dias. Começou então uma corrida contra o tempo para as salvar. Tinham de encontrar alguém que as adotasse. A Sílvia bem gostaria de o fazer mas não tinha condições. Não podia ficar com elas. E a Teresa, responsável na Associação local que promove a adoção de animais, muito menos, tantos são os casos que tem entre mãos. Foram para casa e nem uma nem outra dormiram. Só havia uma preocupação nas suas cabeças: Como salvá-las? O tempo escoava-se. Ao outro dia, a Sílvia conseguiu o adiamento da execução por mais uma semana através de um responsável camarário. Uma semana, nada mais, uma pequena folga para tão grande tarefa. Seguiram-se dias de muitos contactos mas nenhum resultou, não encontraram família de adoção. O que fazer? O tempo escasseava e a Sílvia mais sofria com a antevisão do abate das suas “meninas”. Então, para evitar a condenação à morte daqueles dois animais inocentes (só porque a maioria dos políticos deste país aprovou regulamentos municipais que assim o determinam – e louve-se a Madeira, por ser a exceção), entre as duas acordaram que a Sílvia as adotaria (transitoriamente) com a ajuda da Associação e, a partir daí promoveriam a sua adoção definitiva. Ao recolhê-las no canil, encontraram as cadelitas tristes, cheias de medo e deprimidas, como que pressentindo o que as esperava. Mas, quando a Sílvia as chamou, os olhos iluminaram-se ao reconheceram a sua protetora. Tinha valido a pena…

“Quando o tratador do canil nos quis agarrar, lutamos e esgadanhamos deixando-o marcado nos braços, porque sabíamos que não voltaríamos, como todos os outros. Já dentro duma viatura, ouvimos uma voz a chamar-nos. E então reconhecemo-la. Era a mesma voz que tantas vezes nos falou, nos mimou, nos deu atenção e amor. Era a Sílvia. Como é possível? Soubemos então que estávamos salvas porque a Sílvia não nos trairia. Tínhamos essa certeza. O sofrimento estava a chegar ao fim. É que nós sofremos como os seres humanos, embora haja quem pense que não. E será bom que se saiba que os cães também têm a capacidade de se emocionar, de sentir alegria e tristeza, raiva e mágoa. Sentimos quando somos abandonados e caímos em depressão. E até temos pressentimentos, se o nosso dono estás triste ou alegre, feliz ou zangado, assustado ou furioso. Mas temos sobretudo a capacidade de ser uma companhia meiga, fiel, leal e desinteressada, que pode ser uma parte importante da sua vida. Por isso lhe pergunto e peço com toda a humildade: Quer ter a bondade de me adotar? É que eu preciso de adotar um dono, com urgência”…

O que acabo de vos contar é real, estes animais precisam de vós. Por isso, quem quiser dar à Shakira e à Beyoncé o acolhimento e alegria de um lar que nunca tiveram, podem contactar a Sílvia ou a Teresa pelos números 912948258 e 912568785.

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