Já há muito tempo deixei de ter discussões ou debates com certo tipo de pessoas porque nem toda a discussão vale a pena. É que há uma grande diferença entre uma discussão saudável e um debate inútil. Com o tempo fui chegando à conclusão que só vale a pena alimentar uma conversa com alguém que tenha uma mentalidade suficiente para compreender que podemos ter perspetivas e opiniões diferentes, pois, caso contrário, não faz o menor sentido. É que, às vezes, não interessa se nos estamos a expressar com clareza ou não, se de facto a outra pessoa não está a ouvir para entender o nosso ponto de vista, mas somente para reagir, porque está presa às suas convicções pessoais e certezas ainda que tenham sido adquiridas nas conversas “informadas” das redes sociais, que considera serem as únicas, as verdadeiras. Os outros estão sempre errados. Conversar com alguém de mente aberta é agradável, ajuda-nos a compreender melhor as questões ouvindo outros conceitos e perspetivas, mesmo que não estejamos de acordo, num debate tranquilo e saudável. Mas tentar argumentar com alguém que se recusa a enxergar para além do nariz e das próprias crenças, é como falar com uma parede e só dá para a gente se cansar e chatear. E não importa que se use a lógica e a verdade porque ele vai distorcê-las, ignorará as nossas palavras, não porque estejamos errados, mas porque não está disposto a ver o outro lado, a analisar o outro ponto de vista. Por isso, evitar estas discussões não se trata de saber quem as vence, mas de perceber quando uma discussão não vale a pena. E trata.se de entender que a nossa paz é mais importante do que provar um ponto de vista a alguém radicalizado nas suas convicções. Daí que, nem todas as batalhas precisam de ser travadas e nem todas as pessoas merecem a nossa explicação.
Tomemos consciência de como nos definimos a nós mesmos e como defendemos o nosso “território pessoal”. Por exemplo, considera-se de esquerda ou direita? E como defende a sua postura política? Já reparou como se “apossa” de uma mesa no café, de um lugar de estacionamento ou um lugar no autocarro? E como reage quando alguém lhe “ocupa o que considera seu”? Fica irritado e chateado? Nesse momento, como se define ao defender o seu “território pessoal”? Se pensar bem nisso, vai descobrir que está constantemente a definir um certo espaço físico específico como sendo seu, seja uma cadeira na sala, um lugar no sofá, a prateleira de um armário ou até um lugar no chão para a aula de ginástica. É que, para onde vá, o ser humano tem o hábito de fazer um ninho seguro e de defendê-lo. Também nos definimos pela posse de muitos bens e que muitas vezes até achamos que precisamos para nos completar e nos fazer felizes. Pode ser um carro, uma casa, um curso universitário, o reconhecimento público. E se não podemos ter aquilo que instigamos o nosso coração a querer, ficamos infelizes. Isso também nos define através daquilo que conseguimos ter e manter. Definimo-nos ainda pelas nossas posses intelectuais, exibindo o nosso conhecimento e defendendo vigorosamente os nossos pontos de vista, certos ou errados, mas que são nossos. E pensamos: “As minhas opiniões e convicções sobre este assunto é que estão certas. Vou argumentar até os convencer!” Ora, isso é extraordinariamente divertido se considerarmos que, num grupo de 30 pessoas, há 29 opiniões além da nossa. E então, porque será que temos de considerar que a nossa opinião é a única certa? Assim, quando nos apercebemos que a nossa opinião está a ser contrariada, tantas vezes desmontada, somos tomados pela irritação, quando não a raiva, indícios de que estamos a defender o nosso “território pessoal”, no fundo, no fundo, o nosso “Eu”. A raiva surge quando achamos que, para ser felizes, precisamos de nos livrar de algo ou de alguém. Pode ser um político, uma dor ou uma doença, um chefe ou um colega de trabalho desagradável, um vizinho irritante ou até um cachorro que não para de ladrar. Se não nos podemos livrar deles ficamos infelizes. E pergunta: “Porque é que o mundo não colabora para o que eu quero aconteça”? Novamente, isso é surpreendente e divertido. Por que razão as coisas deveriam acontecer do jeito que eu quero e não da maneira desejada pelos outros biliões de habitantes deste planeta?
Hoje, as redes sociais deram a (quase) toda a gente opinião “informada, avalizada e especializada” que lhes confere autoridade moral para não ouvir o que o outro tem para dizer, numa conversa que deveria ser civilizada e saudável. Vive-se muito em bolhas de informação, sejam elas políticas, futebolísticas ou outras, onde a “verdade” que circula é aquela que os “crentes” querem ouvir. Por isso, para as suas mentes, tudo o que vem de fora dessa bolha não é credível, não merece ser ouvido. E não ouvem mesmo, por mais alto que a verdade os atinja na cara …