Há falta de “peças” na “oficina”…

Ontem estava bem disposto a falar com o Paulo quando senti uma dor intensa sobre a anca do lado esquerdo, que foi subindo até se localizar na zona renal. Esperei para ver se era passageira mas continuou com alguma intensidade, provocando-me suores frios. Como estava no Hospital de Lousada, só tive de descer ao Serviço de Atendimento Permanente (SAP) para a médica de serviço me observar e pôr a soro. O que se passou? Nada mais nada menos do que acontece a um automóvel com muitos anos de idade: “Problema mecânico”.

Quando o “carro” é novo, não há mal que lhe pegue. É só meter “combustível” e temos “máquina” para ir a qualquer lado. O “motor” tem “potência” mais que suficiente e resiste a todos esforços, mesmo se exagerados. Se no princípio temos muito cuidado para não “riscar” a “pintura” nem sujar os “estofos” e mandamos fazer as “revisões” recomendadas pelo “fabricante”, com o tempo as preocupações são outras e acabamos por descurar esses cuidados, assegurando-lhe somente a “manutenção” mínima obrigatória, para além do “combustível” indispensável sem o qual não trabalha.

Ao entrarmos na adolescência pode-se dizer que completamos o período de “rodagem”, atingindo então a “potência” máxima que nos permite “voar” sobre a estrada da vida feitos fanáticos da velocidade. E nessa loucura de quem sai da adolescência, muitas vezes entramos com “excesso de velocidade” numa “curva” apertada da via ou da vida, fazendo o “veículo” derrapar e deixar a borracha agarrada ao asfalto, quando não se parte um “amortecedor”, amolga a “chapa” ou desfaz uma “roda” contra um qualquer obstáculo. É o tempo de abusar do “carro” e experimentar os limites, com alguma irresponsabilidade à mistura.

E, nesse período de euforia, quem não gosta de alindar o “carro” com umas “jantes especiais”, um espetacular “aileron” traseiro ou uma “faixa colorida” para lhe dar um ar mais desportivo e o mesmo é dizer com uns “pneus” da Nike , um “penteado” especial ou uma “pulseira de diamantes”? É o tempo do exibicionismo, da competição entre “automóveis”, da conquista do mundo.

Depois, o “carro” entra em “velocidade de cruzeiro” carregando a família de um lado para o outro, sujeito a pequenas avarias que podem começar pelos “faróis” quando reduzem a “visibilidade”. Entretanto, vão aparecendo “amolgadelas” na “carcaça” resultado das “batidas do tempo”, normalmente mais visíveis no “para-choques” da frente, tendo de ir ao “bate-chapas” para “alisar a pele” e renovar a “cor e o visual” com nova “pintura”. (A este propósito há dias, logo pela manhã, tocou a campainha da porta e fui atender. Quando entrei em casa a minha mulher, contrariamente ao que é habitual, chamou-me e perguntou-me: “Quem era”? E eu disse-lhe que era o carteiro. “E o que queria ele”? Respondi-lhe que queria entregar uma carta. “De quem é a carta”, continuou a perguntar? Acrescentei que era relativa a um condomínio. “Mas o que tens tu no condomínio” insistiu. Tive de lhe dizer que era uma loja, já admirado por estar a dialogar tanto, nada habitual. “Mas o que é que tem na loja?”, quis saber. Disse-lhe que estava lá uma esteticista. E a resposta dela calou-me: “Ah, é onde fazem restauros…”)

À medida que os anos vão passando aumenta o número de idas à “oficina” quer para as “manutenções de rotina” com o recurso a “exames” e “análises” à “máquina”, quer para “reparações extraordinárias” necessárias para recuperar os “estragos” resultantes de “acidentes” ou do desgaste de “peças” devido ao uso. É através dos “exames” que se verifica se as “longarinas” estão “tortas”, se o “motor” trabalha com a regularidade de um relógio e até mesmo se o “computador” que comanda os órgãos do “carro” está afinado. Com o desgaste de alguns “órgãos” é normal que o “motor” perca “potência”, pelo “escape” saiam mais gases tóxicos com “ruídos sonoros”, os “rolamentos gripem” e o “carro” tenha de recolher à “oficina” ao cuidado dos “mecânicos”, que lhe proporcionarão os cuidados necessários à sua “recuperação” para voltar à “estrada”. Mas com o peso da idade algumas “peças” importantes começam a falir e dão sinais de que precisam de sofrer grandes “reparações”, quando não de ser substituídas. Aí vem ao de cima a preparação técnica dos “mecânicos”, indispensável para que a “operação” tenha sucesso com rigor “cirúrgico”. É dessa forma que se abre e repara o “motor”, substituem “válvulas”, extraem “corpos estranhos”, emendam “peças” fraturadas, voltam a pôr em funcionamento “dobradiças” presas pela “ferrugem”, em suma, “desmonta” e volta a “montar” a “máquina”, com um grau de dificuldade acrescido pois tem de estar em “funcionamento”. É que, se para, vai diretamente para a “sucata”… O grande problema é conseguir “peças” para “substituir” as que “deram o berro”. Já se fabricam algumas em separado mas, as principais, têm de ser retirada de “carros” que deixaram de funcionar antes de serem enviados para o “sucateiro”. E, para aumentar a dificuldade, há os “carros” que têm documento a proibir que lhes tirem “material”, como se viessem a precisar dele. O que é um desperdício quando há tantos “carros” a precisarem (alguns deles tão novos!!!), quando há tanta falta de “peças”…

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