Um pedido: COntinua essa nobre missão!

No centro de Lousada junto às bombas da Repsol, um carro travou e parou, fazendo parar os carros que o precediam. O condutor abriu o vidro da janela, pôs o braço de fora com uma gata na mão e, para surpresa de quem via, jogou-a para a frente do seu carro e arrancou em grande velocidade, passando-lhe por cima ante a incredibilidade de quem via . Por mero acaso, num dos carros da fila havia uma voluntária da Associação Lousada Animal que saiu em socorro da gata, percebendo que ainda estava viva e que, além de ferida, estava muito doente e débil, tendo-a levado de imediato para uma das clínicas com quem a Associação tem parceria.  O seu estado era tal que, antes de a operar, tiveram de a tratar primeiro da doença para poder aguentar a cirurgia, tendo conseguido salvar-lhe a vida. Depois de curada fisicamente, foi parar a casa da Teresa, uma fundadora, dirigente e voluntária das mais ativas da Associação, como “família de acolhimento”, para completar a recuperação em resultado do trauma sofrido. A convalescença foi excelente e a gata ao fim de algum tempo já deixava a Teresa pegá-la ao colo, acariciá-la, brincar com ela e até ronronava de satisfação. 

Um dia, ao abrir a porta do jardim pela manhã, a gata aproveitou e fugiu para o exterior que não conhecia por estar confinada dentro de casa. Teresa foi logo atrás dela, mas a gata foi-lhe escapando até a conseguir agarrar em cima do muro. Mas, ao dirigir-se para casa, ela esperneou e quando Teresa a poisou no solo, foi atacada pela gata, esgadanhando-a com as patas e mordendo onde podia. Só ao fim de algum tempo, com auxílio de uma rede e depois de muitos arranhões nos braços e mãos e várias mordidas nos dedos, é que conseguiu levá-la, mas com braços e mãos a sangrar. Ao fim do dia a sua mão direita, em especial o indicador, tinha sinais evidentes de infeção, o que a fez deslocar-se a um Centro de Saúde para ser observada e tratada com antibiótico para combater a infeção. Aí começou um longo calvário ao longo de vários meses que a fez passar por um médico que, depois de lhe lancetar o dedo infetado para retirar todo o pus e tratar, a aconselhou a ser vista por um cirurgião ortopédico, o que viria a acontecer, tendo-a ele operado sob fortes reservas pois, à partida, ia com a intenção de lhe amputar o dedo. Depois de várias semanas com a mão empalada, 2 ferros enfiados no interior, da ponta do dedo à base, de mais de 60 dias a antibiótico e muitas dores, com recuperação longa a necessitar de fisioterapia e a certeza que as duas falanges do indicador ficarão unidas para sempre sem capacidade de flexão, Teresa não sabe quais as consequências finais de todo este incidente, físicas e psicológicas, com uma gata que não era sua, mas por quem lutou e tudo fez para salvar e recuperar plenamente.

A partir do momento do incidente, Teresa passou de maior amiga a maior inimiga da gata Camila, numa regressão enorme do processo de recuperação e em função do avivar de traumas passados. Mas não desistiu dela e continuou a fazer tudo para a recuperar e encontrar a pessoa adequada para a adotar, tendo conseguido escolher alguém que desde o início se interessou pela sua história e pelo drama de mais um animal doméstico agredido nos seus direitos, nas palavras da Teresa “a pessoa certa para a cuidar e compensar do que sofreu pela maldade humana”.

Teresa tem sido excecional na sua dedicação à defesa dos animais e, já agora para os críticos destas pessoas, à defesa e ajuda de pessoas em situação difícil, tendo participado com outros voluntários no salvamento, recuperação e adoção de centenas de animais nestes cerca de 10 anos de Associação o que, para quem tem recursos muito escassos porque vive de donativos, é obra digna de ser respeitada e elogiada. E a ela cabe uma boa quota de trabalho e responsabilidade por esse sucesso. No entanto, as consequências do incidente para a Teresa foram enormes. Uma das mordidas da gata perfurou a cápsula da articulação e infetou-a de tal forma que um dos ortopedistas não acreditava que fosse possível salvar-lhe o dedo que já parecia estar a gangrenar. Em consequência do uso de tantos antibióticos, as unhas tendem a descolar e deverão acabar por sair. Depois de muitos meses de recuperação física, não se sabe como vai reagir emocionalmente e quais as consequências psicológicas pelo sofrimento e limitações com que ficou provocadas involuntariamente por um animal que ajudou a salvar. 

Quando penso no que aconteceu à Teresa e ao saber que todo o seu sofrimento físico e psicológico a tem feito pensar abandonar a Associação e essa nobre missão a que se tem dedicado com alma, coração, muito empenho e sucesso, fico a pensar que, para contrabalançar, seria suficiente que ela colocasse no outro prato da balança a alegria e satisfação pessoal que certamente teve ao longo destes anos por cada um dos muitos casos bem-sucedidos e que resultaram na salvação, adoção e bem-estar de tantos animais, algo que não tem preço e justifica, só por si, todos os sacrifícios. E ao pensar que muitos desses animais, para além de abandonados pelos donos, foram criminosa e violentamente mal tratados, muitos deles de forma selvagem como o foi a gata Camila desta história verídica, não só foram recuperados, como tiveram um final feliz ao ser adotados por uma família selecionada, que lhes deu um lar e a conhecer o lado bom dos seres humanos, peço a Deus e a todos aqueles que conhecem o seu trabalho voluntário, que não a deixem desistir dessa nobre missão de salvar animais. Porque se soubermos cuidar deles, dão-nos mais do que recebem … 

Da ”besta” que conduzia o automóvel nada mais se soube, mas de uma coisa tenho a certeza: é um animal muito mais irracional do que a gata que quis matar na via pública, num miserável espetáculo …