Na sua homilia, o padre celebrante contou uma experiência pessoal que acabara de viver e que o tocara muito. Ao acompanhar o grupo de catequese de uma das suas paróquias viu um menino afastado e, estranhando o facto, aproximou-se e perguntou-lhe o que se passava. O menino respondeu que estava triste. O senhor padre quis saber porquê e ele respondeu-lhe: “Porque a Daniela (colega de catequese) não está”. Foi a atenção dada pelo menino à não presença da sua companheira de catequese e ao seu sentimento de tristeza gerado por isso, que tocou o senhor padre. Ali estava uma criança a valorizar o que nós muitas vezes esquecemos de valorizar: a presença das pessoas de quem gostamos.
A tecnologia e redes sociais dão-nos uma falsa sensação de presença, pois é possível acompanhar a vida de centenas de amigos, colegas, conhecidos do Facebook, Instagram e participar em conversas no WhatsApp. Por isso, temos a sensação de estarmos satisfeitos. Mas será mesmo assim? Até parecemos aquele chato que nos diz que ver um espetáculo na televisão é a mesma coisa que assistir ao vivo! Todos sabem que não é verdade. Dizem que a tecnologia aproximou os distantes e distanciou os próximos, uma realidade. Agora é muito fácil falar com alguém que está do outro lado do mundo (e eu sei bem disso por experiência própria), o que é bom. Mas na verdade, a maior parte das pessoas com quem mantemos contacto no dia a dia estão bem perto, tantas vezes tão perto que era possível falar com elas cara a cara, na sua presença e não estar a falar sozinho para um pequeno aparelho, quando não a falar “para o boneco” com um apetrecho enfiado em cada ouvido. Se alguma coisa positiva teve a quarentena imposta pela pandemia, foi fazer-nos perceber claramente que nos faz falta estar junto, na presença das pessoas. E isso quer dizer estar com elas, poder tocar-lhes, encostar, abraçar e beijar. Porque o “falar à distância” não tem nada, mesmo nada a ver com o estar presente. Mas a tecnologia fez com que tenhamos negligenciado a necessidade dessa presença, levando-nos a trocar um benefício por um prejuízo. Quem acreditar que, “para estar junto não precisa de estar perto”, está errado. Sabemos que nem sempre é possível, mas esse tem de ser o desejo e o objetivo principal nas nossas vidas. Porque não há videochamada que substitua o olho no olho, nem emoji que substitua o abraço. A tecnologia tem coisas boas e facilitou as nossas vidas, mas só serve para ajudar. Vendo bem, ao dizermos “vamos almoçar” ou “encontramo-nos em casa, no café ou na rua” é que está certo. Todos nós sabemos disso, mas esquecemos depressa. E não podemos ficar à espera de uma nova pandemia para nos lembrar de novo o valor da “presença”.
Estar presente faz toda a diferença, porque é um sinal de prioridade e a forma de estar e sentir. Relações requerem comprometimento e sacrifício para gerar confiança. Mandar um e-mail não é o mesmo que estar no velório e dar os parabéns pelo telefone não é a mesma coisa que estar na fotografia atrás do bolo com o aniversariante. Presença é uma grande demonstração de amizade ou amor, porque através dela oferecemos algo muito valioso: Tempo.
É sabido que muitas vezes não damos o devido valor ao que temos e só nos damos conta disso quando deixamos de o ter. E nisso incluem-se as pessoas de quem gostamos, porque no corre, corre da vida, nós damos a sua presença como adquirida e garantida. E estamos muito enganados.
Ao olhar para trás é esse sentimento que me ficou em relação à Luísa, antes e mesmo depois de adoecer. Acredito que não soube usufruir da sua presença tanto quanto podia e devia. Apesar de tudo, nos últimos anos aproveitei a sua presença sempre que pude, mesmo quando não havia nada para dizer pela sua dificuldade em comunicar. Mas até nos seus silêncios os abraços diziam-me muito e um simples “obrigado” que ela usava frequentemente sempre que a ajudava em qualquer pequena tarefa, quando não acompanhado de um sorriso, enchiam-me a alma. E, apesar de condicionada pela doença e todas as suas limitações, mentiria se dissesse que hoje não sinto muito a falta da sua presença cá em casa, aquilo que eu dava por adquirido, mas que, afinal, não era. No meu consciente, jamais achei que a perderia. Num tempo em que jovens e menos jovens privilegiam o contacto com os outros através das redes sociais em prejuízo do cara a cara, em que mesmo quando estão juntos fisicamente comunicam entre si pelos meios virtuais como que ausentes de quem está presente, a “presença” completa do corpo e espírito de uns para os outros, isso de olhar olhos nos olhos e ver o brilho de um sentimento, é um valor que nunca podemos deixar cair, sem correr o risco de deixar de ser humanos …