Orgulhosos de nós, não dos “chefes”…

Sabe-se que o ser humano é um produto dos genes e do meio em que é criado e eu reconheço-me como tal. Entre outras coisas, sou português, para o bem e para o mal, com tudo o que isso implica.

Entre as características de um (bom?) português, está o gostar de bacalhau, vinho e futebol, de ser refilão e derrotista, aquele hábito de dizer mal de tudo o que é nacional e, especialmente, de dar destaque a coisas menos boas como se elas fossem tudo o que nos identifica e não tivéssemos nada digno de realce. Houve momentos em que que não consegui libertar-me dessa influência e afinei pelo mesmo diapasão, erradamente.

Seja em que sector for, da justiça ao futebol, da agricultura à saúde, da cultura à cidadania, perante algo que não correu bem, lá vem o velho refrão: “Vê-se bem, é português” ou “já estamos em Portugal”, para não falar de outros bem menos simpáticos. E esta cultura do “bota abaixo” acaba por se virar contra nós próprios porque, ao dizermos mal do país e de tudo o que é português, estamos a dizer mal de nós próprios.

Nós somos nós e não outros. Somos pobres, quase tão pobres como antes de deixarmos a nossa “pegada” cultural e civilizacional pelo mundo, em povo, cultura, monumentos, língua, missão civilizadora. Mas temos imensas riquezas que tantas vezes não sabemos ver nem valorizar e de que só damos por elas, normalmente, quando estamos lá fora, longe, bem longe, tão longe que só a memória e o coração conseguem alcançar. Que o digam os emigrantes…

A modéstia e a humanidade, tão rara nos dias de hoje, o saber receber e dar atenção ao outro, o sol, a segurança e a paz, a fé num estado de direito, na liberdade, na igualdade.

Olhemos a floresta e não a árvore para nos apercebermos como é valioso e raro este cantinho à beira mar plantado, uma varanda privilegiada, tão privilegiada que até tem vistas para o mar, apesar de tudo, um canto sossegado neste mundo em guerras e convulsões permanentes, um oásis de sol, de paisagens, de produtos, de gastronomia e folclore, uma imensa praia com quase mil quilómetros de comprimento.

Ao que parece, há uma coisa que não temos: Dinheiro. Esses papelinhos mágicos que dão importância a países e a pessoas, que elevam a moral e a arrogância, alimentam o sonho e a ilusão, pelos quais se esquecem princípios e valores, se trai e se mata. Mas serão mais “paraísos” os que têm muito, como os países árabes (só pelo facto de, por acidente, nascerem sentados sobre “barris de petróleo”), onde as mulheres são “coisas”, onde a política é comandada pela religião, onde se criaram autênticas legiões de novos escravos sem quaisquer direitos e onde o fanatismo escraviza mentes?

Por alguma razão somos um dos cinco países mais antigos do mundo – estamos quase a completar novecentos anos de existência – e somos o país que tem a mesma fronteira há mais tempo, tempo esse feito de história, de uma grande história escrita com sangue, suor e lágrimas de homens corajoso, aventureiros, destemidos, reais, que fizeram coisas só comparáveis às histórias de ficção ou dos super heróis dos livros de banda desenhada.

O que é que tem de corajoso a ida ao espaço ou à Lua, depois de enviar lá várias naves não tripuladas e até uma cadela, testando máquinas, procurando soluções técnicas antes de enviar pessoas, em comparação com encher uma “casca de noz” feita nau, com  homens de verdade, dar-lhes mantimentos básicos para uns quantos dias e lançá-los a um mar desconhecido rumo ao imprevisto e à aventura, sem telefones, telemóveis ou qualquer outro meio de comunicação, sem mapas nem GPS, sem apoios de espécie alguma, sem qualquer noção daquilo que poderiam encontrar?

Se pararmos um pouco para refletir sobre a dimensão da aventura desses portugueses ficaremos muito aquém da realidade tal é o nosso distanciamento em meios de transporte e tecnológicos, em condições alimentares, higiénicas, sanitárias e de cuidados de saúde, em relação aos que existiam naquele tempo.

Mas a verdade é que “ELES” chegaram à Madeira, aos Açores, à Guiné, a Angola, a Moçambique, ao Brasil, à Índia e a Timor, para além de milhares de outros lugares de que a história nem fala, e fizeram de Portugal um país grandioso que passou a ser motivo de glória e muito mais… de inveja. Só faltou a este país encontrar dirigentes que fossem dignos continuadores da obra que “ELES” nos legaram… mas não tivemos, nem na monarquia nem na república.

Seria bom que deixássemos de nos lamentar como sempre o fazemos e usássemos tais energias para seguir em frente, valorizando tudo aquilo que pode e deve ser valorizado, em nós enquanto país.

Se na realidade não temos aquelas coisas que fazem com que os povos sejam (quase sempre) ricos, como o petróleo, o gás e outras matérias primas, em contrapartida tivemos uma grande abundância de políticos que nos prometeram “colocar o país no pelotão da frente”, fazer de Portugal “um país cor de rosa”, “um mundo de maravilhas” e “que íamos viver muito bem”. E não é que tinham razão!!!???

Os que prometeram isso, praticamente todos, ficaram mesmo a viver maravilhosamente bem… desde que se meteram na política. Só se esqueceram de um pequeno pormenor: De nos porem a viver tão bem como eles…

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