Uma boa notícia. Contamos consigo…

Por aquela estrada a caminho de Lustosa passou muita gente que “olhou mas não viu” a cadela dálmata escanzelada com uma enorme teta a rasar o chão, ali abandonada por um qualquer energúmeno. E não viu porque a atenção de quem passa fica sempre focada nas mais ou menos jovens “mulheres de vida” que por ali param, os homens para “avaliarem a promessa de prazer” e as mulheres a quererem perceber “o que é que elas têm que eu não tenho”. Curiosamente, só a jovem brasileira, que tem lá o “escritório” na entrada de um caminho de terra, lhe dava atenção, levando-lhe todos os dias um pouco de água, ração e companhia, a “solidariedade na desgraça” até porque, a dor aproxima muito mais do que a alegria. Mas, o Homem que pedalava serra acima “viu-a” em dois dias consecutivos, apercebendo-se logo do drama e do sofrimento do animal. E então voltou com a Mulher, sua companheira dedicada à causa dos animais, para a recolher e tratar, perante uma primeira reação preocupada da jovem brasileira que começou por pensar o pior para depois respirar de alívio.

Como o seu objetivo era tratar dela e encontrar quem a adoptasse, foram diretamente ao consultório de uma veterinária, tendo sido sujeita a uma cirurgia de mais de quatro horas em que lhe foi retirada a enorme hérnia (e não mastite) que a afetava. No final, com a voz embargada pela revolta, a veterinária disse-lhes: “Esta cadela foi explorada como reprodutora pelo dono até à exaustão, ninhada atrás de ninhada, uma autêntica “fábrica de filhotes” para negócio. E, quando ficou doente e esgotada, largaram-na como coisa inútil. Não pode ser entregue para adopção a qualquer um, porque precisa de alguém que lhe dê um lar e um canto tranquilo onde possa viver em paz o resto dos seus dias, pois já sofreu demais. Tem de ser alguém que tenha consciência disso”.

E, às vezes, os milagres acontecem. Mal tinha acabado de falar quando, da entrada do consultório, se ouviu uma voz de Homem: “SE ME PERMITIREM, EU TOMO CONTA DELA”.

Foi em casa do Casal que a recolhera que efetuou a convalescença, tendo engordado e recuperado da cirurgia, encantando-os por se mostrar um animal meigo e reconhecido, como muitos humanos nunca foram, pelo que, quando fizeram a entrega da Sissi àquele Homem que, livre e voluntariamente assumiu a sua guarda, correram lágrimas de tristeza na despedida. Enfim, há dramas que têm um final feliz…

É muito antiga a relação entre o homem e os animais de estimação, especialmente cães e gatos. Enchem as casas de alegria, encantam com as suas brincadeiras e travessuras, são fofos, lindos, leais companheiros. Mas dão trabalho, despesa e incómodos. Se dão… Porque sujam, estragam , exigem cuidados alimentares, de saúde, treino e… envelhecem. E, claro, um dia alguém vai dizer “o cão latiu de noite”, “fez um buraco no relvado”, “o gato arranhou o sofá”, “vamos de férias. E o cão?”. Por isso, quando crescem, já não têm piada, quando sujam, chateiam, quando exigem do dono, já não há pachorra. É assim que, por muito fofos e queridos que tenham sido, alguns acabam abandonados no meio do nada, longe, bem longe, para não regressarem, jogados fora como lixo quantas vezes depois de maltratados, por gente de sanidade mental perigosa.

O fenómeno do abandono de animais não só continua como tem vindo a aumentar entre nós e não se vislumbra que tal situação se inverta. Infelizmente. Basta olhar e “querermos ver” para saber que existem entre nós muitos animais abandonados. E nós, seres humanos, somos responsáveis, porque foi o Homem que os domesticou, colocando-os “à sua guarda”, à sua responsabilidade, já que eles viviam muito bem no estado selvagem.

Cada um de nós pode, e deve, ajudar a mudar esta realidade. Basta um pequeno esforço e alguma boa vontade, acolhendo um animal nos seus lares, temporária ou definitivamente, dando-lhe condições de vida dignas. E, estejamos descansados, eles não são seres humanos. Como tal, não são ingratos, não traem, e retribuem toda a dedicação e carinho que lhe dermos.

A boa notícia é que um grupo de lousadenses se tem reunido e está a arrancar com uma associação cujo objetivo é, essencialmente, cuidar e promover a adopção desses animais. Cada um de nós pode participar no projeto, contribuir das mais diversas formas, mesmo que só ajude um único animal. Já faz a diferença, apesar de sabermos que, todos os que colocam entre as suas preocupações a defesa e proteção dos animais são olhados por vezes com algum desdém e criticados como se fossem uns “coitadinhos” que não têm mais nada que fazer. A esses, que não têm ideia do grande mal que fazem por essa maldita necessidade de falar, basta ignorá-los. “Coitadinhos” são eles porque, para além de não serem capazes de fazer nada em prol dos animais (e, parece-me, de quem quer que seja), vivem para a maledicência.

Porque acredito na nobreza do projeto, faço um apelo aos lousadenses, e não só, para que se inscrevam no movimento pois todos seremos poucos para combater este flagelo da sociedade. Contamos consigo e… os animais agradecem.

E se quer ter a certeza, veja quantas coisas lhe diz o olhar de um animal agradecido!!! É muito, mas muito mais expressivo do que um imenso rol de lindas palavras…

Para se inscrever ou colher informações, telefone para 917123649, 964024908 ou 912568785.

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