É dos carecas que elas gostam mais?

Foi como se caísse uma bomba quando me disseram que o meu cabelo estava a cair. Fiquei em estado de choque, não queria acreditar: “Vou ficar careca?”, interrogava-me desesperado, tentando imaginar-me com a cabeça sem pelos ainda longe dos trinta anos. Não era fácil “engolir”. Cheguei a casa e “plantei-me” diante do espelho a espiolhar a cabeleira, quase a contar os pelos um a um para ver os que faltavam, mas não cheguei a conclusões. Mais avisado, passei a olhar o ralo do chuveiro e percebi então que eram muitos os “despojos” no final do banho. Como não existiam grandes soluções para a queda de cabelo nem dinheiro para as implementar, recorri aos remédios caseiros. Experimentei lavar a cabeça com petróleo porque, diziam, os trabalhadores das petrolíferas tinham cabelos fortes. Mas foi um fiasco. Recomendaram-me então esfregar o cabelo com ovo batido, com infusão de urtigas e outras receitas caseiras e o resultado foi o mesmo. Até que um dia me aconselharam um dermatologista conceituado, embora de idade avançada. Inspecionou-me a cabeleira e a cabeça com uma lupa, fez-me algumas perguntas sobre a família e deu a sentença: “Vais ficar careca e não acredites em mezinhas porque não te safas”. Com estas palavras fui “desenganado” e mentalizado que, mais dia menos dia, seria careca. O bom resultado desta consulta foi que, a partir daí, encarei como natural a queda do meu cabelo. Para tal, também cheguei a pensar que talvez nem fosse tão mau assim porque podia ficar como o Yul Brynner, um famoso ator de cinema dessa época, careca, que fugia ao padrão dos “bem penteadinhos” de Hollyood. E cá estou eu, careca como ele mas sem a sua fama (e proveito)…

A queda do cabelo é algo quase só reservado aos homens e, por isso, aconselham-se os mais jovens para não gozarem com a careca do vizinho que o seu mal vem pelo caminho. É só uma questão de tempo. A culpa, dizem, é das malditas hormonas masculinas…

Claro que hoje, mal se deteta a falta de duas dúzias de cabelos, vai-se logo a correr aos muitos especialistas na matéria, de onde se sai carregado com shampôs milagrosos e mais umas loções, regra geral caras e mal cheirosas. Às vezes, até parece retardarem a calvície mas, quem tem de ficar careca… fica mesmo e não há santo que lhe valha.

Para aqueles que têm dificuldade em assumir o novo visual, seja com “entradas” ou com uma “coroa”, existem múltiplas soluções desde o tradicional “capachinho” aos “implantes”, numa gama variada de modelos e técnicas de fixação que “disfarçam o melão” e até dão garantia de resistirem à ventania…

A muitos anos de distância pergunto se a minha aceitação “pacífica” do veredicto dado pelo médico teve alguma coisa a ver com a teoria de que “é dos carecas que elas gostam mais”. Como é sabido, nós homens temos sempre o sonho de agradar às mulheres e, como eu não fujo à regra, posso ter considerado que o ser careca seria uma “mais valia” para que esse desejo se concretizasse, como que um “cartão dourado” com direito a prémio. No entanto, depois de muitos anos a “exibir-me por aí” e a dar cada vez mais realce à careca (apesar de nunca a ter “engraxado” nem lhe “ter puxado o lustro”), de a aumentar ano a ano para “ganhar importância”, nunca “colhi frutos” dessa teoria nem senti que fosse a tal “mais valia” para agradar às mulheres. Pelo menos, nunca nenhuma o manifestou…. E andava eu a pensar que com a careca iria “arrasar”!!! Estou desiludido e frustrado, tendo-me já fartado de chorar… Vou até apresentar reclamação contra o autor do slogan, quem sabe, exigir uma indeminização gorda por me criar espectativas falsas… Pelo contrário, a cabeça com pouco cabelo só é motivo de destaque por razões menos simpáticas, como quando ouvimos “oh careca, sai da frente que não me deixas ver o filme…” ou outras do género. Nas pesquizas que fiz sobre a matéria encontrei fundamentos económicos para elas preferirem os carecas: É que estes poupam muito dinheiro em produtos para o cabelo e, assim sendo, quanto menos eles gastam mais sobra para elas…

Quando se fala de carecas, alguns “colegas de visual” usam a desculpa de que “o cérebro é mais importante que o cabelo” e chegam a citar estudos onde se conclui que os homens “descabelados” são tidos como mais dominadores e mais masculinos do que os cabeludos. Sendo mais confiantes, também se diz que têm mais testosterona e, consequentemente, um melhor “desempenho”. Será? Se isto se vier a confirmar, acho que os homens passam a ter um dilema sério pois estarão divididos entre serem bonitinhos com uma farta cabeleira ou carecas “despenteados” mas com “qualidades extra” para a “função”.

Para aqueles que acabam de descobrir que a “floresta capilar” que têm no alto da cabeça está a ser dizimada a uma velocidade mais acelerada do que seria habitual, que a vai transformar num “campo de aviação”, numa “praça de touros” ou até mesmo num “deserto sem vegetação”, o meu conselho é de que não desanimem, nada está perdido. O aviso é de que não terão desconto no barbeiro – o que não se compreende – mas serão muito mais despachados em frente ao espelho. Ficarão mais bonitos… de chapéu. E devem viver felizes, com a esperança de que se cumpra o adágio popular de que “é dos carecas que elas gostam mais”…

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